quarta-feira, 31 de outubro de 2018
terça-feira, 30 de outubro de 2018
O poema
VII
A manhã começa a bater no meu poema.
As manhãs, os martelos velozes, as grandes flores
líricas.
Muita coisa começa a bater contra os muros do meu poema.
Escuto um pouco a medo o ruído das gárgulas,
o rodopio das rosáceas do meu
poema batido pela revelação das coisas.
Os finos ramos da cabeça cantam mexidos
pelo sangue.
Talvez eu enlouqueça à beira desta treva
rapidamente transfigurada.
Batem nas portas palavras,
sobem as escadas desta intimidade.
É como uma casa, é como os pés e as mãos
das pessoas invasoras e quentes.
Estou deitado no meu poema. Estou universalmente só,
deitado de costas, com o nariz que aspira,
a boca que emudece,
o sexo negro no seu quieto pensamento.
Batem, sobem, abrem, fecham,
gritam à volta da minha carne que é a complicada carne
do poema.
Uma inspiração fende lírios na minha testa,
fende-os ao meio
como os raios fendem as direitas taças de pedra.
Eu sorrio e levo pela mão essa criança poderosa,
uma visita do sangue cheio de luzes interiores.
Acompanho, como tocando uma espécie de paisagem
levitante,
as palavras pessoas caudas luminosas ascéticas aldeias.
É a madrugada e a noite que rolam sobre os telhados
do poema. É Deus que rola e a morte
e a vida violenta. E o meu coração é um castiçal
à beira
do povo que até mim separa os espinhos das formas
e traz sua pureza aguda e legítima.
– Trazem liras nas mãos, trazem nas mãos brutais
pequenos cravos de ouro ou peixes delicados
de música fria.
– Eu enlouqueço com a doçura dos meses vagarosos.
O poema dói-me, faz-me.
O povo traz coisas para sua casa
do meu poema.
Eu acordo e grito, bato com os martelos
dos dias da minha morte
a matéria secreta de que é feito o poema.
– A manhã começa a colocar o poema na parte
mais límpida da vida. E o povo canta-o
enquanto crescem os campos levantados
ao cume das seivas.
A manhã começa a dispersar o poema na luz incontida
do mundo.
Herberto Helder, no livro “Poemas completos”. Série Grandes Escritores, Rio de Janeiro: Editora Tinta-da-China, 2016 – p. 39.
VII
A manhã começa a bater no meu poema.
As manhãs, os martelos velozes, as grandes flores
líricas.
Muita coisa começa a bater contra os muros do meu poema.
Escuto um pouco a medo o ruído das gárgulas,
o rodopio das rosáceas do meu
poema batido pela revelação das coisas.
Os finos ramos da cabeça cantam mexidos
pelo sangue.
Talvez eu enlouqueça à beira desta treva
rapidamente transfigurada.
Batem nas portas palavras,
sobem as escadas desta intimidade.
É como uma casa, é como os pés e as mãos
das pessoas invasoras e quentes.
Estou deitado no meu poema. Estou universalmente só,
deitado de costas, com o nariz que aspira,
a boca que emudece,
o sexo negro no seu quieto pensamento.
Batem, sobem, abrem, fecham,
gritam à volta da minha carne que é a complicada carne
do poema.
Uma inspiração fende lírios na minha testa,
fende-os ao meio
como os raios fendem as direitas taças de pedra.
Eu sorrio e levo pela mão essa criança poderosa,
uma visita do sangue cheio de luzes interiores.
Acompanho, como tocando uma espécie de paisagem
levitante,
as palavras pessoas caudas luminosas ascéticas aldeias.
É a madrugada e a noite que rolam sobre os telhados
do poema. É Deus que rola e a morte
e a vida violenta. E o meu coração é um castiçal
à beira
do povo que até mim separa os espinhos das formas
e traz sua pureza aguda e legítima.
– Trazem liras nas mãos, trazem nas mãos brutais
pequenos cravos de ouro ou peixes delicados
de música fria.
– Eu enlouqueço com a doçura dos meses vagarosos.
O poema dói-me, faz-me.
O povo traz coisas para sua casa
do meu poema.
Eu acordo e grito, bato com os martelos
dos dias da minha morte
a matéria secreta de que é feito o poema.
– A manhã começa a colocar o poema na parte
mais límpida da vida. E o povo canta-o
enquanto crescem os campos levantados
ao cume das seivas.
A manhã começa a dispersar o poema na luz incontida
do mundo.
Herberto Helder, no livro “Poemas completos”. Série Grandes Escritores, Rio de Janeiro: Editora Tinta-da-China, 2016 – p. 39.
Cinemateca
A primeira cinemateca do mundo foi fundada na Suécia, em 1933, por
Bengt Idestam-Almquist, que também escrevia argumentos, com o pseudónimo
de Robin Hood.
segunda-feira, 29 de outubro de 2018
The only assignable difference between animal
societies and our own resides in the
emergence of the object. Our relationships,
social bonds, would be airy as clouds were
there only contracts between subjects. In fact,
the object, specific to the Hominidae,
stabilizes our relationships, it slows down the
time of our revolutions. The object, for us,
makes our history slow.
Michel Serres
Michel Serres
The things of the world have the function of
stabilizing human life, and their objectivity
lies in the fact that – in contradiction to the
Heraclitean saying that the same man can
never enter the same stream – men, their everchanging
nature notwithstanding, can retrieve
their sameness, that is, their identity, by being
related to the same chair and the same table.
