domingo, 1 de janeiro de 2012

Virgília


«(...) Virgília deixou-se estar de pé; durante algum tempo ficámos a olhar um para o outro, sem articular palavra. Quem diria? De dois grandes namorados, de duas paixões sem freio, nada mais havia ali, vinte anos depois; havia apenas dois corações murchos, devastados pela vida e saciados dela, não sei se em igual dose, mas enfim saciados. Virgília tinha agora a beleza da velhice, um ar austero e maternal; estava menos magra do que  quando a vi, pela última vez, numa festa de S. João, na Tijuca; e porque era das que resistem muito, só agora começavam os cabelos escuros a intercalar-se de alguns fios de prata.»
    



Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 20

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