sexta-feira, 28 de março de 2025
Agora escrevo...
Rodasse ou não a roda
Rodasse ou não a roda encabrestada
Do que chamamos desvario atento
Ao apenas lado lacrimal
Da nossa história clínica passada
Um par de hormonas celestiais cruzadas
No interior do calafrio esse
A palavra cortisona calculada
Como te ouvira suspenso por um fio
Último pássaro canto ou desafio?
José Afonso (2022). Obra poética. Lisboa: Relógio D’Água, p. 278
Canção de Outono
Padre António Vieira, Sermão do Espírito Santo.
"Sou composta por urgências, minhas alegrias são intensas, minhas tristezas...'absolutas', me entupo de ausências, me esvazio de excessos, não caibo no estreito, só vivo nos extremos..."
Clarice Lispectorquarta-feira, 26 de março de 2025
terça-feira, 25 de março de 2025
domingo, 23 de março de 2025
fraqueza.
CANÇÃO
Dois lírios gémeos a despontar,
Duas borboletas sobre uma flor:
Felizes os que podem contemplar.
"Agora a morte é diferente,
facilitaram-nos o desespero, a angústia
tem já ar condicionado. Em vez
dos bancos de jardim, por certo demasiado
rudes, temos enfim lugares amplos
onde apodrecer a miséria simples do corpo.
Que incalculável felicidade a de percorrer
galerias de nada tresandando a limpeza
e segurança. Aí se abandonam jovens
rebanhos sentados sorrindo ao
vazio palpável, ou ferozmente no meio
dele. Revezam-se - mas quase diríamos
que são os mesmos ainda, exaustos
de contentamento. Dêmos pois as boas-vindas a esses
heróis do betão consagrado. Só eles nos fazem
acreditar no advento do romantismo cibernético.
É doce a merda que nos sepulta
e o cancro que um dia destes nos matará
há-de ser muito limpo, quase ecológico".
Manuel de Freitas
domingo, 16 de março de 2025
Dá-me a tua mão
Dá-me a tua mão,
prolongue mais a tua
- para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.
Dá-me a tua mão, companheira,
até o Abismo da Ternura
sexta-feira, 14 de março de 2025
A hora dos zorzais
quinta-feira, 13 de março de 2025
marks a buried treasure.
On the path, my father stands.
A beautiful, beautiful day.
The gray poplar blooms,
centifola blooms,
and milky grass,
and behind it, roses climb.
I have never been
more happy than then.
I have never been more
happy than then.
To return is impossible
and to talk about it, forbidden—
how it was filled with bliss,
that heavenly garden."
Arseni Tarkovski
In: "The Mirror" (Andrei Tarkovski)
Mulheres e Revolução
quarta-feira, 12 de março de 2025
terça-feira, 11 de março de 2025
segunda-feira, 10 de março de 2025
domingo, 9 de março de 2025
« Sempre que estou profundamente triste e penso que vou morrer, ou tão nervosa que não consigo adormecer, ou apaixonada por alguém que não irei ver durante uma semana, colapso e digo a mim própria: «Vou tomar um banho quente.»
Sylvia Plath. A Campânula de Vidro. Relógio D'Água. Tradução e Posfácio de Mário Avelar, 2016., p. 26quinta-feira, 6 de março de 2025
quarta-feira, 5 de março de 2025
terça-feira, 4 de março de 2025
“Isto não é um país, é um sítio mal frequentado”
José Cardoso Pires
Poema de Carnaval
Retrato
Lânguido como os Persas,
Entre estrelas e círios
Cristão só nas conversas.
Árabe no sossego,
Africano no ardor;
No corpo, Grego, Grego!
Homem seja onde for.
Romano na ambição,
Oriental no ardil,
Latino na paixão,
Europeu por subtil:
Homem sou, homem só
(Pascal: «nem anjo nem bruto»):
Cristãmente, do pó
Me levanto impoluto.
E a loucura com asas do seu povo.
Terra
Quanto a palavra der, e nada mais.
