segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
domingo, 5 de janeiro de 2025
e do excesso de sentir
O lince da tua boca
deitado no meu poema
bebe o corpo dos meus versos
devora-lhe a alma acesa
Perco-me no fim do mundo
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 184
dá-me tudo o que não arde
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 178
Assistolia
«(...), quando sofremos a perda de alguém, também sofremos, para o melhor e o pior, a perda de nós mesmos. A perda daquilo que éramos. E que não somos mais. E que um dia não seremos de todo.»
Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 15217.
A dor da perda acaba por ser um lugar que nenhum de nós conhece até o alcançarmos. Antecipamos (sabemos) que alguém que nos é próximo pode morrer, mas não olhamos além dos poucos dias ou semanas que se seguem imediatamente à morte. Interpretamos erradamente a natureza desses poucos dias ou semanas. Podemos esperar , caso a morte seja súbita, um sentimento de choque. Mas não esperamos que esse choque seja eliminador, que desloque o corpo e a mente. Podemos esperar a prostração, ficar inconsoláveis, enlouquecidos pela perda. Não esperamos ficar literalmente loucos ou ser a «mulher calma» que acredita que o marido está prestes a regressar dos mortos e que precisa dos seus sapatos.»
Homilia do cardeal Tolentino de Mendonça, na missa de corpo presente de Adília Lopes, na capela do Rato, 2 janeiro
''visões dos perigos domésticos''
Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 129
Sofomaníaco
''O termo sofomaníaco refere-se a uma pessoa que acredita possuir mais conhecimento ou sabedoria do que realmente tem. O conceito remete à filosofia grega clássica, particularmente às críticas de Sócrates aos sofistas, que vendiam a aparência de sabedoria sem um conhecimento genuíno. Na contemporaneidade, o sofomaníaco encontra terreno fértil nas redes sociais, onde opiniões ruidosas frequentemente superam argumentos bem embasados.''
na prática: um indivíduo estúpido que se acha extremamente inteligente
quarta-feira, 1 de janeiro de 2025
''Despertei e senti o sentimento da escuridão, não do dia.''
Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 28
''Durante muito tempo, não escrevi mais nada.''
Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 9
o sonho onde o lince lhe devora a ilharga
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 159
Desacerto o meu limite
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 156
desobedeço e desfaço
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 156
E«para tão grande amor é curta a vida»
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 151
nem fome demais sentida
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 147
sábado, 28 de dezembro de 2024
sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
CHAMAMENTO
“I know we're not saints or virgins or lunatics; we know all the lust and lavatory jokes, and most of the dirty people; we can catch buses and count our change and cross the roads and talk real sentences. But our innocence goes awfully deep, and our discreditable secret is that we don't know anything at all, and our horrid inner secret is that we don't care that we don't.”
Dylan Thomas
"Quero nada querer para me querer a mim
tão mais ao alto
para chegar sempre no preciso instante em
que caem as pontes
Onde estão os Poetas que morrem a cada verso?
Hei-de morrer como um todo, nunca por partes.
Mas antes quero o amanhecer na boca e a
Humanidade limpa
Antes, quero caminhar erguida como uma
árvore cheia de pássaros
Antes, quero amar,
se possível em ricochete."
BRASA
da paixão desavinda
Em brasa ardendo
até ao fim
da vida.
Quem escuta a sua dor não desatada?
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 134
DESORDEM
Cobres os vidros das janelas
Recolhes os cães para a cozinha
Soltas os lobos que saltam as cancelas
Pões guardas atentos espiando no jardim
Madrastas nas histórias inventadas
Anjos do mal voando sem ter fim
Destróis todas as pistas que nos salvam
Depois secas a água
E deitas fora o pão
Tiras a esperança
Rejeitas a matriz
E quando já só restam os sinais
Convocas devagar os vendavais
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 121
que água mais domada e mais amarga
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 82
Ó ódio de bem te querer
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 81
POEMA AO DESEJO
no meu ventre
enterra-a devagar até ao cimo
Que eu sinta de ti
a queimadura
e a tua mordedura nos meus rins
Deixa depois que a tua boca
desça
e me contorne as pernas com doçura
Ó meu amor a tua língua
prende
aquilo que desprende de loura
quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
«Quem nos dera engolir o que foi dito.»
Daniel Faria. Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 113
2.
De três em três horas telefono a um amigo diferente. Normalmente ninguém atende. Às vezes deixo mensagem. Deixo a promessa de ligar de novo. Gosto muito de prometer.
Terceiro homem. Terceiro dia
« O pensamento pode manter-nos de pé mesmo quando estamos no chão.»
É preciso alguém que nos livre da ceguez.
Daniel Faria. Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 49