Hannah Arendt
Hannah Arendt
«[Nous serons] plus joyeux, parce que la réalité que s’invente
sous nos yeux donnera à chacun de nous, sans cesse, certaines
des satisfactions que l’art procure de loin en loin aux
privilégiés de la fortune; elle nous découvrira, par delà la fixité
et la monotonie qu’y apercevaient d’abord nos sens hypnotisés
par la constance de nos besoins, la nouveauté sans cesse
renaissante, la mouvante originalité des choses. Mais nous
serons surtout plus forts, car à la grande œuvre de création qui
est à l’origine et qui se poursuit sous nos yeux nous nous
sentirons participer, créateurs de nous-mêmes. Notre faculté
d’agir, en se ressaisissant, s’intensifiera. »
Henri Bergson
Nostalgia, em estado de dicionário, quer dizer:
Saudades de algo, de um estado, de uma forma de existência que se deixou de ter; desejo de voltar ao
passado (n. da vida adolescente). Estado melancólico devido a aspirações, desejos nunca realizados (n. de
uma vida conjugal). Estado de triste sem causa aparente. (Houaiss 2001: 2018)
No dicionário etimológico de Antônio Geraldo Cunha, a palavra nostalgia se apresenta assim: “‘Melancolia, saudade’ 1858. Do francês, nostalgie, deriv. do lat. cient. nostalgia, voc. Criado pelo médico suíço Hofer, em 1678, composto do gr. nóstos ‘regresso’ + ‘álgos’ ‘dor’ + ia nostálgico 1873” (Cunha 1982: 551).
No dicionário etimológico de Antônio Geraldo Cunha, a palavra nostalgia se apresenta assim: “‘Melancolia, saudade’ 1858. Do francês, nostalgie, deriv. do lat. cient. nostalgia, voc. Criado pelo médico suíço Hofer, em 1678, composto do gr. nóstos ‘regresso’ + ‘álgos’ ‘dor’ + ia nostálgico 1873” (Cunha 1982: 551).
domingo, 28 de outubro de 2018
fábula baconiana
“estar escondido e invisível dos outros e, todavia, ter os outros
revelados aos seus olhos, como banhados numa luz”
Bacon, 1976
Bacon, 1976
«Ainda não falámos de O Arquipélago da Insónia (2008).
Não me lembro nada disso. Trata de quê?
Vou-lhe ler uma frase: “Começamos por uma casa, pelo sentimento, uma força em exercício, um poder que vem de há muito tempo, quando essa casa era igual mas era uma herdade, um latifúndio, quando nada faltava — a família, as empregadas na cozinha, o feitor, os campos, a vila ao fundo, e a voz do avô a comandar o mundo. Agora há fotografias no Alentejo em vez de pessoas.”
É bom!
Não se lembrava?
Não.
J.L. — É uma frase muito antuniana.»
Não me lembro nada disso. Trata de quê?
Vou-lhe ler uma frase: “Começamos por uma casa, pelo sentimento, uma força em exercício, um poder que vem de há muito tempo, quando essa casa era igual mas era uma herdade, um latifúndio, quando nada faltava — a família, as empregadas na cozinha, o feitor, os campos, a vila ao fundo, e a voz do avô a comandar o mundo. Agora há fotografias no Alentejo em vez de pessoas.”
É bom!
Não se lembrava?
Não.
J.L. — É uma frase muito antuniana.»
Excerto da Entrevista, António Lobo Antunes no Ípsilon, Jornal Público
«E logo depois Explicação dos Pássaros (1981)...
Eu escrevia muito. Não ia a lado nenhum. Tinha uma vida sentimental tormentosa que de sentimentos não tinha nada, porque... porque eu era muito bonito, nem tinha de me mexer. E era estúpido, porque isso depois fazia-me sofrer.
Sofria?
Sofria — porque não estava a ser justo. Estava a usar as mulheres. Não estava a ser honesto.»
Eu escrevia muito. Não ia a lado nenhum. Tinha uma vida sentimental tormentosa que de sentimentos não tinha nada, porque... porque eu era muito bonito, nem tinha de me mexer. E era estúpido, porque isso depois fazia-me sofrer.
Sofria?
Sofria — porque não estava a ser justo. Estava a usar as mulheres. Não estava a ser honesto.»
Excerto da Entrevista, António Lobo Antunes no Ípsilon, Jornal Público
«Rasgava cartas, destruía romances. Porquê?
Porque rasgo sempre tudo.
Há algum remorso?
Não. Andei dez anos a fazer um romance, antes de ir para África, durante África e depois de África. Foi para o lixo. Não prestava e os outros não prestavam.
Não destruiu Memória de Elefante.
Não. Queria publicar. Era, de certo modo, a celebração de um... Pertenço à classe dos eternos culpabilizados.
Porque diz isso?
Porque tive muitos privilégios e tinha consciência deles. E sempre me censurei atitudes de toda a ordem. Talvez tenha remorso por ter vivido mal e de uma maneira estúpida muitas vezes.
Porquê?
Não sei se era autopunição — porque tive muita sorte, nasci com muitos dons.»
Porque rasgo sempre tudo.
Há algum remorso?