(…)
Se o mar é fundo e ao fim deixa passar…
Uma antena da Europa a receber
A voz do longe que lhe quer falar…
(…)
Terra nua e tamanha
Que nela coube o Velho-Mundo e o Novo…
Que nela cabem Portugal e a Espanha
E a loucura com asas do seu povo.
Miguel Torga
Não têm pressa o sol e a lua: certos.
Ter pressa é crer que a gente adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não: não tenho pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente onde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não onde penso.
Só me posso sentar onde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras.
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra
cousa,
E somos vadios do nosso corpo.
Alberto Caeiro/Fernando Pessoa
ESTADOS FASCISTAS DA MENTE E A SUA CONDIÇÃO ADESIVA
PODERIA FALAR-TE DO AMOR, ESSA COISA
cinzenta e tenebrosa que faz sorrir
as criancinhas - mas não,
prefiro falar-te dum campo com erva
verde, muita erva muito
verde e com árvores
azuis onde à noite vai morrer
o vento. (...)»
''As flores por vós assim trazidas irão ser sacrificadas.''
Adolfo Luxúria Canibal. No rasto dos duendes eléctricos (Poesia 1978-2018). Porto Editora, 2019., p. 42
É TÃO CURTA A VIDA, MEU AMOR
e tão infinita a morte,
e seios e braços e mãos e ventre e ancas
e vulva e rabo e coxas e pés e sexo e tudo
mas tudo
BELO
No fim, virão os bichos
lagartos
comer-nos!...
Adolfo Luxúria Canibal. No rasto dos duendes eléctricos (Poesia 1978-2018). Porto Editora, 2019., p. 31Eu sou irmão da solidão
e com ela mantenho incestuosa relação.
SANGUE NO ASFALTO
Sangue no asfalto
Envolto em ténues irradiações de pura emoção
EU AMEI-TE...
Algumas horas desse amor estão ainda a arder;
Mas não deixes que isso te faça sofrer,
Não quero que nada te possa inquietar.
O meu amor por ti era um amor desesperado,
Tímido, por vezes, e ciumento por fim.
Tão terna, tão sinceramente te amei,
Que peço a Deus que outro te ame assim.
domingo, 2 de março de 2025
«(...), tive de me consolar a mim própria em pensamento.»
Olga Tokarczuk. Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos. Tradução do polaco Teresa Fernandes Swiatkiewicz. Edição Cavalo de Ferro. 1ª Edição, 2019., p. 11
« Se, naquela noite, tivesse consultado as Efemérides para saber o que se passava no céu, não teria mesmo ido para a cama. Mas, em vez disso, caí num sono profundo, com a ajuda de um chá de lúpulo, que acompanhei com dois comprimidos de valeriana. »
Olga Tokarczuk. Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos. Tradução do polaco Teresa Fernandes Swiatkiewicz. Edição Cavalo de Ferro. 1ª Edição, 2019., p. 5sábado, 1 de março de 2025
domingo, 23 de fevereiro de 2025
''amarelo nicotina''
Sylvia Plath. A Campânula de Vidro. Relógio D'Água. Tradução e Posfácio de Mário Avelar, 2016., p. 12
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025
Thomas Mann, no livro “A Montanha Mágica”
nobody can save you but
O analfabeto político
“Believe me, if you’ve been shut up for a year and a half, it can get to be too much for you sometimes. But feelings can’t be ignored, no matter how unjust or ungrateful they seem. I long to ride a bike, dance, whistle, look at the world, feel young and know that I’m free, and yet I can’t let it show.”
Anne Frank in her diary December 24, 1943
terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
"Há um tipo de tristeza que vem de saber demais, de ver o mundo como ele realmente é. É a tristeza de entender que a vida não é uma grande aventura, mas uma série de pequenos momentos insignificantes, que o amor não é um conto de fadas, mas uma emoção frágil e passageira, que a felicidade não é um estado permanente, mas um vislumbre raro e fugaz de algo que nunca poderemos segurar em cima. E nesse entendimento, há uma profunda solidão, um sentimento de ser separado do mundo, das outras pessoas, de si mesmo. "