sábado, 30 de março de 2013

«Se não sou amado, tanto pior - amarei outra!»


Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 163
 
 
SEREBRIAKOV
 
«Nestes últimos dias sofri tanto, Miguel Lvovitch, reflecti tanto que me parece que podia escrever um tratado completo sobre a melhor forma de viver, para edificação da posteridade. Enquanto se vive, aprende-se - e o melhor mestre é a infelicidade.»



Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 149

Se pareço mais corajoso que vocês é porque eu sou o mais infeliz.


 
SEREBRIAKOV

«(...) Não nos calemos, meus amigos, falemos, falemos. É o melhor que há a fazer na nossa presente situação. Devemos encarar a  desgraça de frente, sem temor. Se pareço mais corajoso que vocês é porque eu sou o mais infeliz.»

Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 148

«E quando esta minha pele estiver desfeita,
eu verei Deus sem a minha carne,
                           
                                                      JOB

«Amava-a bastante, é certo, mas ainda amava mais o meu vício, esse desejo de fugir de todos os lados à procura sei lá de quê, por estúpido orgulho, sem dúvida, por estar convencido de uma espécie de superioridade.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 220
 
«Tornamo-nos rapidamente velhos, e de forma irremediável. Apercebemos-nos disso pelo jeito que apanhamos de amar a nossa própria desgraça, mesmo sem querer. É que a natureza tem mais força que nós, aí está. Treina-nos um género, e depois já não vamos poder sair dele. Eu, por exemplo, tinha tomado o rumo da intranquilidade. A pouco e pouco vamos tomando o nosso papel e o nosso destino a sério, sem repararmos nisso, e depois, quando caímos em nós é demasiado tarde para mudar.
Fizemo-nos pessoas muito inquietas e, claro está. para sempre.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 220

Molly


«Por Molly, uma das lindas raparigas dessa casa, não tardou que eu sentisse o excepcional sentimento de confiança que entre  os seres amedrontados substitui o amor.» 
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 219

«Só existíamos por uma espécie de hesitação entre o idiotismo e o delírio.»

 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 217
 
«A coragem não consiste em perdoar, acho que se perdoa sempre de mais! E não serve de nada, está mais que provado.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 205
 
«Todos os dias temos de nos resignar a conhecer um pouco mais de nós, desde que nos falte coragem para acabar de uma vez para sempre com as nossas próprias choraminguices.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 198

«Por natureza somos tão fúteis, que só as distracções conseguem impedir-nos realmente de morrer.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 197

Eu sempre receara ficar mais ou menos vazio

 

«Eu sempre receara ficar mais ou menos vazio; não ter, em suma, qualquer razão séria para existir. Naquele momento, perante factos estava bastante ciente do meu zero individual. Num meio tão diferente daquele onde tinha hábitos mesquinhos, foi como se me dissolvesse instantaneamente. Sentia-me perto de já não existir, muito simplesmente. Por isso, mal me tinham deixado de falar das coisas familiares, eu descobria que nada me impediria de afundar numa espécie de irresistível tédio, numa espécie de adocicada, de assustadora catástrofe de alma. Uma aversão.»
 
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 197
 
«Não se julgue que é fácil adormecer quando nos pomos a duvidar de tudo; por causa daqueles tantos medos que nos meteram, principalmente.»
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 195

déspota


adjetivo e nome de 2 géneros
 que ou pessoa que exerce a autoridade de modo absoluto e arbitrário; tirano; opressor; autocrata

(Do grego despótes, «senhor da casa»)


A verdade deste mundo é a morte.

 
«E o pior é pensar como vamos arranjar forças bastantes para continuar a fazer no dia seguinte o que fizemos na véspera e em tantos outros dias já passados, onde encontraremos forças para as diligências imbecis, para mil e um projectos que não conduzem a nada, essas tentativas de vencer a  pesada necessidade, tentativas que abortam sempre e todas destinadas a convencer-nos, uma vez mais, de que o destino é insuperável, que todas as noites temos de cair da muralha com a angústia de ser sempre mais precário, mais sórdido, esse dia seguinte.
   Talvez seja a idade que surge, traidora,  e nos ameaça com o pior. Em nós já não temos música suficiente para fazer dançar a vida, ora aí está. Toda a juventude foi morrer no fim do mundo, num silêncio de verdade. Para onde havemos de sair, pergunto eu, se em nós já não há uma suficiente soma de delírio? A verdade é uma agonia sem fim. A verdade deste mundo é a morte. Temos de escolher: mentir ou morrer. Eu  cá nunca pude matar-me.»
 
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 194/5
«Só terias como certo morrer muito estupidamente, disse a mim mesmo, como toda a gente, quero eu dizer.E ter confiança nos homens já é meia morte.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 174

terça-feira, 26 de março de 2013

cleptocracia

cleptocracia
nome feminino
POLÍTICA sistema em que se permitem ou aprovam atos corruptos, sobretudo no que se refere à utilização de dinheiro público

cleptocracia In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-26].
Disponível na www: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/cleptocracia
>.
nome feminino

POLÍTICA sistema em que se permitem ou aprovam atos corruptos, sobretudo no que se refere à utilização de dinheiro público

O destino do canário


«O destino do canário é ficar na gaiola e assistir à felicidade dos outros, - pois bem, só lhe resta ficar lá toda a vida.»



Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 132

escolástica


nome feminino
 
1. FILOSOFIA o sistema filosófico da «Escola», isto é, ensinado nas escolas da Idade Média, sobretudo a partir de S. Tomás de Aquino (1225-1274), que, confiante na possibilidade de harmonizar a razão e a fé, a filosofia e a teologia, procurou integrar num sistema coerente a filosofia aristotélica e o dogma cristão

2. pejorativo atitude intelectual caracterizada pelo verbalismo, pelas subtilezas puramente formais, pelo conformismo e pelo culto da autoridade intelectual
 
(Do grego skholastiké, «da escola», pelo latim scholastĭca, «declamações») escolástica

HELENA
Que quer dizer com isso?

FEDOR
Quero dizer que quando eu lanço as minhas vistas sobre uma mulher, é-lhe impossível escapar-me.


HELENA
Não, não quer dizer isso. Quer dizer que o senhor é estúpido e insolente.



Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 108

VOINITZKI

«Acho que ainda acabarei por desprezar esta mulher!É tímida como uma garota e gosta de filosofar como um velho diácono paramentado com todas as virtudes! Azeda como uvas verdes! Ou leite coalhado.»


Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968.,

(com esse olhar cheio de desconfiança e manha nunca amará ninguém)


«Você não tem ainda vinte anos mas é já uma velha, uma argumentadora como o seu pai ou o seu tio Jorge, e não ficaria nada espantado se me mandassem chamar para lhe tratar da gota. Mas não vê que não se pode viver assim! Que importa o homem que eu sou? O que é preciso é olhar-me nos olhos, sem pensamentos reservados, sem programa. É preciso primeiro que tudo procurar em mim o ser humano - se não, nunca chegará a ter relações de amizade com os outros. Adeus! E acredite no que lhe digo: com esse olhar cheio de desconfiança e manha nunca amará ninguém.»


Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 81/2

segunda-feira, 25 de março de 2013



«(...), luto contra aqueles que não me compreendem, acontece-me sofrer de modo intolerável...»


Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 79

«Porque terei eu este desgraçado feitio?»



Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 71

Que filosofia maldita é essa que a retém?


«(...) Que espera? Que filosofia maldita é essa que a retém? Quando conseguirá compreender
que ter aprisionado a sua juventude, amordaçado a sua vontade de viver, não é moral nenhuma?»


Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 69

«Não tenho passado. Dissipei-o estupidamente em coisas fúteis. E o presente é de um absurdo horrível. Eis a minha vida e o meu amor. Para que servem? Que hei-de fazer deles? O meu amor inútil morre como um raio de sol dentro de um fosso e eu morro com ele.»


Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 69


SEREBRIAKOV

  Dizem que a gota de Turgueniev se acabou
por transformar em angina do peito. Tenho
muito medo que me aconteça a mesma coisa.
Maldita velhice! É uma coisa odiosa, diabos
a levem! Desde que envelheci que me aborreço
a mim próprio e dá-me a impressão de que vocês
estão fartos de mim.

HELENA

 Quando te ouvimos falar da tua velhice dá
a impressão que nós é que somos responsáveis
por ela.


SEREBRIAKOV

 E tu estás ainda mais farta que todos os
outros.

HELENA

Que aborrecimento! (Levanta-se e vai sentar-se
longe dele)




Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 59

O selvagem


«O selvagem, como é simpático! Vem muitas vezes a nossa casa, mas sou tímida e nunca soube falar-lhe nem acolhê-lo amavelmente. Deve pensar que sou má ou demasiadamente orgulhosa.»



Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 53

por artes de berliques e berloques

por artes diabólicas, como por magia

''Quem sabe demais envelhece depressa.''

Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 39

''não sei usar as flores da retórica''


Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 21

féerie

féerie [feRi]
nome feminino
1. mundo das fadas
2. história de fadas
3. fantasmagoria
4. encantamento; universo poético

féeries In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-25].
Disponível na www: http://www.infopedia.pt/pesquisa-global/f%C3%A9eries
>.nome feminino

1. mundo das fadas
2. história de fadas
3. fantasmagoria
4. encantamento; universo poético

«(quando se escreve nada há de mais importante que o ritmo.)»

 
Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 65
«O sol ergue-se. Raios verdes e amarelos tombaram sobre a praia dourando os flancos de barco carcomido e arrancando reflexos azul de aço aos cardos marinhos de folhas couraçadas. A luz quase trespassa as frágeis ondas que correm em leque pela praia. A jovem que ao sacudir a cabeça fizera dançar o topázio, a água-marinha, todas as jóias cor de água com cintilações de fogo, afastou os cabelos da fronte e de olhos muito abertos traçou um caminho a direito sobre as ondas.O seu brilho fremente escureceu; as ondas confundiram-se; os seus verdes abismos aprofundaram-se e escureceram, atravessados talvez por cardumes de peixes errantes. Ao recuarem depois de se desfazerem na areia, as ondas deixam na praia uma linha escura de gravetos e pedaços de cortiça, ciscos de palha e pequenos ramos, como se uma frágil chalupa tivesse naufragado e rompido o casco e o seu marinheiro houvesse nadado para a praia e escalado a falésia deixando a sua leve carga ser arrastada pela corrente.
  