Não. Andei dez anos a fazer um romance, antes de ir para África, durante África e depois de África. Foi para o lixo. Não prestava e os outros não prestavam.
Não destruiu Memória de Elefante.
Não. Queria publicar. Era, de certo modo, a celebração de um... Pertenço à classe dos eternos culpabilizados.
Porque diz isso?
Porque tive muitos privilégios e tinha consciência deles. E sempre me censurei atitudes de toda a ordem. Talvez tenha remorso por ter vivido mal e de uma maneira estúpida muitas vezes.
Porquê?
Não sei se era autopunição — porque tive muita sorte, nasci com muitos dons.»
Excerto da Entrevista, António Lobo Antunes no Ípsilon, Jornal Público
sábado, 27 de outubro de 2018
«Não direi hermética a poesia de Natércia Freire porque o hermetismo é um jogo verbal, um refinado exercício intelectual, cosa mentale mais do que a via espiritual. A sua poesia me parece antes quase involuntária, singularmente inspirada, soprada por não sei que Espírito ignoto ou inominado. Não sopra onde quer o vento do espírito? É uma poesia que chamarei «pneumática» (do grego pnêuma = sopro, do latim pneuma = o Espírito Santo), uma poesia de alma, mas não desencarnada nem angélica, como se desligada das realidades terrestres e da nossa condição carnal.»
João Bigotte Chorão. Alta, Misteriosa Poesia.
Shiny, shiny, shiny boots of leather
Whiplash girl child in the dark
Comes in bells, your servant, don't forsake him
Strike, dear mistress, and cure his heart
Downy sins of streetlight fancies
Chase the costumes she shall wear
Ermine furs adorn the imperious
Severin, Severin awaits you there
I am tired, I am weary
I could sleep for a thousand years
A thousand dreams that would awake me
Different colors made of tears
Kiss the boot of shiny, shiny leather
Shiny leather in the dark
Tongue of thongs, the belt that does await you
Strike, dear mistress, and cure his heart
Severin, Severin, speak so slightly
Severin, down on your bended knee
Taste the whip, in love not given lightly
Taste the whip, now plead for me
I am tired, I am weary
I could sleep for a thousand years
A thousand dreams that would awake me
Different colors made of tears
Shiny, shiny, shiny boots of leather
Whiplash girl child in the dark
Severin, your servant comes in bells, please don't forsake him
Strike, dear mistress, and cure his heart
Whiplash girl child in the dark
Comes in bells, your servant, don't forsake him
Strike, dear mistress, and cure his heart
Downy sins of streetlight fancies
Chase the costumes she shall wear
Ermine furs adorn the imperious
Severin, Severin awaits you there
I am tired, I am weary
I could sleep for a thousand years
A thousand dreams that would awake me
Different colors made of tears
Kiss the boot of shiny, shiny leather
Shiny leather in the dark
Tongue of thongs, the belt that does await you
Strike, dear mistress, and cure his heart
Severin, Severin, speak so slightly
Severin, down on your bended knee
Taste the whip, in love not given lightly
Taste the whip, now plead for me
I am tired, I am weary
I could sleep for a thousand years
A thousand dreams that would awake me
Different colors made of tears
Shiny, shiny, shiny boots of leather
Whiplash girl child in the dark
Severin, your servant comes in bells, please don't forsake him
Strike, dear mistress, and cure his heart
Compositor: Lou Reed
«Deus, bastando-se a si próprio, criou a Terra e tudo o que foi criado. Fê-lo no entanto por um acto de vontade. O poeta não necessita forçosamente dos seus poemas ou da opinião dos outros sobre a sua criação [...] Sem o acto de vontade nada de poesia e a vontade não é uma causa.»
José Blanc de Portugal, poeta.
José Blanc de Portugal, poeta.
maiêutica
nome feminino
FILOSOFIA método praticado por Sócrates, e depois inspirado nele, que consiste em levar os espíritos a tomar consciência daquilo que sabem implicitamente, a exprimi-lo e a julgá-lo.
«O poema acontece tal como o filho que acontece.»
Pinharanda Gomes. Univocidade Cósmica na Poesia de Natércia Freire.
«Nunca é demasiado assinalar que há uma distinção a fazer entre valores literários e valores poéticos. Mas se nem todos os valores ditos literários são na verdade poéticos, os valores poéticos apuram-se na ordem literária, sua normal forma de expressão. O que torna por vezes perturbante a função crítica em literatura é quanto a poesia é da sua natureza indefinível. Além disso, poesia, não sendo propriamente ideia nem podendo ser apenas sentimento, é mais facilmente interpretável à luz do sentimento que a possibilita e da ideia que, por assim dizer, a dignifica. A tudo o resto, valorações e imagens, ritmo ou música formal, sobreleva, de facto, o que há de transfigurador no mistério da criação poética.»
Luís Forjaz Trigueiros. Arte e Técnica da Poesia.
Discurso Diante do Túmulo de Karl Marx
Friedrich Engels
17 de Março de 1883
O que o proletariado combativo europeu e americano, o que a ciência histórica perderam com [a morte de] este homem não se pode de modo nenhum medir. Muito em breve se fará sentir a lacuna que a morte deste [homem] prodigioso deixou.
