Clepsidra

Retratos de Família A s badaladas da torre, pelo fim do dia...       Os homens regressavam do trabalho, enxada aos                    ...

«Era como se as entranhas da terra viessem até ali, de rastos, famintas, para serem possuídas. A planície tinha a ondulação, a profundidade...

«O Barbaças, porém, já ouvira o Loas contar muitas vezes aquelas proezas, conhecia-as de memória, embora fosse inútil interrompê-las: quando...

«Quando não havia pesca, nem biscates, nem uma galinha ingénua, quando, enfim, a vida começava a significar uma azeda melancolia, o Barbaça...

os meus remorsos de Deus infernam-me,                                                           [atormentam-me. A mim nada me espanta ser ...

"Deer Stop" And I long to go Love started here Shoot your star Be a light Is that Don't you call Deer stop bottle in...

as bibliotecas ardem, as gerações enchem o corpo-santo do mundo, e nesta fila sei que agora sou eu, e somos todos tão iguais, todos tão m...

«(...) perder o amor ao desviar a cara, perder tudo, enfim, que já perdido nasci, mas indagando sempre cara, pedra, rumor, bátega, fol...

andar aos ombros de alguém

Para todas as mulheres Ogdala da Nação Lakota 1     Ele queria sair.     Ele disse-me «Tu ficas em casa»     Eu disse «Eu queria sair»...

 

Q UEM sabe, quem sabe,                ah, quem sabe se fui eu que fugi ou se me abandonaram à beira de qualquer estrada. Que terras meu...

«(...) Mãe! tu nunca previste as geadas e os bichos roendo os campos adubados e o vizinho largando a fúria dos rebanhos pela erva meni...

Que a tua boca amaldiçoe, companheiro, as súplicas que o Céu negou. Navalhas clandestinas furaram-me o dorso, o desengano fez-me o monte ...

Operário que a manhã despertou no sono necessário, mão que ficaste nua ao bater na porta fechada, caminheiro de que a estrada deserta acei...

«(...) mas sempre chega a hora de um amanhecer que nos                                                                                    ...

nome feminino 1. MEDICINA estado caracterizado pela debilidade física e psíquica, acompanhada de perturbações psíquicas (tristeza, insóni...

«Levei sessenta anos a construir este velho que agora agoniza cheio de ódio. Sou o que sou e não outro. Oh, Deus, Deus se de facto existiss...

«Porque não me falas? Porque nunca me falas? Talvez uma palavra tua me abrisse o coração! Esta noite, até me parece não ser tarde demais pa...

«Oh!, não imagines que me tenho em grande conta. Conheço o meu coração, este pobre coração: um nó de víboras. Sufocado por elas, saturado d...

a mastigada dor de não poder com os dedos tocar o Sol e a Lua, a mágoa vil de me apodrecer rumor e cócega dos vermes que me tomam até fi...

B ASTAM-ME esses braços descarnados,          essas úlceras de carmim! Quero o cheiro do teu corpo barato, o enjoo dos teus seios, a náu...

 

«(...) Noite... (apetece-me repetir o teu nome) alagaram a cidade com mistério - que brutos! que brutos os deuses!, sinto mãos viscosa...

...Quero-me só, a sofrer e arrastar a minha cruz. Fernando Namora . As Frias Madrugadas. Publicações Europa-América, 4ª ed, Lisboa, 197...

N aquela nesga de paisagem andam vagabundos sem                                                                                     [destin...

D as mulheres      que na minha vida passaram ficou-me aquela lembrança de um fio de areia sobre o regato sedento, de qualquer frase ...

nome masculino  1. cómico ambulante 2. actor pouco competente na sua profissão 3. figurado indivíduo que alardeia qualidades que não tem

Q uando o mar amansa,     brando, mansamente, um bocejo adormece a natureza. Tudo dorme, o desespero e a esperança e o mar, manso, tec...

«(...) (Não há moças nem risos às janelas.) Cães uivam dentro da noite despertando faces opadas para lá dos vidros foscos. Roupa já ...

«Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida. Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim t...

Herta Müller. Tudo o que eu trago comigo. Traduzido do Alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, 1ª edição, 2010., p. 65

«Nas brincadeiras com o Tur, ela tinha de ser sempre o cavalo e o Tur é que conduzia a carruagem. E ela caiu e partiu o pé, mas só mais tar...

«Diz-se que são olhos de mar, tão profundos que o seu fundo tem comunicação com o Mar Negro.» Herta Müller. Tudo o que eu trago comigo. ...

«Se mastigássemos bem, o caroço ficava muito liso e quente na língua. Estas ginjas nocturnas eram uma felicidade, mas aumentavam ainda mais ...

«Para lá das quintas dos subúrbios, começava uma pequena cidade de casas amarelo-ocre, de estuque esfarelado e telhados de chapa ferrugenta....

«O algodão encharcava-se de chuva e de neve e ficava ensopado durante semanas.» Herta Müller. Tudo o que eu trago comigo. Traduzido do ...

     « Havia dois tipos de sapatos. As galochas de borracha eram um luxo. Os sapatos de madeira, uma catástrofe: só a sola era de madeira,...