     No jardim, os pássaros que na madrugada cantaram ao acaso, espasmodicamente na penumbra de uma árvore, de um silvado,cantavam agora em coro, em sons nítidos e estridentes, ora juntos como se estivessem conscientes da presença dos seus companheiros, ora solitários, como se se dirigissem ao pálido azul do céu. Voaram todos ao mesmo tempo quando o gato preto se movimentou ao longo dos arbustos e a cozinheira os assustou lançando mais cinzas para o monte. Havia medo no seu canto e suspeita de dor e também a alegria que tem de ser arrancada a cada instante. Depois cantaram todos ao desafio no ar límpido da manhã, voando muito por sobre os olmos, perseguindo-se, escapando-se, bicando-se, volteando no espaço. Em seguida, cansados de se perseguirem, cansados de voar, desceram graciosamenre, baixaram delicadamente, pousaram silenciosos nas árvores, nos muros, com os olhos brilhantes à espreita, as cabeças voltando-se para aqui e para acolá, atentos, despertos, intensamente conscientes de qualquer coisa, de um objecto particular.
    Talvez fosse uma casca de caracol erguida na relva como uma catedral cinzenta, um edifício incendiado marcado por círculos escuros na sombra verde da relva. Ou talvez  vissem o esplendor das flores formando um clarão vermelho sobre os canteiros, enquanto os espaços abertos entre os caules formavam uma série de túneis avermelhados e sombrios. Ou então fitavam as pequenas folhas brilhantes da macieira, dançando de modo contido, cintilando hirtas por entre as flores salpicadas de cor-de-rosa. Ou então viam uma gota de chuva  cair sobre a sebe e aí ficar suspensa, com a imagem de uma casa inteira contida dentro dela e olmos tão altos como torres. Ou então contemplavam o sol de frente e os seus olhos tornavam-se grãos de ouro.
   De olhos voltados para um e outro lado, desciam mais para baixo entre os ramos, nas sombrias áleas desse universo onde as folhas apodrecem e as flores caem. Depois, um deles desceu como uma flecha, num voo certeiro e bicou o corpo mole e monstruoso de um verme indefeso, bicou-o uma e outra vez e deixou-o a apodrecer. Lá em baixo,entre as raízes onde as flores sucumbem, há odores de morte e gotas no flanco intumescido das coisas inchadas. A pele dos frutos apodrecidos estala deixando escapar uma substância demasiado espessa para escorrer. As lesmas deixam atrás de si secreções amarelas e às vezes, aqui e ali, um corpo informe, como uma cabeça em cada extremidade, oscila lentamente de um lado para o outro. Os pássaros de olhos de ouro, saltando entre as folhas, observam ironicamente essa húmida podridão. De vez em quando mergulham selvaticamente a ponta do bico na mistura pegajosa.
   O sol atingiu finalmente a altura da janela, aflorou a cortina bordada a vermelho e revelou círculos e linhas. A claridade da luz nascente instalou-se no fundo do prato e o seu brilho concentrou-se no gume de uma faca. Cadeiras e armários surgiram em segundo plano, mas apesar de separados uns dos outros parecem inexplicavelmente entrelaçados.Tornaram-se mais brancas as águas do espelho na parede. No peitoril da janela a flor real recebeu a companhia de uma flor fantasma. E, no entanto, o fantasma fazia parte da flor verdadeira pois quando um botão abria, um outro botão semelhante desabrochava também na flor mais pálida do espelho.
   O vento soprou. As ondas ressoaram na praia, como guerreiros com turbantes, como homens de turbante brandindo azagaias envenenadas sobre as cabeças e precipitando-se ao encontro de rebanhos de ovelhas brancas.»
 
 
Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 60-62
«Quero também aumentar a minha valiosa colecção de observações sobre a verdadeira natureza da vida humana»



Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 56

«É mais difícil renunciar ao amor do que à vida.»

Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 78

«As árvores cresciam na sombra e subiam ao céu para se juntarem à noite.»

Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 78
«Digo-vos, simplórios, vencidos da vida, escorraçados, espoliados, transpirados de sempre, previno-vos: quando os grandes deste mundo resolverem amar-vos é porque vão transformar-vos em carne para canhão.»
 
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 75/6

O roubo do pobre

«O roubo do pobre faz-se uma maliciosa recuperação do poder individual, está a compreender...Aonde iríamos parar? Por isso, repare bem, a repressão dos delitos insignificantes é exercida em todos os climas e com rigor extremo, não só como meio de defesa social, mas também, e acima de tudo, como aviso severo a todos os infelizes para continuarem no seu lugar e na sua casta, mansos, resignadamente satisfeitos por morrer ao longo dos séculos, e indefinidamente, de miséria e de fome...»
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 75

«(...) as suas perversidades são consagradas pelas leis.»

Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 74

«A maior parte das pessoas só morre no último momento; outras começam a fazê-lo e a agarrar-se a isso com vinte anos de antecedência e às vezes mais. São os felizes do mundo.»



Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 46

Nesta profissão de sermos mortos


«Nesta profissão de sermos mortos não devemos mostrar-nos difíceis; temos de proceder como se a vida vá continuar, o mais duro é isto, esta mentira.»



Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 45

«Eu próprio cheguei a ver quatro homens, rabo incluído, a dormitar em plena água mortos de sono, até ao pescoço.»



Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 45

«Mas a partir de Outubro acabaram-se de vez as pequenas abertas e a geada tornou-se cada vez mais espessa, densa, mais tuberosa, recheada de granadas e balas. Depressa entrámos em plena borrasca, e aquilo que procurávamos não ver, a nossa própria morte, surgia em cheio à frente e já não conseguíamos ver mais nada.»



Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 43/44

«Fazia-se bicha para ir morrer. O próprio general já não encontrava acampamentos sem soldados. Acabávamos por nos deitar em pleno campo, generais ou não. Os que ainda tinham um resto de sentimento, perderam-no.»



Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 41

Miosótis

«Flor Miosótis significa recordação, fidelidade e amor verdadeiro. É também conhecida como “Não-me-esqueças.»
 
(...)
 
 
«Segundo a lenda europeia, o jovem apaixonado era um cavaleiro que ao tentar apanhar a flor Miosótis para oferecer à sua amada, caiu no rio e se afogou devido ao peso da armadura que usava. Desde então, a flor simboliza o amor sincero e desesperado.
 
       A explicação do nome "não-me-esqueças" da flor pode ser explicada por algumas lendas. Uma delas diz que num belo dia de Primavera, dois jovens apaixonados se encontravam à margem de um rio. Nas águas turbulentas, a jovem avistou um ramo de miosótis flutuando e ficou maravilhada pela beleza da flor. O seu amado, mergulhou então para apanhar as flores e oferecê-las à sua namorada. No entanto, quando tentou voltar para a margem, foi arrastado pela forte correnteza. Esta lenda conta que pouco antes de desaparecer ele gritou para a sua amada: "Não me esqueça, me ame para sempre!". A partir desse dia a flor miosótis passou a crescer nas margens dos rios, para que mais ninguém tivesse que morrer por sua causa.
         Uma outra lenda conta que Adão, quando estava no Jardim do Éden dando nome às plantas, esqueceu-se de uma planta muito pequenina, que interpelou Adão para saber qual seria o seu nome. Adão então disse que seria “Não-me-esqueças”, para que ele nunca mais a esquecesse.
 
  A flor Miosótis (Não-me-esqueças) é conhecida também em outras línguas como: “Forget-me-not” (Inglês), “Vergissmeinnicht” (Alemão), “Nomeolvides” (Espanhol), “Nontiscordardimé” (Italiano).
 
      A flor Miosótis foi utilizada como emblema secreto da Maçonaria, para que os maçons pudessem se identificar durante as perseguições às lojas maçônicas na Alemanha.
É uma flor que simboliza a caridade e a fraternidade.
Dizem que as lágrimas derramadas nas pétalas pela Virgem Maria deram a cor azul à flor. Existem Miosótis também nas cores branca e rosada. São plantas rasteiras que se dão bem em baixas temperaturas e surgem na primavera.»
 

trouxe-mouxe


elemento da locução adverbial

a trouxe-mouxe a torto e a direito, confusamente, a esmo, atabalhoadamente

sábado, 23 de março de 2013

Um minuto de silêncio
 
"Nos anos 70, Marina Abramovic viveu uma intensa história de amor com Ulay. Durante 5 anos viveram num furgão realizando todo tipo de performances. Quando sentiram que a relação já não valia aos dois, decidiram percorrer a Grande Muralha da China; cada um começou a caminhar de um lado, para se encontrarem no meio, dar um último grande abraço um no outro, e nunca mais se ver.

23 anos depois, em 2010, quando Marina já era uma artista consagrada, o MoMa de Nova Iorque dedicou uma retrospectiva a sua obra. Nessa retrospectiva, Marina compartilhava um minuto de silêncio com cada estranho que sentasse a sua frente. Ulay chegou sem que ela soubesse e... Foi assim."

(Traduzido por Rodrigo Robleño)
 
 
 

sexta-feira, 22 de março de 2013


«As flores inclinam a cabeça contra a janela. Vejo pássaros selvagens. E instintos mais selvagens que o mais selvagem dos pássaros vibram no meu coração.» 


Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 49

''Durante toda a minha vida - queira Deus que não seja longa - realizarei a gigantesca amálgama dessas contradições tão cruelmente evidentes em mim.»




Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água.,

gostar do penacho

 procurar ou gostar de lugares de representação

AVES CLANDESTINAS


Há aves de quem nos queremos lembrar
ou que nunca vimos, aves desempossadas
cobertas por campanários de literatura

Aves clandestinas numa curva adjacente
imponderadas pelo desgaste das palavras
como veias carregadas de tinta subversiva

Aves que espalhavam ideias como sangue
e escondiam tipografias por turnos
na encenação decisiva dos incêndios


Tiago Patrício. O Livro das Aves. Edições Quasi, 2009,.p. 42


«O que dizes só é verdadeiro aqui, só é verdadeiro agora.»


Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 20

«Odeio coisas instáveis, coisas nevoentas. Odeio andar por aí a confundir as coisas.»




Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 17

«O sol não nascera. O mar apenas se distinguia do céu pelo leve preguear das águas, semelhantes a um tecido finamente enrugado. Lentamente, à medida que o céu clareava, uma barra de sombra desceu no horizonte, separando o céu do mar, e o grande tecido cinzento ficou marcado por grossas linhas que se agitavam sob a superfície, perseguindo-se num ritmo infindável.
  Ao aproximarem-se da praia as ondas erguiam-se, tomavam forma e desfaziam-se arrastando pela areia um ténue véu de espuma branca. A ondulação detinha-se, partia de novo, suspirando como alguém que dorme e cujo sopro vai e vem sem que a sua consciência o saiba. Pouco a pouco, a barra escura do horizonte clareou como as impurezas de um vinho antigo que se depositassem numa garrafa, deixando transparecer o seu vidro. Lá ao fundo, também o céu se tornou translúcido, como se nele se houvesse desprendido um sedimento branco, ou o braço de uma mulher reclinada no horizonte erguesse ao alto uma lâmpada. Faixas de branco, amarelo e verde alongaram-se sob o céu como longas folhas de um leque. Depois a mulher ergueu a lâmpada ainda mais alto: o ar inflamado pareceu cindir-se em fibras vermelhas e amarelas, elevando-se da superfície verde num frémito ardente, como as chamas envoltas em fumo de uma fogueira. Pouco a pouco, todas as fibras se fundiram numa única massa incandescente e o cinzento do céu transformou-se num milhão de átomos de um suave azul. A superfície do mar tornou-se transparente e as grandes linhas escuras quase desapareceram no ondular das águas e na sua cintilação. O braço que sustinha a lâmpada continuou a subir devagar até que uma grande labareda surgiu.
  Um disco de fogo ardeu no rebordo do horizonte e o mar à sua volta tornou-se um esplendor de ouro.
  A luz feriu as árvores no jardim, e as folhas agora transparentes iluminaram-se uma a uma. Um pássaro cantou alto. Houve uma pausa. Depois outro pássaro retomou, mais baixo, o mesmo canto. O Sol deu contornos às paredes da casa e poisou como a ponta de um leque numa persiana branca, deixando uma dedada de sombra azul sob a folhagem próxima da janela de um quarto. A persiana estremeceu ao de leve, mas dentro de casa tudo permaneceu vago e sem substância. Lá fora, os pássaros cantavam as suas melodias vazias.»
 
 
Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 7/8

quinta-feira, 21 de março de 2013

OS PINTASSILGOS DE MIRANDELA

Nasci numa casa com gaiolas brancas
espalhadas pelo Verão
Era o meu pai vivo e o meu avô estival
entrava pela hora mais terna
enquanto encarregado das gaiolas
e a minha infância inteira decrescia
no canto da casa dos pássaros

O alpendre era de uma inclinação natural
com avô e pássaros encostados à sombra dos álamos
e as gaiolas casas que os abrigavam
do frio, da fome e dos gatos bravos
A minha alegria era quente como a terra
e contava ensinar ao meu filho bisneto
a tracção pelos grilos, caracóis
e pintassilgos na doçura das borboletas
Em Mirandela havia um vale junto a um rio
com pomares e o cheiro de figos fáceis
Os pintassilgos divididos na abundância
eram como crianças atrás das amoras
que inspiram as flores de uma música sucessiva

O Pintassilgo é a mais bela ave silvestre
e se não pudesse manter as gaiolas em casa
era como se não houvesse onde permanecer
Eles amotinavam-se nas minhas barbas
desalojam corvos e os dragões dos poemas
fazem a tarde parecer tão antiga e adormecer
como a infanta primavera em que o meu avô
era o estio e os bisnetos existiam mesmo
e os nossos olhos acariciavam os pássaros,
que é tão tarde agora para dizer aqueles que morriam
exaustos a contar os meses atrás das grades



Tiago Patrício. O Livro das Aves. Edições Quasi, 2009,.p. 33/4

cabotino


nome masculino


 1. cómico ambulante
2. actor pouco competente na sua profissão
3. figurado indivíduo que alardeia qualidades que não tem

(Do francês cabotin, «idem»)

«Os caçadores são os mais ferozes amantes das aves» 



Tiago Patrício. O Livro das Aves. Edições Quasi, 2009,.p. 17

«(...)»
Mas por vezes o travesso vento primaveril,
Ou a combinação das palavras num livro de acaso,
Ou o sorriso de alguém puxavam-me de repente
Para a vida que não se realizou.
Nesse ano teria acontecido isso e aquilo,
Nessoutro - isto: viajar, ver, pensar
E lembrar, e em novo amor
Entrar, como num espelho, com a consciência obtusa
Da traição e com, ainda ontem não a tinha,
Uma pequena ruga...




Anna Akhmatova. Poemas. Edição Bilingue. Tradução do russo, selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitrier. Edições Cotovia, Lisboa, 1992.

3


Anoitece, e no céu azul muito escuro
Onde há pouco a igreja de Jerusalém
Resplandecia com misteriosa magnificiência,
Apenas duas estrelas sobre a confusão dos ramos,
E a neve esvoaça de algures sem ser do alto,
Mas como se da terra se erguesse,
Preguiçosa, terna, com cautela.
O meu passeio foi-me estranho nesse dia.
Quando saí, ofuscou-me
O limpo reflexo sobre coisas e rostos,
como se por todo o lado as pétalas pousadas
Dessas rosas pouco grandes amarelo-rosadas,
Cujo nome eu esqueci.
O frio ar seco e sem vento de Inverno
De tal modo acariciava e guardava cada som
Que me parecia: o silêncio não existe.
E na ponte, pela balaustrada ferrugenta
Enfiavam as mãos com pequenas luvas
As crianças, para alimentar patos sôfregos e matizados
Que mergulhavam na brecha cor de tinta.
E eu pensei: não pode ser
Que um dia eu esqueça isto.
E se um caminho difícil está à minha frente,
Eis um leve peso, que posso
Carregar comigo para na velhice, na doença,
Quem sabe, na miséria - recordar
O pôr do sol exaltado, e a plenitude
Das forças da alma, e o fascínio da vida querida.