Assim como Darwin descobriu a lei do desenvolvimento da Natureza orgânica, descobriu Marx a lei do desenvolvimento da história humana: o simples facto, até aqui encoberto sob pululâncias ideológicas, de que os homens, antes do mais, têm primeiro que comer, beber, abrigar-se e vestir-se, antes de se poderem entregar à política, à ciência, à arte, à religião, etc; de que, portanto, a„produção dos meios de vida materiais imediatos (e, com ela, o estádio de desenvolvimento económico de um povo ou de um período de tempo) forma a base, a partir da qual as instituições do Estado, as visões do Direito, a arte e mesmo as representações religiosas dos homens em questão, se desenvolveram e a partir da qual, portanto, das têm também que ser explicadas — e não, como até agora tem acontecido, inversamente.
Mas isto não chega. Marx descobriu também a lei específica do movimento do modo de produção capitalista hodierno e da sociedade burguesa por ele criada. Com a descoberta da mais-valia fez-se aqui de repente luz, enquanto todas as investigações anteriores, tanto de economistas burgueses como de críticos socialistas, se tinham perdido na treva.
Duas descobertas destas deviam ser suficientes para uma vida. Já é feliz aquele a quem é dado fazer apenas uma de tais [descobertas]. Mas, em todos os domínios singulares em que Marx empreendeu uma investigação — e estes domínios foram muitos e de nenhum deles ele se ocupou de um modo meramente superficial —, em todos, mesmo no da matemática, ele fez descobertas autónomas.
Era, assim, o homem de ciência. Mas isto não era sequer metade do homem. A ciência era para Marx uma força historicamente motora, uma força revolucionária. Por mais pura alegria que ele pudesse ter com uma nova descoberta, em qualquer ciência teórica, cuja aplicação prática talvez ainda não se pudesse encarar — sentia uma alegria totalmente diferente quando se tratava de uma descoberta que de pronto intervinha revolucionariamente na indústria, no desenvolvimento histórico em geral. Seguia, assim, em pormenor o desenvolvimento das descobertas no domínio da electricidade e, por último, ainda as de Mare Deprez.
Pois, Marx era, antes do mais, revolucionário. Cooperar, desta ou daquela maneira, no derrubamento da sociedade capitalista e das instituições de Estado por ela criadas, cooperar na libertação do proletariado moderno, a quem ele, pela primeira vez, tinha dado a consciência da sua própria situação e das suas necessidades, a consciência das condições da sua emancipação — esta era a sua real vocação de vida. A luta era o seu elemento. E lutou com uma paixão, uma tenacidade, um êxito, como poucos. A primeira Rheinische Zeitung em 1842, o Vorwärts! de Paris em 1844, a Brüsseler Deutsche Zeitung em 1847, a Neue Rheinische Zeitung em 1848-1849, o New-York Tribune em 1852-1861 — além disto, um conjunto de brochuras de combate, o trabalho em associações em Paris, Bruxelas e Londres, até que finalmente a grande Associação Internacional dos Trabalhadores surgiu como coroamento de tudo — verdadeiramente, isto era um resultado de que o seu autor podia estar orgulhoso, mesmo que não tivesse realizado mais nada.
E, por isso, Marx foi o homem mais odiado e mais caluniado do seu tempo. Governos, tanto absolutos como republicanos, expulsaram-no; burgueses, tanto conservadores como democratas extremos, inventaram ao desafio difamações acerca dele. Ele punha tudo isso de lado, como teias de aranha, sem lhes prestar atenção, e só respondia se houvesse extrema necessidade. E morreu honrado, amado, chorado, por milhões de companheiros operários revolucionários, que vivem desde as minas da Sibéria, ao longo de toda a Europa e América, até à Califórnia; e posso atrever-me a dizê-lo: muitos adversários ainda poderia ter, mas não tinha um só inimigo pessoal.
O seu nome continuará a viver pelos séculos, e a sua obra também!»
Primeira Edição: Discurso pronunciado em inglês por Engels no cemitério de Highgate em Londres, em 17 de Março de 1883. Publicado em alemão, integrado num artigo de Engels sobre o enterro de Marx — Das Begräbnis von Karl Marx — no jornal Der Sozialdemokrat, n.° 13, de 22 de Março de 1883. Publicado segundo o texto do jornal. Traduzido do alemão.
Fonte: Obras Escolhidas em três tomos, Editorial "Avante!" - Edição dirigida por um colectivo composto por: José BARATA-MOURA, Eduardo CHITAS, Francisco MELO e Álvaro PINA, tomo III, pág: 179-181.
Tradução: José BARATA-MOURA.
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Editorial "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1982.
Mistakes About the Meaning of Life
''To my surprise, most of the people with whom I have talked about the meaning of life have told me that they did not think that their lives were meaningful enough. Many even presented their lives as outright meaningless. But I have often found the reasons my interlocutors gave for their views problematic. Many, I thought, did not pose relevant questions that might have changed their views, or take the actions that might have improved their condition. (Some of them, after our discussions, agreed with me.) Most of the people who complained about life's meaninglessness even found it difficult to explain what they took the notion to mean.
I will begin by briefly clarifying the notion of the meaning of life, and then point at a few of the many mistakes that, in my experience, people who take their lives to be insufficiently meaningful often make. This, I hope, may help some people realise how to make their lives more meaningful, and others to stop believing with no good reason that their lives are meaningless.
