segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

domingo, 5 de janeiro de 2025

 Exausto de si mesmo
e do excesso de sentir

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 212
 - Nós somos a queda
   entre o excesso
                           e o nada


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 206

baixando os olhos...

                                 a custo

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 203

I'm Not Everything I Want To Be | Libuše Jarcovjáková


 

Sabe curar poetas
esvaídos

Escuta as paixões
as dores seculares

Os ódios mortais
e os amores malditos


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 200
 Tinha paixões
que sempre rasurava

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 194

O lince da tua boca

 O lince da tua boca
deitado no meu poema
bebe o corpo dos meus versos
devora-lhe a alma acesa

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 190


Libuše Jarcovjáková


 

The Brian Jonestown Massacre - Never, Ever!

Perco-me no fim do mundo

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 184

 Desafio os teus poderes
alcandorados
no medo

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 182
 Te exorcizo lobo
negro
em noites de lua alta

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 182

dá-me tudo o que não arde

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 178

 

senhor de baraço e cutelo
indivíduo que exerce a sua vontade sem restrição

 Depois há as jarras 

com rosas de silêncio


Os gemidos

nas camas


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 174
 « Descer é preciso até ao fundo
na busca das raízes da saliva
que na boca vão misturar tudo»


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 171

Libuše Jarcovjáková


Photographer Brandán Gómez

Assistolia

''Assistolia é a ausência ou baixa frequência de atividade elétrica do coração, que pode levar à morte clínica.''

 atropina

adrenalina

epinefrina

amiodarona 

 «(...), quando sofremos a perda de alguém, também sofremos, para o melhor e o pior, a perda de nós mesmos. A perda daquilo que éramos. E que não somos mais. E que um dia não seremos de todo.»

Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 152

 Time is the school in which we learn, / Time is the fire in which we burn.

«O tempo é a escola onde aprendemos, / O tempo é o fogo onde ardemos.»


Delmore Schwartz


                                     Delmore Schwartz, American poet and short story writer. 

The World Is a Wedding

Delmore Schwartz

Luto e Melancolia

 como « um apego ao objecto através de uma psicose alucinatória do desejo»

Freud

 «Um pequeno pássaro cairá do ramo, gelado e morto, sem nunca ter sentido pena de si mesmo.»

Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 148

 Nunca vi um animal selvagem com pena de si mesmo, escreveu D.H.Lawrence

 17.

A dor da perda acaba por ser um lugar que nenhum de nós conhece até o alcançarmos. Antecipamos (sabemos) que alguém que nos é próximo pode morrer, mas não olhamos além dos poucos dias ou semanas que se seguem imediatamente à morte. Interpretamos erradamente a natureza desses poucos dias ou semanas. Podemos esperar , caso a morte seja súbita, um sentimento de choque. Mas não esperamos que esse choque seja eliminador, que desloque o corpo e a mente. Podemos esperar a prostração, ficar inconsoláveis, enlouquecidos pela perda. Não esperamos ficar literalmente loucos ou ser a «mulher calma» que acredita que o marido está prestes a regressar  dos mortos e que precisa dos seus sapatos.»


Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 145

 « Será que as mães tentam sempre impingir às filhas itinerárias que sonham para si mesmas?»

Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 138

 «Lembro-me de dormir até depois do meio-dia, infeliz, (...)»

Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 138

Ma Rainey - "Jealous Hearted Blues" 1924



                    Tóquio, c. 1971 (Foto: Daido Moriyama/Daido Moriyama Photo Foundation)

 Homilia do cardeal Tolentino de Mendonça, na missa de corpo presente de Adília Lopes, na capela do Rato, 2 janeiro

