segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

INSÓNIA



E agora voltar-se um pouco do outro lado,
e nada.
A ver se vem o sono,
como a dizer: «A ver se tu vens, morte.»
E, acordado, como nunca, permanecedor
com a água
até ao pescoço.
Ou «que mas dêem aqui todas»...
(E se mas dão todas?)
Há pancadas que se aproximam pelo quarto contíguo, e se desvanecem,
                                                           [antes de entrar completamente e apresentar-se.
Mas o silêncio nunca se habitua
a ser sempre silêncio.
E os olhos fecham-se
para não ver como chega
na completa escuridão
os medonhos
arautos.



José García Nieto Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 389

«A POESIA É UMA ARMA CARREGADA DE FUTURO»


Gabriel Celaya. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 379
(...)

«Volto a dizer-te quem és.
Volto a pensar-te, suspenso.
Volto a lutar como importa e a começar por onde começo.»


Gabriel Celaya. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 379

(...)

«Quero dar-te a confiança com que quiseram roubar-te.
Quero dizer-te quem és.
Quero mostrar-te a ti mesmo como tu foste sempre,
Sancho humilde, Sancho forte.»



Gabriel Celaya. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 377

«Sancho que viste as coisas como são e te calaste,»


Gabriel Celaya. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 377

«Sancho-Charlot que edificas como um Deus às bofetadas,
Sancho que tudo aguentas.»


Gabriel Celaya. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 376

«Sancho-vulgo, Sancho-ninguém, Sancho-Santo»


Gabriel Celaya. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 376

''ruídos inumanos''

Gabriel Celaya. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 375

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Quantas vezes, vou só, por um caminho adiante,
A meditar nas cousas.
E, meditando, torno-me distante
Das suas aparências mentirosas.
 «O que salva a criatura é o poder que ela tem de desviar os olhos do Abismo. Aparece-lhe a morte? Trata de magicar em outro assunto. E, na realidade consegue tal prodígio! Tão grande é a sua cobardia salvadora! O homem não tem coragem de enfrentar, cara a cara, a sua tremenda condição!»
«o humorismo, em Pascoaes, é mero disfarce da profunda ansiedade teodiceica que lhe agita a alma»

Sant'Anna Dionísio

aporia

a.po.ri.a
ɐpuˈriɐ
nome feminino
1.
FILOSOFIA dificuldade de solução de um problema
2.
dificuldade insolúvel
3.
figura de retórica em que se simula uma hesitação, uma dúvida
«E a paródia é que nos salva! Salva-nos a paródia, a sátira, a caricatura. Onde está a redenção das lágrimas? No riso.»
«O desespero da inexpressão, ou a impotência, recorre, algumas vezes, à ironia, essa máscara carnavalesca, máscara oca... Quem não pode, trapaceia, é ditado popular. A força da nossa inteligência ou manha, conforme o antigo significado desta palavra, é feita da fraqueza do nosso espírito»

Pascoaes
«Em O Pobre Tolo, esse autoretrato de Pascoaes «em desenho de lágrimas e riso» ou «em trágica ironia de si mesmo», temos o arauto do «Saudosismo» desencantado da sua aposta na doutrina do renascimento da Pátria pela via e pela força da «saudade revelada».

O Pensamento de Teixeira de Pascoaes Estudo hermenêutico e crítico .Dissertação de Doutoramento em Filosofia Apresentada à Faculdade de Filosofia de Braga, da Universidade Católica Portuguesa ,Braga– 1 9 9 4

''Pensar em si e pensar fora de si''

O Pensamento de Teixeira de Pascoaes Estudo hermenêutico e crítico .Dissertação de Doutoramento em Filosofia Apresentada à Faculdade de Filosofia de Braga, da Universidade Católica Portuguesa ,Braga– 1 9 9 4
«A dificuldade de pensar reflecte-se em certos defeitos típicos da sua escrita de pensador – alguns dos quais só o são relativamente ao paradigma científico do discurso filosófico –, tais como: a falta de rigor lógico, a descontinuidade, a desarticulação e o desconcerto do discurso; a derivação repentina e despistante; o pensar anárquico e confuso, tumultuoso e emaranhado, sincopado e fragmentário; a imprecisão conceptual e a instabilidade terminológica; o abuso da hipérbole e da expressão absoluta; a indefinição, a oscilação, a contradição e a suspensividade; a sobreposição ou a mistura indiscriminada dos planos epistemológicos e dos registos da linguagem: poético e filosófico, racional e irracional, físico e metafísico, o dito sublime  e o vulgar, o genial e o infantil, o sério e o jocoso.»