In common speech, “meaning” is used in two main ways. One has to do with notions such as interpretation, clarification, and comprehension, as in “the meaning of a red light is ‘stop’”. The other has to do with notions such as value, worth, or importance, as in “the conversation we had yesterday was very meaningful to me”. Following contemporary discussions by, among others, John Cottingham, Thaddeus Metz, and Susan Wolf, I think that in discussions of the meaning of life, “meaning” is used mostly in the second sense.
Consider some examples: the existentialist psychologist Viktor Frankl recounts in his Man in Search of Meaning how, while he was a prisoner in Nazi concentration camps in World War II, he noted that some of his fellow inmates kept their sense of meaning while others did not. Those who kept their sense of meaning did so by maintaining some areas of worth in their lives. Frankl himself, for instance, intended to write a book after he was freed, a book, informed by his experiences in the camps, about meaningfulness and how it can contribute to treating many seemingly unrelated psychological problems. This project was of value to him and helped him maintain meaning in his life, and survive, while he was in the camps. What gave meaning to the lives of some of the other inmates was the importance of the prospect of seeing their families again after the war and caring for them. Yet others maintained their sense of worth by helping other inmates. Those who did not retain their sense of meaning, on the other hand, were those for whom nothing remained of sufficient worth or value. Meaning of life, then, has to do with worth, or value.
Likewise, in his semi-autobiographical My Confession, Tolstoy recounts how, at a certain point in his life, he went through a crisis of meaninglessness. He tells how he found himself asking questions about hitherto valued, central aspects of his life, questions such as “so what?” or “what of it?”. For instance, he considered the fact that he was a great writer, perhaps the best Russian one and one of the greatest in the world. But then, he recounts, he asked himself: “so what?”. Likewise, he thought of his prosperous, thriving estate. But then the question crept in: “what of it?”. Similarly, he had a large, happy family whose members were healthy. But again the question arose: “so what?”. Before he started sensing his life as meaningless, the value in being a great writer, having a healthy family, etc. was quite clear to him. He would only come to see his life as meaningful again once he was able to return to seeing these, or other, aspects of his life as valuable. Again, meaning of life has to do with worth or value.
The examples above are taken from the writings of luminaries, but discussions I have had with laypersons who have told me that they stopped seeing life as meaningful also suggest that meaningfulness is based on value. For example, I talked with parents who told me that ever since they lost their child in a car accident, they had found it hard to see life as meaningful. There was something very valuable in their lives, and when this was gone, they experienced life as meaningless. They would see life as meaningful again only if they found other things that they took to be of sufficiently high value.
Another person told me that she found life meaningless because she had not succeeded in becoming a central figure in her academic field. Again, for her (at that time), the main or only issue of worth was excellence in her career. Since she was blind to other issues that could be of worth in her life, she felt that her life was meaningless when she did not achieve the only thing in life she considered at the time to be valuable. Sometimes people who think that their lives are meaningless describe them as empty, but find it hard to explain what their lives are empty of. The reply is that they take their lives to be empty of sufficient value.
We can also see the close relation between meaningfulness and value if we consider common pessimistic arguments for the meaninglessness of life. One frequently heard such argument (which also appears in the philosophical literature) points to our eventual death and annihilation. As Thomas Nagel, among others, notes (although he does not accept the argument), some years or centuries after we die, no one will remember us or what we did. In a million years, the world will be exactly as it would have been had we not done what we did; moreover, it will even be exactly as it would have been had we never existed at all. Some cite this as a reason for holding that life is meaningless. But the supposition behind this argument (a problematic supposition, in my view) is that what we do in life cannot be valuable enough unless it persists for eternity.
Another famous argument claims that when considered in the context of the whole universe, our life emerges as meaningless. Perhaps we do have some effect on our immediate environment, such as our family, friends, and workplace. But we have no effect on almost all other parts of the vast, gigantic universe. We live in a corner of a negligible solar system in a negligible galaxy. The ratio between our whole galaxy and the cosmos at large is smaller than the ratio between a speck of dust in this room and the whole country. Our insufficient effect on almost the whole of the universe, the argument goes, makes our life meaningless. But this argument, too (again, a problematic argument, in my view), suggests that our life is meaningless because, when seen in the right context, and whatever we do in life emerges as being of insufficient value.
The same is true of the other arguments for the meaninglessness of life. The argument from the paradox of the end, for example, points out that after attaining a goal for which we have worked hard, we often feel, surprisingly, that the goal is not of much worth. Paradoxically, being on the way towards the goal was better than attaining it. But if the goal is actually unworthy, the means to achieve it, that is, the way towards it, also becomes unworthy. Again, meaningfulness has to do with worth or value.
This also holds true for other arguments for the meaninglessness of life. I believe that there are good replies to all of them, but wish to focus in the present context only on the point that the meaning of life is based on worth or value. Indeed, I suggest that when people complain that their lives are meaningless, they are complaining that there is not sufficient value in their lives. People who ask what the meaning of life is are asking what can be of sufficient value in life. A meaningful life is one in which there is a sufficient number of aspects of sufficient value, and a meaningless life is one in which there is not a sufficient number of aspects of sufficient value.
Noting this close relationship between meaningfulness and value is important, since it allows us to draw many implications that can be helpful for people who consider their lives insufficiently meaningful.