Queridos irmãs e irmãos,
Talvez os nossos ouvidos já se tenham habituado, com estes dois mil anos de leitura, pois ouvimos esta página do Evangelho de São Lucas [capítulo 2] e consideramos que ela é normal, quer do ponto de vista narrativo, quer da escolha e construção das personagens ou do modo de apresentar a história. Talvez nos pareça que tudo está correto. E, contudo, este texto como que opera uma viragem brusca, uma rutura na forma de contar, isto é, na maneira de ver, de experimentar e de organizar o mundo.
O filólogo Erich Auerbach, comparando a tradição literária clássica com a tradição bíblica, sublinha que há uma diferença fundamental entre ambas, no sentido de que os textos bíblicos rompem com os cânones clássicos, escolhendo uma linha que hoje diríamos de secularização e de democratização da narrativa. O cânone clássico desenvolve-se fundamentalmente em torno a determinadas elites sociais. A existência dos homens e das mulheres representada na literatura clássica é aquela socialmente ou politicamente qualificada. Os desqualificados da história, aqueles que não têm vez nem voz no percurso do tempo, raramente aparecem como protagonistas. A tradição hebraica faz o contrário: encontramos como protagonistas, cantores e cantoras da história, personagens absolutamente improváveis. E que esta página do Evangelho adote para a narração o ponto de vista dos pastores – que eram anónimos e tidos como massa impura, gente que não contava para nada – constitui uma reviravolta. Narrar a história desse ponto de vista é uma revolução. Representa a emergência de um quadro de civilização novo. A audácia de ver as coisas ao contrário e antecipar um mundo completamente diferente.
A tradição bíblica fez isso. E os grandes criadores, ao longo da inteira história, fazem isso… Hoje já muitos ouvidos se habituaram ao modo de escrever de Adília Lopes. Mas a estranheza que se mantém é porque ela realiza uma deslocação, um gesto disruptivo: constrói o poema a partir de pontos de vista que, política ou culturalmente, temos como secundários, sem interesse, banais, impuros, absolutamente de descartar… Conta, por exemplo, uma casa a partir da osga que está na parede! Conta a história a partir da mulher a dias! Ou narra história a partir da mulher, do que as mulheres vivem, do que experimentam! Trata-se de uma grande transformação!
Aos poetas, o que é que nós devemos? Claro, a Língua deve-lhes tanto: tantos achados de linguagem, uma música que antes não se ouvia (e que Adília colheu e mostrou), uma dimensão de brincadeira e de emaravilhamento. Porém, dizermos que um poeta interessa à Literatura é uma coisa de fazer chorar as pedras… pois um poeta interessa à cidade. Como Adília afirmou, a minha poesia é política – toda a grande poesia é política. Adília Lopes interessa à cidade, é um manifesto exposto à cidade. Ela ajuda-nos a pensar, a ver. Se a poesia dela é tão desintegrada em relação ao sistema cultural vigente, é porque precisamente ela trabalhou outro modo de ver…
E fez isso à sua maneira, escolhendo como divisa o pouco de São Francisco de Assis – e, como ela explica no prefácio ao livro A Mulher-a-dias, do pouco, quis o pouco… Essa espécie de elogio da frugalidade, da sobriedade com que ela viveu sempre – sempre – é um manifesto, uma maneira de dizer o mundo com outra gramática, indicando paradigmas sociais muito diferentes…
Caminhamos para um futuro onde perceberemos, porventura melhor, a escassez dos modelos de expansão, de crescimento contínuo. O futuro dará mais valor à sobriedade. E considerará como profetas aqueles e aquelas que viveram assim, com essa austeridade, fazendo brilhar o pouco – e tornando-o um motivo de emaravilhamento e de condivisão.
Do convívio com Adília Lopes, há três coisas que guardo no coração – e penso que partilhadas por alguns dos que estão aqui presentes (os amigos, que eram a família que ela elegeu; e os leitores, que são e serão a sua família natural, por gerações):
Primeiro, a sua capacidade de contemplação. Adília Lopes era uma contemplativa – e com uma capacidade de deter-se sobre a realidade com uma inteligência, que era não só uma inteligência agudíssima, mas também uma inteligência de coração. Adília fazia-nos sentir que há um êxtase que nos é devido. Ela viveu de forma extática – e, quando se está no emaravilhamento, tudo é maravilha! Coisas que eram lixo para as outras pessoas, ela dizia: Não, isto é maravilha! Isto é louvor! É louvor! E, nesse sentido, Adília representa a poesia, porque canta! Ela é a mulher que canta!
Depois, um aspeto que a mim me tocava muito era a forma como ela procurava transformar a sua solidão. A solidão nunca foi para Adília uma forma de rutura com os outros. Ela sentia-se sempre em comunhão com os outros. Era essencialmente comunitária.
Ela normalmente comia sozinha, mas dizia que nunca comia sozinha, porque o ato de comer é sempre social – e Adília tinha uma intensa consciência disso. O ato de viver é sempre social; o ato de respirar é sempre social. Ela viveu essa ligação aos outros de uma forma absolutamente precisa, autêntica, consciente, voluntária – a ponto de dizer: eu sou uma obra dos outros e acreditar nisso…
E gostava de ser estimulada pelos outros, de amparar os outros, de receber e fazer circular o dom na forma extraordinária que era a sua. Insistia em transformar a solidão em comunhão, em fraternidade, em comunidade… mesmo quando não era fácil. Via-se como um ser comunitário e defendia sempre a comunidade. A sua preocupação com a democracia era concreta, interessava-se por coisas que para outros são descartáveis detalhes.
E a terceira coisa que recordo é a sua fé – que talvez seja uma dimensão misteriosa, mas muito presente na sua poesia, na mística do quotidiano que ela vivia… Quando ela dizia que era uma poetisa freira barroca, não é só porque era a San Juana de la Cruz portuguesa (ou não é só porque era uma beguina, e a sua casa era um béguinage do século XXI). Era porque assumia aquilo que o seu verso diz: Há milagres, não há só truques!
E ela sabia que não há só truques, há milagres! E essa fé era ajudava-a a subir a estrada… Aquilo que a fazia caminhar não era só o ar, era a certeza de que há milagres!
Dessa certeza hoje todos somos herdeiros. E por muitos anos (por muitos séculos, esperamos!), mulheres e homens como nós talvez se sintam, não apenas órfãos da Adília Lopes… mas também herdeiros da sua obra e do que ela viu. Do que ela viveu.
Quatro poemas
No final da celebração, o dramaturgo Miguel Castro Caldas leu quatro poemas de Adília Lopes, que se reproduzem a seguir. Todos estão incluídos em Dobra – Poesia Reunida (edição Assírio & Alvim).