1914-1916

Anna Akhmatova. Poemas. Edição Bilingue. Tradução do russo, selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitrier. Edições Cotovia, Lisboa, 1992., p. 47

«Há sempre um chinelo velho para um pé doente.»


Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 484

carpideira

nome feminino

 1. pessoa a quem se paga para chorar os defuntos durante os funerais
2. figurado mulher que anda sempre a lastimar-se
3. figurado lamúria; choradeira

«Desgraçados dos que possuem o juízo todo.»



Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 477


«(...) aflorava o assunto, mas com muitos rodeios a fim de ver se conseguia levar a águia ao seu moinho.»




Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 466


«Os últimos cartuchos, ó minha perdiz,
Desperdicei-os com as cotovias.
E agora cheio de despeito
Só me resta olhar para ti.»








Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 444

deferência


nome feminino

1. atenção respeitosa
2. condescendência respeitosa
3. acatamento




«     Senhora do sangue do meu altar
Sangue do sacrifício no monte sagrado
O do nosso filho - o sangue do cordeiro - corre no monte
                                                sagrado:
              sangue do teu ventre...sangue do sacrifício...!»


Turcsány Péter.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p. 63


«depois de vós, não é permitido ter frio.»



Tóth Erzsébet.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p. 61

COMO SE



meia-noite no quarto a luz pisca
abro esta janela para mim
o sonho bruxuleia quase extinto
faço como se não tivesse frio

faço tudo como se fosse amanhã
porquê acreditar quando se discursa
porquê acreditar que aqui agora é Verão
a palavra esquarteja-se na minha boca

juntam-se estorninhos por cima de mim
-céus o que eu também estou a dizer -
só aranha caça moscas de Outono
será que alcanço uma morte digna


1974


Pátkai Tivadar.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p. 47

Luto Branco


a Cskonai Attila

Acumula-se, como nos lábios fria
nicotina, nos arbustos o amarelo de morte,
em roto casaco as árvores envoltas:
nevoeiro: - luto branco do nosso parque!


Os lagos são máscaras de prata geladas,
como a calma no rosto de minha mãe!
Distintivos - murchar das folhas, das equimoses
na folhagem do bosque, no meu rosto.


Unha escavadora, a Lua sob os olhos nossos;
flores do Dia dos Mortos:
caem-nos crisântemos nos braços
-consoladores!- na neve dos nossos ossos!


Troncos em fila para um Deus severidade,
pensamentos desarmados
-deforma-se a máscara de prata do lago:
degelo - soluça síroco.


Calma severa no rosto de minha mãe;
planta árvores de folha-distintivo
na colina sagrada de crisântemos:
que eles se elevem aos país-ave.


E acumula-se ainda, como nos lábios fria
nicotina, nos arbustos o amarelo de morte,
e em roto casaco as árvores envoltas
-nevoeiro! - luto branco do nosso parque!

Géczi János.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p.23

quarta-feira, 20 de março de 2013



«-A pobreza precisa de alegria, meu filho - disse a velha. - A dor necessita de distracção, senão devora-nos. Mais vale nós a devorarmos.- Enquanto falava, batia com o punho numa pedra. - A mim, que estou a divertir-me, a Morte já me fez sobrer bem. Como vingar-me daquele miserável?
já não posso conceber filhos, senão ela havia de ver.» 


Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 437


«Morremos por ser homens sem lenda, sem grandeza, sem mistério», dirá por sua vez o próprio Céline. E talvez seja esta a fonte das desgraças do homem moderno.



Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 13

bípedes em busca de uma côdea

 
«Céline fala pelos não-judeus e faz-se vítima: « Nada tenho de especial contra os Judeus enquanto judeus, ou seja, galfarros como os outros bípedes em busca de uma côdea...Não me incomodam nada. Um judeu vale tanto como um bretão, assim em bloco, em igualdade de circunstâncias, como um tipo de Auvergne, um franco-monhé, um 'filho de Maria''...É possível...Contra o racismo judaico é que me revolto, é que sou mau e fervo até às profundezas das cuecas!...Vocifero! Faço estrondo! parêntesis  Para o Judeu, lembrem-se disto...quem não for judeu é animal!»  



Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 10

Louis-Ferdinand Céline


«Mas em Céline, homem de obcecações e ódios irreprimíveis, nunca existiu meio termo. Céline não hesitou em mostrar-se desabrido e fanático.»

Aníbal Fernandes


Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 10

tartufo

tartufo
nome masculino
indivíduo hipócrita; velhaco; devoto fingido
(Do italiano Tartufo, antropónimo, personagem da comédia italiana, aproveitada por Molière, pelo francês Tartufe, «idem»)

tartufo In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-20].
Disponível na www: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/tartufo
>.
tartufo
nome masculino
indivíduo hipócrita; velhaco; devoto fingido
(Do italiano Tartufo, antropónimo, personagem da comédia italiana, aproveitada por Molière, pelo francês Tartufe, «idem»)

tartufo In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-20].
Disponível na www: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/tartufo
>.
nome masculino

 indivíduo hipócrita; velhaco; devoto fingido

(Do italiano Tartufo, antropónimo, personagem da comédia italiana, aproveitada por Molière, pelo francês Tartufe, «idem»)

«O poeta rouba onde pode.»