One implication is that people's views about the meaninglessness of their lives – even when they are strongly held – may be mistaken. We know that in other aspects of value, people often do make mistakes. Some wrongly take themselves to be bad parents, and others wrongly take themselves to be good ones. Some take themselves to be worse spouses, or better spouses, than they really are. Some people unjustifiably believe that the art they produce is not so good, and others unjustifiably believe that their art is excellent. Many, likewise, underrate or overrate their sense of humour, knowledge, or ability to play the violin. We also see this in all other spheres of value. And if this is so for all spheres of value, it is likely to be so as well for the meaning of life.
Surprisingly, many people who take their lives to be insufficiently meaningful are absolutely certain that this is the case; they are convinced that their impressions about the meaning of their life must be precise and reliable. However, seeing that meaningfulness is based on value suggests that in this sphere of value, just as in the others, we cannot just “know” for certain that our life is or is not meaningful. As in other spheres of value, so in this one, we need to inquire and learn about the issue, double-check our standards, examine implicit suppositions that might affect our views, consider arguments for and against our opinions, learn from the experience of others, and consult with people. People who take their lives to be meaningless (just like people who take their lives to be meaningful) may well be wrong.
Another implication is that the degree of meaning in life can be increased or decreased. Some people who, for good or bad reasons, take their lives to be insufficiently meaningful treat this condition as a constant, as if it were a given that could not be changed. But we see in other spheres of value that degrees of value can and often do change. Sometimes, with time, they even just change by themselves. But very often we can also alter them. For example, by opting for various actions, I can become a more moral or a less moral person than I am now. I can also affect the degree to which I am exposed to, and thus am affected by, natural or artistic beauty. I can ruin or build friendships, upgrade or downgrade my health, and practice or neglect my German. It would be surprising if in this particular sphere of value, the meaning of life, things were different from how they are in all the other spheres.
Noting that meaning in life is based on value also directs us to what we should do in order to increase meaningfulness in our lives: we should enhance what we take to be valuable in our lives. We can either import new aspects of value into our lives; augment already existing aspects of value; or de-trivialise and re-sensitise ourselves to existing value that, through familiarity and habit, we have stopped noticing. Many people, including those who take their lives to be insufficiently meaningful, dedicate more time and effort in one evening to considering which film to go to than they do in their whole lifetime to considering what would make their lives more meaningful.
The last implication I have the space to discuss here relates to uniqueness. Many people believe that in order to be meaningful, their life has to be unique. However, in most spheres of value, uniqueness is not important. Admittedly, it is important in a few spheres: for example, in creative art, value depends (among other things) on originality; just repeating what other artists have already created is not considered to be of value. Originality, in turn, presupposes uniqueness, at least at the time the artwork is presented. Similarly, scientific and scholarly achievement is valued (among other things) for its originality and innovation. Just repeating someone else's findings does not carry much worth. And that too means, of course, that at the time the scientific findings are first presented, they have to be unique.
However, in many other spheres of value – indeed, in most of them – uniqueness is not important. A person I know volunteered for several months in an immunisation project in Africa. What he did was not unique; it was quite similar to what other volunteers did. The value in his activity did not have to do with its uniqueness but, rather, with his help in preventing disability and death and alleviating suffering. Likewise, what makes the love between a parent and a baby valuable is not its difference from all other love between other parents and babies; the value is in the warmth and emotional closeness. This value is not decreased if other people, too, enjoy a very similar connection. This holds true also of aesthetic or mystical experiences. What one goes through in such experiences may well be quite similar to what others go through when they have their own such experiences. It is not the specific differences between one's own and others' aesthetic or mystical experiences that make these experiences valuable. Uniqueness is not important here. This is also true of the worth of honesty, joy, responsibility, health, curiosity, and most other spheres of value. The insistence on uniqueness, then, is yet another mistake about the meaning of life. This mistake, like the earlier ones mentioned above and many others which I do not have here the space to discuss, leads some people to unnecessarily see their lives as insufficiently meaningful and to miss ways of enhancing meaning in life.''
«O mar de monstros e lume»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 149
SUICIDAS (II)
A mão correu a cortina
E abriu-se logo o deserto.
E o silêncio.
E a agonia.
No fulgor de pedra fina,
Só eu ouvia e sabia
A data no tempo certo.
Nos cabelos enredados
De espinhos e palhas velhas
O mar deixara de ser
Os infinitos recados
De inumeráveis centelhas.
Lá porque não houve enterro
Nem retrato no jornal
Todos cavaram a cova.
Todos pisaram a terra
E alguns cantaram felizes
Na volta do funeral.
Agora vão descansar
Depois da cruz levantada.
Já é costume entre nós
Suicidar camaradas.
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 142
E abriu-se logo o deserto.
E o silêncio.
E a agonia.
No fulgor de pedra fina,
Só eu ouvia e sabia
A data no tempo certo.
Nos cabelos enredados
De espinhos e palhas velhas
O mar deixara de ser
Os infinitos recados
De inumeráveis centelhas.
Lá porque não houve enterro
Nem retrato no jornal
Todos cavaram a cova.
Todos pisaram a terra
E alguns cantaram felizes
Na volta do funeral.
Agora vão descansar
Depois da cruz levantada.
Já é costume entre nós
Suicidar camaradas.