Adília Lopes, poesia, Dobra
Deus é a nossa mulher-a-dias
Deus é a nossa
mulher-a-dias
que nos dá prendas
que deitamos fora
como a vida
porque achamos
que não presta
Deus é a nossa
mulher-a-dias
que nos dá prendas
que deitamos fora
como a fé
porque achamos
que é pirosa
O tempo é sagrado
O tempo
é sagrado
O tempo
é templo
Textos ensanguentados
Textos
ensanguentados
como feridas
Gralhas
ensanguentadas
Textos
gelados
como árvores
no Inverno
Textos
como árvores
cortadas
aos bocados
Textos
como lenha
Textos
como linho
Textos
brancos
como a noite
Textos
brancos
como a neve
Textos
sagrados
Textos
bifurcados
como ramos
Textos
unos
como troncos
Nota 4
Se tu amas por causa da beleza, então não me ames!
Ama o Sol que tem cabelos doirados!
Se tu amas por causa da juventude, então não me ames!
Ama a Primavera que fica nova todos os anos!
Se tu amas por causa dos tesouros, então não me ames!
Ama a Mulher do Mar: ela tem muitas pérolas claras!
Se tu amas por causa da inteligência, então não me ames!
Ama Isaac Newton: ele escreveu os Princípios Matemáticos da Filosofia Natural!
Mas se tu amas por causa do amor, então sim, ama-me!
Ama-me sempre: amo-te para sempre!

 “Sou uma mulher extremamente anti-social, prefiro ter a atenção de um homem brilhante, do que a de uma horda de imbecis. ”

Actriz Mexicana, María Félix



A Campânula de Vidro

Bind Man

''visões dos perigos domésticos''

Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 129

 856.

Poema escrito numa pintura de Hotei.

o saco cheio 
de luas e flores -
é isso que quero

Matsuo Bashô

Memórias de um cão

 Livro de fotografia de Daido Moriyama

 

                                          Daido Moriyama. Kagerou, 1972

Miss June '75

ultramelancólico

lixiviação

desjejuar


 

pindarizar

Sofomaníaco

 ''O termo sofomaníaco refere-se a uma pessoa que acredita possuir mais conhecimento ou sabedoria do que realmente tem. O conceito remete à filosofia grega clássica, particularmente às críticas de Sócrates aos sofistas, que vendiam a aparência de sabedoria sem um conhecimento genuíno. Na contemporaneidade, o sofomaníaco encontra terreno fértil nas redes sociais, onde opiniões ruidosas frequentemente superam argumentos bem embasados.''


na prática: um indivíduo estúpido que se acha extremamente inteligente

autocomiseração

Noite do Meu Inverno

 Livro.