Méliusz József
«no fogo do relâmpago galopa o cavalo,»


Géczi János.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p.21

terça-feira, 19 de março de 2013

CADA VEZ MAIS LINDO




O espelho de gelo todo ensanguentado
                        significa amor
distância
o pátio da prisão
                       coberta de neve

                    vejo
o luar desenterrado
e cai               cai
sobre a minha sombra
cai a neve sem parar



Biró József.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p.15

''a noite de LUAR cheira a PÃO''


Biró József.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p.13



«Colocou palavras milagrosas
No tesouro da minha memória.»



Anna Akhmatova. Poemas. Edição Bilingue. Tradução do russo, selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitrier. Edições Cotovia, Lisboa, 1992., p. 43







3


SOMBRA
                                                                                                     


                                                                                                          Que sabe certa mulher
                                                                                                                                Sobre a hora da morte?

                                                                                                                 O. Mandelshtam



Sempre mais elegante, mais rosada, mais alta que todas,
Para que vens ao de cima do fundo dos anos tombados
E a memória rapace diante de mim faz tremular
O teu perfil transparente por trás dos vidros do coche?
Como se discutia nessa altura - tu, anjo ou pássaro!
Uma pequena palha te chamou o poeta.
Para todos por igual através das negras pestanas
Dos olhos em abismo fluía a terna luz.
Oh sombra! Perdoa-me, mas o tempo claro,
Flaubert, a insónia e os lilases tardios
De ti - bela de 1913 -
E do teu dia indiferente e sem nuvens
Me fizeram lembrar ...Mas tais recordações
A mim não me ficam bem. Oh sombra!


9 de Agosto de 1940. De noite.

Anna Akhmatova. Poemas. Edição Bilingue. Tradução do russo, selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitrier. Edições Cotovia, Lisboa, 1992., p. 33

AOS DEFENSORES DE ESTALINE


São estes que gritavam «Solta
Barrabás para nós na festa», estes
Que mandaram a Sócrates beber
Veneno na estreiteza muda da prisão.

Despejar-lhes a mesma bebida
Na boca inocentemente difamatória,
A estes queridos amantes das torturas,
Peritos na fabricação de órfãos.


1962


Anna Akhmatova. Poemas. Edição Bilingue. Tradução do russo, selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitrier. Edições Cotovia, Lisboa, 1992

sábado, 16 de março de 2013

«O coração de Kosmas era ainda uma gruta escura, povoada de visões.»


Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 417

Homem cretense


«Haviam-se sentado num banco. «Como te chamas?», indagou o rapaz. «Noémia». «Fala, Noémia, a vida deve ser-te difícil. Tem confiança em mim, sou cretense.» «Que é isso de cretense?» « Um homem ardente.»



Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 415

«A vida é curta, digamos o que temos a dizer enquanto é tempo.»


Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 414

«-Crêem em Deus? Isso é que me interessa saber.
 -Crêem numa nova divindade, cruel e poderosa, e que pode chegar a ser omnipotente.
-Qual?
-A Ciência, Reverendíssimo Padre.
-Um espírito impiedoso, isto é, o diabo.»



Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 412

sexta-feira, 15 de março de 2013

« -Não deves ter medo - dizia-me. - Só se aprende, fazendo. Basta ter vontade...Se me engano, corrige-me.»


Cesare Pavese. A Lua e as Fogueiras. Tradução e Prefácio de Manuel Seabra. Livros de bolso. Editora Arcádia, Lisboa., p. 85

«Tinha já aqueles olhos tristes, de gato, e sempre que falava, concluía: «Se me engano, corrige-me.»



Cesare Pavese. A Lua e as Fogueiras. Tradução e Prefácio de Manuel Seabra. Livros de bolso. Editora Arcádia, Lisboa., p. 84

«Não sabia que crescer queria dizer partir, envelhecer, ver morrer(...)»



Cesare Pavese. A Lua e as Fogueiras. Tradução e Prefácio de Manuel Seabra. Livros de bolso. Editora Arcádia, Lisboa., p. 71

quarta-feira, 13 de março de 2013

«Nunca encontrei uma rapariga que soubesse o que é a música...»


Cesare Pavese. A Lua e as Fogueiras. Tradução e Prefácio de Manuel Seabra. Livros de bolso. Editora Arcádia, Lisboa., p. 19


«Nós não somos do século d'inventar palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século d'inventar outra vez as palavras que já foram inventadas.»



 José de Almada-Negreiros


«Cesare Pavese, um homem em busca da Morte.»

Manuel de Seabra no prefácio



Cesare Pavese. A Lua e as Fogueiras. Tradução e Prefácio de Manuel Seabra. Livros de bolso. Editora Arcádia, Lisboa., p. 10



All is the same.
Time has gone by.
Some day you came,
some day you 'll die.


Some one has died
long time ago.

Consulta o teu coração e decide o que te parecer melhor.

«Lê esta carta e faze o que Deus te inspirar. Não há esperança. Ainda desta vez se luta para nada. Consulta o teu coração e decide o que te parecer melhor.»
   Franziu as sobrancelhas, o lábio superior arregaçou-se-lhe, descobrindo o dente rebelde.
  «Grande desgraça há-de haver se consultar o coração», resmungou. «O mundo explodirá».  



Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 376

títere


nome masculino

 1. boneco que se move por meio de cordéis e articulações; marioneta
2. figurado, pejorativo pessoa que se deixa manipular por outrem; bonifrate
3. popular aquele que gosta de provocar o riso; palhaço; bufão
4. popular janota; casquilho

(Do castelhano títere, «idem»)


«-Compreendi que, tendo-se medo de qualquer coisa, seja um leão, ou um homem, ou uma miragem, nos devemos lançar de cabeça, sempre em frente. Logo o medo desaparece. Deixa-nos e vai pegar-se a outro, ao leão, ao homem, ou à miragem. Eis aqui o segredo.»  


Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 356

«(...) a morte parecia tê-la esquecido.»


Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 346

«-A velhice nunca vem só, meus filhos - lamentava-se. - Como já não posso lutar com os braços, luto com a cabeça...até que se faça em pó.»  


Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 342

«Não tinha desejo nem vagar para conviver com ninguém.» 



Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 177


«(...) e como Deus iria ainda sofrer pela mão dos homens.»



Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 165


«(...) - Causo-te repugnância, Cate? - disse-lhe baixo, troçando. Sentiu-se apanhada de surpresa e baixou os olhos e a voz. - Porquê? - balbuciou, ela que só truncava as conversas.
  -Éramos novos, - recordei. - As coisas nunca acontecem a tempo.»




Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa,
p. 154
«-Este governo, - continuava o velho, - não pode durar mais.
 -Mas é por isso que dura. Todos dizemos «Está morto» e ninguém faz nada.
 - Tu que dizes? Que é que se há-de fazer? - perguntou Cate muito séria.
  Calaram-se todos e olharam-me.
  - Matar, - disse. - Tirar-lhes o poder. Continuar a guerra aqui em casa, enquanto aquelas cabeças não mudarem. Só ficarão tranquilos quando sentirem as bombas.»

 
 
 
Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa, p. 150

«Agradava-me cear, só e esquecido, na casa escurecida, ouvindo a noite, sentindo o tempo passar.»




Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa,
 p. 121


«É idiota não nos vermos quando temos esse direito (É melhor queimar depois o papel.) Desejava conhecê-lo e ter consigo uma franca conversa. Passe no domingo pela estrada da montanha e sente-se no muro do último atalho. Saudações de solidariedade.»
 
 

Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa,
 p. 98

«Era doce o barulho da chuva.»

Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa, p. 95

indócil

revérbero
nome masculino
1. ato ou efeito de reverberar; reflexo luminoso; resplendor
2. parte do forno que faz refletir o calor
3. lâmina metálica curva, refletora
4. aparelho destinado à iluminação da via pública
(Derivação regressiva de reverberar)


revérbero In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-13].
Disponível na www: http://www.infopedia.pt/pesquisa-global/rev%C3%A9rbero

Uma rapariga como outra qualquer



«-Tão-pouco julgava, desculpe, que você se entendia com Concia.
   Giannino ficou um pouco taciturno e voltou aos vidros.
  -Uma rapariga como outra qualquer, - disse finalmente. - Mas é muito ignorante. O velho tirou-a do carvoeiro. A velha Spanó
queria apanhá-la em casa.
   - É arrogante?
   -É uma criada.
   -Mas é bem feita, à parte o focinho.
   - Diz bem, - anuiu Giannino pensativo. - Esteve tanto tempo nos estábulos a guardar porcos, que tem um pouco o focinho dos animais.
     Éramos crianças quando andávamos com o velho Spanó pela montanha, e ela levantava a saia para sentar a pele nua sobre a erva, como os cães. Foi a primeira
mulher que toquei. Sobre as nádegas tinha calo e crosta. » 



Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa., p. 67

Elena


«Stefano gostaria que ela viesse de manhã e lhe entrasse na cama como uma mulher e não como um sonho que não pede palavras nem compromissos. As pequenas demoras de Elena, a excitação das suas falas, a sua presença simples, davam-lhe desejos.»



Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa, p. 39

sábado, 9 de março de 2013


«Ainda que o seu coração seja de pedra», pensava, «ela sempre se há-de enternecer». 


Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 162/3

«Sentado na cama, fumava, com o olhar mergulhado na noite através da janela do quarto.»

Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 162

«Deus muitas vezes fala por meio de sonhos.» 


Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 159


«Todos vós, pessoas importantes e ajuizadas,
sujais as calças com medo.» 




Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 156

o olho de vidro


«O capitão Elias era também um sobrevivente da revolução de 1821, espécie de torre fendida e coberta de ervas, empoleirada num monte, sem portas nem janelas, com as seteiras em ruínas. As balas tinham-lhe transformado em crivo o corpo atarracado. Falava com voz selvática, tonitruante. Um simples bom-dia bastava para assustar. Certo paxá arrancara-lhe o olho de vidro, o primeiro que apareceu em Creta. Era com esse olho que ele fitava as pessoas que não lhe agradavam. Mas, nas horas solenes, tirava-o, punha-o num copo de água e apresentava-se unóculo perante Paxá ou o Metropolita, para lhes lembrar (diziam) a revolução de 1821. Zarolho nesse dia, encaminhava-se para casa de Metropolita, entre dois outros notáveis e apoiando-se pesadamente à bengala.»

Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 148/9