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 142
«Ouvir arder o trigo,»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 135
«A tristeza de ser quem em mim não conheço.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 134
sexta-feira, 26 de outubro de 2018
«A queixa sem garganta,»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 123
« A MORTE DE CALAR.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 115
''as faces de rosa apodrecida.''
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 109
«Não traíste o Deus traído.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 77
quarta-feira, 24 de outubro de 2018
«O deserto a florir. O oceano a sangrar.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 53
«O sangue colectivo de uma ausência.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 49
«Beberam sonhos pelo mesmo copo.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 49
«E nas cicatrizes nasceram as asas (...)»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 45
« Sangue de partos, feridas de combates.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 43
domingo, 21 de outubro de 2018
Já morri a morte certa
Já senti a fome, aperta a dor
Já bati à porta incerta
Viajei de caixa aberta, a dor
Já bati à porta incerta
Viajei de caixa aberta, a dor
Pecado, fundido, queimado
Já desci lá em baixo ao fundo
Já falei com outro mundo e então
Já passei o limbo limpo
Já subi ao purgatório e vou
Já falei com outro mundo e então
Já passei o limbo limpo
Já subi ao purgatório e vou
Zangado, bem vindo ao passado
Pecado, arrependido, queimado
Pecado, arrependido, queimado
Zangado, bem vindo ao passado
Pecado, fundido e queimado
Zangado, bem vindo ao passado
Pecado, arrependido, queimado
Pecado, fundido e queimado
Zangado, bem vindo ao passado
Pecado, arrependido, queimado
“A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de produção, e com estes as relações de produção, ou seja, todas as relações sociais (…) A alteração incessante da produção, a mudança contínua de todas as instituições sociais, a instabilidade e a incerteza distinguem a época burguesa de todas as outras.”
Karl Marx
hegemonia
he.ge.mo.ni.a eʒəmuˈniɐ
nome feminino
1.supremacia de uma cidade, povo ou nação sobre outras cidades, povos ounações
2.figurado supremacia
Do grego hegemonía, «comando»
nome feminino
1.supremacia de uma cidade, povo ou nação sobre outras cidades, povos ounações
2.figurado supremacia
Do grego hegemonía, «comando»
Bourdieu, Labriola,Espinoza, Leibniz, Descartes, Korsch, Kolakowsky, Gramsci, Derrida,
Godelier, Elster, Brenner, Olin Wright, Lefèbvre, Hegel, Stephen Jay, Gould, Balibar, Schumpeter, Sacristán, Adorno, Heidegger, Marcuse, Péguy, Nietzsche, Benjamin, Bloch, Freud, Comte, Blanqui, Lukács, Rawls ou Poulantzas
Marx elabora um plano ambicioso. Quer escrever seis livros: um sobre o
capital, outro sobre a propriedade da terra, outro sobre o trabalho assalariado, um quarto
sobre o Estado, outro sobre o comércio externo e finalmente um sobre o mercado mundial,
como explica em cartas a Lassalle e a Engels em 1858.
“raramente alguém escreveu sobre o dinheiro com tanta falta dele”
Espião da polícia prussiana sobre Karl Marx
Na novela Uma Educação Sentimental, Flaubert põe na boca de um personagem o
excessivo entusiasmo da época: “Está tudo ótimo! O povo está a vencer! Os operários e
as classes médias caem nos braços uns dos outros! Ah, se tivesses visto o que eu vi! Como
isto é magnífico!... A República foi proclamada e toda a gente vai ser feliz! Não percebes
que não haverá mais reis? Todo o mundo será livre, absolutamente livre!”.
proletários
“Entende-se
por proletários a classe de trabalhadores assalariados modernos que, não possuindo meios
de produção próprios, dependem, para viver, da venda da sua força de trabalho.”
Engels
Engels
“No que consiste, então, a alienação do
trabalho? Primeiro, no facto de que o trabalho é exterior ao trabalhador, isto é, não
pertence à sua natureza, que não se realiza no seu trabalho, que se nega nele, que não se
sente à vontade, antes se sente infeliz, que não desenvolve nenhuma energia física ou
mental que seja livre, mas antes que se mortifica e arruína o seu espírito. O trabalhador,
assim, só é ele próprio quando não trabalha, e no seu trabalho sente-se fora de si próprio.
O seu trabalho, por isso, não é voluntário, mas forçado. Não é a satisfação de uma
necessidade, mas somente uma forma de gratificar a necessidade de outrem”
Karl Marx
''No primeiro capítulo de O Capital, escrito mais de vinte anos depois dos Manuscritos,
Marx apresentou por isso o conceito de “fetichismo da mercadoria”, ou seja, identificou
a transferência imaginária de características humanas para a mercadoria. Com esta
transferência, as relações sociais expressas na produção apresentam-se como relações
entre coisas. Ora, o conceito de “fetichismo” é inseparável da resposta para a pergunta:
em que circunstâncias é que os trabalhadores aceitam o processo que os explora e que
coisifica a sua atividade?'' Francisco Louçã
Adam Smith, no dealbar da Revolução Industrial escreve: “Não é com o ouro ou com o
dinheiro, é com o trabalho que todas as riquezas do mundo foram originariamente
compradas, e o seu valor para os que as possuem e que procuram trocá-las por novos
produtos é precisamente igual à quantidade de trabalho que permitem comprar ou
encomendar”. Para Smith, o trabalho não só aumenta o valor, ele é a origem de “todas as
riquezas do mundo” e a sua medida.
