sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

a mastigada dor de não poder
com os dedos tocar o Sol e a Lua,
a mágoa vil de me apodrecer
rumor e cócega dos vermes que me tomam
até ficar apenas dos meus ossos
a mais ímpia e crua gargalhada,
quanto mais só me fico e demoro
os ombrais do destino aproximando,
choro, Senhor, de rastos choro,
miserando, Senhor, tão miserando,
que no côncavo do ventre do meu nada
o meu eco tornasse, em Vós tocando.



24/6/87, Herdade do Sobrado.


Jorge Guimarães. Odes Nocturnas. Colecção Poesia e Verdade. Guimarães Editores, Lisboa, 1990., p. 21