«Havia muitos dias em que tinha de rir para dentro de mim. Havia muitos outros em que o hotel desabava redondo por dentro, quer dizer, por ...

«Porque estávamos cegos de fome e doentes de saudades de casa, apeados do tempo e de nós próprios e desavindos com o mundo. Ou seja, o mundo...

«O barbeiro estava a aparar-lhe os pêlos do nariz com uma tesoura enferrujada. Terminada que foi também a segunda narina, escovou-lhe os pe...

«Para mim, nesse dia, o importante foi ter tocado no único assunto que te punha fora de ti, te obrigava a sair da tua indiferença e a dares...

«...Sim, nesse ano conheci o amor. Foi a minha insaciabilidade que deitou tudo a perder. Não me bastou tê-la na penúria, quase na miséria. ...

 

Eu esperei Mas o dia não se fez melhor E o sujo não se quis limpar, Inventou mais flores em meu redor Como se eu não fosse olhar! Enf...

«Tornei-me perito na arte de destruir os sentimentos na altura exacta em que a vontade desempenha papel decisivo no amor; no momento em que...

  François Mauriac. O Nó de Víboras . Tradução de Maria Conceição Ramírez Cordeiro. Livros de bolso europa-américa., p. 47

“Perhaps I really regard myself as an intelligent man only because throughout my entire life I've never been able to start or finish any...

«sente-se a solidão, o peso, minarem cada gesto; e antes do gesto, a ideia de o fazer;» Carlos de Oliveira . Trabalho poético . Sá da ...

«(...)                         , nenhum anjo sofreu as leis reais do nosso peso; nem pode, por isso, conhecer-nos.» Carlos de Olive...

Para haver rio tem de haver árvores duríssimas; sabor de metal nos ramos; equilíbrio no fogo: antes, depois das trocas primitivas; red...

    «De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas te...

      «Por um desvio semântico qualquer, que os filólogos ainda não estudaram, passámos a chamar manhã à infância das aves. De facto enve...

   «Escrevo na madrugada as últimas palavras deste livro: e tenho o coração tranquilo, sei que a alegria se reconstrói e continua.» Car...

  «Eis o que torna o teu amor mais forte:     amar quem está tão próximo da morte.» Carlos de Oliveira . Trabalho poético . Sá da Costa...

Sonetos de Shakespeare reescritos em português II Como voltar feliz ao meu trabalho se a noite me não deu nenhum sossego? A noite, o...

«essa dor sem alívio que seca as lágrimas antes de as criar.» Carlos de Oliveira . Trabalho poético . Sá da Costa Editora, 2ª Edição, Li...

«Andam os mortos enfeitando-se ao frio, servindo-se das árvores para ter cabelos; deslizam ao fulgor das estrelas, loiros, amarelos, e fi...

1. Dieppe torna derradeira maré vaza morto seixo a volta logo os passos rumo à vila sob a luz   2. o meu curso é na areia fluida...

 

Já escuro e denso o rio da memória flui e me entristece, se acaso lembro que chorei o que nem lágrimas merece. Carlos de Oliveira . Tr...

«E quanto mais estendo as mãos urgentes, mais um dúbio fulgor acende o vento: podes descer silenciosamente sobre os meus versos, luz do e...

«Quando as pedras estalam a gritar e os cardos sonham as margens de altos rios; quando a sede põe a água num altar e ajoelha como a um de...

Carlos de Oliveira . Trabalho poético . Sá da Costa Editora, 2ª Edição, Lisboa, 1982., p. 33

«E de repente dou comigo absorto, as mãos entre papéis de antigos versos, soprando um lume que supunha morto e aquece ainda os dias já s...

  «Janine será, até morrer, o tipo da mulher que sabe tudo, repete o que ouve só para parecer distinta, dá opiniões sobre todos os assunt...

«Quando sentem os filhos preocupados, as mães obstinam-se em os fazer comer à força, como se isso os ajudasse. Ele descompunha-te, como eu,...

«Então, começaram os anos de gestações, de acidentes, de partos, que me forneciam mais pretextos que os necessários para me afastar de ti. ...

      «A meio da noite, o meu sofrimento despertava-me. Estava preso a ti, como a raposa na armadilha. (...) Eu não era um monstro. A prime...

  «Tu estavas à janela, de cabeça inclinada. Com uma das mãos seguravas o cabelo; com a outra, escovava-lo. Não me viste. Olhei-te um ins...

«O meu coração (choca-te, eu falar no meu coração?), pois o meu coração esteve prestes a estalar. Só me vieram aos lábios palavras hesitant...

«Contemplei a minha imagem como se fosse outro, ou, antes, como se tivesse voltado a ser eu próprio: o homem que ninguém amou, por quem n...

François Mauriac. O Nó de Víboras . Tradução de Maria Conceição Ramírez Cordeiro. Livros de bolso europa-américa., p. 35

François Mauriac. O Nó de Víboras . Tradução de Maria Conceição Ramírez Cordeiro. Livros de bolso europa-américa., p. 34

    «Repetiste-me várias vezes que não estavas arrependida. Contendo a respiração, deixei-te falar. Garantiste-me que não terias sido feliz...