“É o trabalho, portanto, que atribui a maior parte do valor à terra, sem o qual ela
dificilmente valeria alguma coisa; é a ele que devemos a maior parte de todos os
produtos úteis da terra; por tudo isso a palha, farelo e pão desse acre de trigo valem
mais do que o produto de um acre de uma terra igualmente boa, mas abandonada,
sendo o valor daquele o efeito do trabalho". O trabalho acrescenta valor, portanto;
tem um “efeito”. Mas como é que cria o valor?
John Locke, um dos pais do liberalismo clássico
“O teu coração está
manifestamente dominado por uma potência demoníaca que é rara entre os homens. O
génio que te habita é de natureza celestial ou faustiana? Será que poderás algum dia
espalhar felicidade entre o círculo dos teus próximos?”
Escrita de Heinrich (Pai de Karl Marx) em fevereiro de 1837. O jovem Karl 19 anos e estuda literatura e filosofia em Bona
Escrita de Heinrich (Pai de Karl Marx) em fevereiro de 1837. O jovem Karl 19 anos e estuda literatura e filosofia em Bona
terça-feira, 16 de outubro de 2018
«Que sois (muitos de vós) dolorosamente grotescos, que as vossas
mulheres (venham as excepções!) não passam de «tristezas sobre pernas»,
que olhais uns para os outros com o ar de quem vê a desalentada
excrescência de si próprio, que os vossos filhos só garantem, no pior
dos casos, a sobrevivência da vossa espécie - tudo isso (e não é
pouco!) o poeta sabe e ressabe.»
Alexandre O'Neill
Alexandre O'Neill
«Ò Falinhas, chega-te mas é pra lá(…) senão apareces todo picado em casa, oubites?»
A
Esmeraldina no seu despacho popular, no seu linguajar, constitui
exemplo de retrato e situação concentrados em poucas palavras
entretecidas, de tal modo que desembocam num tipo social
sugestivo e capaz de, pela ironia e rigorosa caracterização,
fazer sorrir e reflectir qualquer leitor.
Alexandre O’Neill
Alexandre O’Neill
domingo, 14 de outubro de 2018
“sempre que em mim há acção, reconheço que não fui eu.” “O mundo é de
quem não sente. A condição essencial para ser um homem prático é a ausência
de sensibilidade.” “A arte serve de fuga para a sensibilidade que a acção teve
de esquecer.” ”A acção é uma doença do pensamento, um cancro da imaginação.
Agir é exilar-se. Toda a acção é incompleta e imperfeita.” “Parece-nos imoral agir.”
Fernando Pessoa, Textos Filosóficos, Lisboa, 1968, I, LD, 275, 286, 287, 302, 428.
Fernando Pessoa, Textos Filosóficos, Lisboa, 1968, I, LD, 275, 286, 287, 302, 428.
...o sofrimento é um momento muito longo. Não o podemos dividir por estações.
“... o sofrimento é um momento muito longo. Não o podemos dividir por
estações. Apenas podemos notar os seus modos e registar a sua volta. Para
nós o próprio tempo não avança. Revolve. Parece circular em torno de um
só centro de dor. A imobilidade paralisante de uma vida da qual cada
circunstância está regulada segundo um molde imutável, de modo que
comemos e bebemos segundo as leis inflexíveis de uma fórmula de ferro: este
carácter de imobilidade que faz cada horroroso dia no seu mínimo detalhe
como todo outro dia parece transmitir-se àquelas forças exteriores[, e o texto completa-se, de modo pouco legível,] a essência de cuja existência é mudar
incessantemente.”
Fernando Pessoa, Textos Filosóficos, Lisboa, 1968, I, 228
«(...)a fonte da dor é a excessiva permanência do eu em si mesmo, porque nesse estado a sua negatividade interna, que constitui a sua identidade, ameaça destruí-lo. A identidade do eu não é a
identidade das coisas situadas ao nível do puro ser, onde umas são as outras das outras, mas a identidade de um ente especular, na superfície do qual se podem formar imagens. »
DIOGO FERRER. FERNANDO PESSOA E A CONSCIÊNCIA INFELIZ. Revista Filosófica de Coimbra — (2008)
“Ser eu é não ser”
Fernando Pessoa, Obras Completas de Fernando Pessoa, Ática, Lisboa [=OC],
198712, I, 64.
“não há/Cá-dentro nem lá-fora”
Fernando Pessoa, Obras Completas de Fernando Pessoa, Ática, Lisboa [=OC],
198712, I, 64.
“poeta do Nada”
Cf. Eduardo Lourenço, PM, 166); idem, PR, 36. Ou “poeta da negação” segundo
Sena (FP, 193).
sábado, 13 de outubro de 2018
«A obediência
é a arte de escutar, e a ordem é o estar preparado para a palavra,
o estar preparado para o comando que, como o raio de um relâmpago,
vai do cume às raízes. Cada um e cada coisa está na ordem feudal e
o guia [Führer] é reconhecido em ele ser o primeiro servo, o primeiro soldado, o primeiro trabalhador. Daí que tanto a liberdade como a ordem
se relacionem não com a sociedade, mas com o Estado, e que o
modelo de cada organização seja a organização militar e não o contrato
social»
formulações de Jünger em Der Arbeiter
formulações de Jünger em Der Arbeiter