domingo, 28 de outubro de 2018

«Rasgava cartas, destruía romances. Porquê?
Porque rasgo sempre tudo.

Há algum remorso?
Não. Andei dez anos a fazer um romance, antes de ir para África, durante África e depois de África. Foi para o lixo. Não prestava e os outros não prestavam.

Não destruiu Memória de Elefante.
Não. Queria publicar. Era, de certo modo, a celebração de um... Pertenço à classe dos eternos culpabilizados.

Porque diz isso?
Porque tive muitos privilégios e tinha consciência deles. E sempre me censurei atitudes de toda a ordem. Talvez tenha remorso por ter vivido mal e de uma maneira estúpida muitas vezes.

Porquê?
Não sei se era autopunição — porque tive muita sorte, nasci com muitos dons.»

Excerto da Entrevista, António Lobo Antunes no Ípsilon, Jornal Público

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