António Barahona

Esta chuva é a mágoa de alguém...

 Alberto de Serpa

Cannons - Shadows

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

''Vozes de crianças, loucas de dor...''

 Mattthew Arnold

''Despertei e senti o sentimento da escuridão, não do dia.''

Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 28

obituário

 

últimos paroxismos
agonia antes da morte

 «A dor, quando chega, não é nada como esperávamos que fosse.»

Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 24


 

autossuficiente e imune ao exterior

´´Brain rot´´

 «(...), pensei no que seria permitido a uma mulher que não estivesse calma. Desabar? Pedir calmantes? Gritar?»


Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 18

''Durante muito tempo, não escrevi mais nada.''

Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 9

 A vida muda rapidamente
A vida muda num instante.
Sentas-te para jantar e a vida, como a conheces, termina.
A questão da autocomiseração.

Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 9


 

Letrux - Flerte Revival

 
DESTINO
 
Não bordo por destino
nem me dobro
 
Não cedo à mão da vida
nem me encubro
 
Não cumpro    não aceito
não me calo
 
Não amo o que é imposto
nem me afundo


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 162

o sonho onde o lince lhe devora a ilharga

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 159

Eu sou esta que nego
e a outra onde me afirmo
faço nela e naquela o meu retrato


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 157

Desacerto o meu limite

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 156

desobedeço e desfaço

 Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 156

E«para tão grande amor é curta a vida»

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 151


 

My Heart's in the Highlands

nem fome demais sentida

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 147

 

Deixa que fale

dos pássaros

a voarem no meu peito

 

Duas lágrimas

Desdobradas

Num mar de sal desfeito


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 147
 
Quem pensou que esta loucura
me passava?


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 143
 
Quem disse
que esta dor te pertencia?


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 142
 Quem disse
que esta ausência de devia?

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 142
 
Tu és a seta
de vício e de veneno

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 141

sábado, 28 de dezembro de 2024

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

 ''How beautiful it is to have a trembling, sensitive, and selective heart?''

Robert Walser, Der Spaziergang (The Walk), 1917

 

a seu talante
a seu bel-prazer

bambúrrio

Gal Costa - Da maior importância

 



Photograph of Dylan and Caitlin Thomas by Nora Summers

CHAMAMENTO

Como podes tirar de mim
o chamamento
um minuto que seja
apagares a chama?

Por ti eu tiro tudo
o enrodilho
queimando tudo depois à cabeceira.

Devagar convoco a tempestade aberta
e no meu peito
o coração tropeça

E não há nada que eu queira
imaginar
que entre nós depois
não aconteça


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 139

 CAPITU: É preciso ter tudo em ordem, tudo em ordem sempre. Sobretudo não procrastinar. Sempre que procrastinei, me arrependi.

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999 p. 21

 “I know we're not saints or virgins or lunatics; we know all the lust and lavatory jokes, and most of the dirty people; we can catch buses and count our change and cross the roads and talk real sentences. But our innocence goes awfully deep, and our discreditable secret is that we don't know anything at all, and our horrid inner secret is that we don't care that we don't.”


Dylan Thomas

mordacidade



"Quero nada querer para me querer a mim
tão mais ao alto
para chegar sempre no preciso instante em
que caem as pontes
Onde estão os Poetas que morrem a cada verso?
Hei-de morrer como um todo, nunca por partes.
Mas antes quero o amanhecer na boca e a
Humanidade limpa
Antes, quero caminhar erguida como uma
árvore cheia de pássaros
Antes, quero amar,
se possível em ricochete."

 

Yasujiro Ozu Cinematography

I Had a Talk with My Woman

BRASA

 Deito-me no tojo
da paixão desavinda

Em brasa ardendo
até ao fim
                            da vida.

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 136

Quem escuta a sua dor não desatada?

 Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 134

 Que não querendo um coração desfeito
trocou por desapego
o desamor desperto?


