A mão correu a cortina
E abriu-se logo o deserto.
E o silêncio.
E a agonia.
No fulgor de pedra fina,
Só eu ouvia e sabia
A data no tempo certo.
Nos cabelos enredados
De espinhos e palhas velhas
O mar deixara de ser
Os infinitos recados
De inumeráveis centelhas.
Lá porque não houve enterro
Nem retrato no jornal
Todos cavaram a cova.
Todos pisaram a terra
E alguns cantaram felizes
Na volta do funeral.
Agora vão descansar
Depois da cruz levantada.
Já é costume entre nós
Suicidar camaradas.
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 142
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