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 130

DESORDEM

Tapas os caminhos que vão dar a casa
Cobres os vidros das janelas
Recolhes os cães para a cozinha
Soltas os lobos que saltam as cancelas

Pões guardas atentos espiando no jardim 
Madrastas nas histórias inventadas
Anjos do mal voando sem ter fim
Destróis todas as pistas que nos salvam

Depois secas a água
E deitas fora o pão
Tiras a esperança
Rejeitas a matriz

E quando já só restam os sinais
Convocas devagar os vendavais

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 121



Marianne Faithfull

 quanto é contraditória
esta prisão

que me faz ficar livre no que sinto
e logo envenenada à tua mão


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 120
 Contar quanto dói
a dor no peito


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 119
 descansando as asas
dos teus ombros 
a meu lado
em cima da almofada

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 105
 O vidro do desejo
o vinho dos teus olhos

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 100
 A laranja 
das coxas

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 99


 

Call Me Anything - But Call Me

 É raiva
então ciúme
a tua boca


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 84

que água mais domada e mais amarga

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 82

Ó ódio de bem te querer

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 81

 ''neste vício de enredar
o meu espasmo em teu orgasmo''

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 80

POEMA AO DESEJO

 Empurra a tua espada
no meu ventre
enterra-a devagar até ao cimo

Que eu sinta de ti
a queimadura 
e a tua mordedura nos meus rins

Deixa depois que a tua boca
desça
e me contorne as pernas com doçura

Ó meu amor a tua língua
prende 
aquilo que desprende de loura

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 79
 Existem pedras nas mãos
mas não as uses 
comigo


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 76

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024


"não me convidem para mais nada / se não para a queda do muro que divide / a política e o homem / em dois lobos experimentais / dois lobos famintos domados / pela náusea de uma floresta"


Augusto António Cabrita in Desconstrução

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

16.

Mãe, sinto a clarividência a queimar-me, o fogo de ver como os cegos o miolo das coisas, a violência do mundo de dentro. Chama-me para fora. Só não quero morrer às escuras.

Quinto homem. Quinto dia


Daniel Faria.
 Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 144

15.

Acordo de madrugada sem saber para onde vou. A lua entra-me nos vidros, no quarto, no sangue minguante.


Quinto homem. Quinto dia


Daniel Faria.
 Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 143


KATIA BERESTOVA

 

 13.

Mãe, sinto a carne a tremer. Arrancam-ma. Sou despedaçado por todos os que amo. Sou desmembrado. Tu coses sempre, tu continuas a coser.

Quinto homem. Quinto dia


Daniel Faria.
 Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 141

9.

Sinto os ferros do cérebro oxidando.


Quinto homem. Quinto dia



Daniel Faria.
 Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 137

 11.

Bato à porta do teu quarto mesmo quando sei que não estás. Descobri agora quanto custa aos mendigos, não digo a fome, mas não haver ninguém.

Quarto homem. Quarto dia


Daniel Faria.
 Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 121

«Quem nos dera engolir o que foi dito.»

Daniel Faria. Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 113

 24.

Nunca cumpras todas as promessas. É um modo muito triste de morrer.


Terceiro homem. Terceiro dia


Daniel Faria.
 Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 108

Préludes: La colombe (The Dove)

«Na decisão de nunca mais adoecer sozinho.»


Daniel Faria.
 Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 99

 14.

Sonho com a chaga do peito, a chaga por onde entram os rebanhos. Eu fico longe dele como os arbustos nos penhascos onde a ovelha perdida se tresmalha.

Terceiro homem. Terceiro dia


Daniel Faria.
 Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 98

 2.

Pus o despertador a despertar de hora em hora. De hora em hora vejo a febre. Mantém-se estável. Amanhã levanto-me.
  De três em três horas telefono a um amigo diferente. Normalmente ninguém atende. Às vezes deixo mensagem. Deixo a promessa de ligar de novo. Gosto muito de prometer.

Terceiro homem. Terceiro dia


Daniel Faria.
 Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 86

15.

Ponho a minha mão esquerda diante do espelho. Agora já medito se não há do outro lado outra mão que se possa tocar.

Segundo homem. Segundo dia


Daniel Faria.
 Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 73

 


KATIA BERESTOVA


Visions de l'Amen: No. 1, Amen de la Création

 «Escrevo o ruído dos bichos da madeira como Messiaen a transcrever a melodia dos pássaros.»


Daniel Faria.
 Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 66

« O pensamento pode manter-nos de pé mesmo quando estamos no chão.»


Daniel Faria. Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 64

2. 

Podem cortar-me o coração que eu vivo.


Segundo homem. Segundo dia

Daniel Faria.
 Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 60

 24.

  Nunca atirei a pedra exacta para o lugar certo. E abri feridas em todas as direções.


Daniel Faria. Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 56

É preciso alguém que nos livre da ceguez.

 Daniel Faria. Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 49

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