O Pensamento de Teixeira de Pascoaes Estudo hermenêutico e crítico .Dissertação de Doutoramento em Filosofia Apresentada à Faculdade de Filosofia de Braga, da Universidade Católica Portuguesa ,Braga– 1 9 9 4
« Ler com a preocupação de compreender significou essencialmente, para nós, explorar hermeneuticamente o sentido dos textos, entendidos como «terra» onde aquele se enraíza e oculta e de onde se abre para um «céu» de esplendor e desocultação.»


O Pensamento de Teixeira de Pascoaes Estudo hermenêutico e crítico .Dissertação de Doutoramento em Filosofia Apresentada à Faculdade de Filosofia de Braga, da Universidade Católica Portuguesa ,Braga– 1 9 9 4
“…o poeta deve ser mais um fabulador (fazedor de mitos) do que um versificador (fazedor de versos); porque ele é poeta pela imitação e porque imita ações. E ainda que lhe aconteça fazer uso de sucesso reais, nem por isso deixa de ser poeta, pois nada impede que algumas das coisas, que realmente aconteceram, sejam, por natureza verosímeis e possíveis e, por isso mesmo, venha o poeta a ser o autor delas”

Aristóteles, Poética, 1551 a 27, ed. portuguesa, pp. 115-116
“Afirmo por vezes que um poema – eu diria também uma pintura ou uma estátua, mas não considero artes a escultura e a pintura, apenas trabalho aperfeiçoado de artesanato – é uma pessoa, um ser humano vivo, pertencente pela presença corpórea e autêntica existência carnal a outro mundo para o qual a nossa imaginação o projeta e que o aspecto com que se nos apresenta, ao lermo-lo neste mundo, nada mais é do que a sombra imperfeita da realidade da beleza que alhures é divina”


Fernando Pessoa, Páginas íntimas e de auto-interpretação. Texto estabelecido e prefaciado por G. R. Lind e J. do Pardo Coelho. Lisboa, Ática, 1966, p. 139. 
(...)

«Preservar de decadência morte e ruína
O instante real de aparição e de surpresa
 Guardar num mundo claro
 O gesto claro da mão tocando a mesa »


Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra poética II, p. 116

Provérbio do Malinké


 «Um homem pode enganar-se em sua parte de alimento
Mas não pode
 Enganar-me na sua parte de palavra»

sábado, 24 de fevereiro de 2018

 “Se os limites da minha linguagem delimitam os limites do meu mundo, o meu mundo não tem limites porque se tornou a minha própria linguagem”.
Os três princípios do Sensacionismo:
 1. Todo o objecto é uma sensação nossa.
2. Toda a arte é a conversão duma sensação em objecto.
3. Portanto, toda a arte é a conversão duma sensação numa outra sensação

(PESSOA, F., 168)
«Todas as coisas no mundo exterior têm um paralelo interior. A realidade torna-se sonho; a acção, inacção; a posse, cansaço; o amor, contemplação. E a forma como o mundo interior é construído é pelo uso de uma linguagem própria.

O absurdo do mundo é tentarmos perceber o absurdo do mundo. Em vez disso, Pessoa deixa-nos a hipótese de refazermos o mundo, cada um de nós à nossa maneira. Sim, isso implica que nos afastemos do mundo exterior para o mundo interior, mas, no sentido em que nenhum mundo faz sentido, porque é que o mundo exterior é melhor do que o mundo interior?»


Nuno Hipólito.O SENSACIONISMO É UM NÃO-EXISTENCIALISMO  (IEMO Grupo Interdisciplinar de Estudos Pessoanos e Modernistas)
Ah, compreendo! O patrão Vasques é a Vida. A Vida, monótona e necessária, mandante e desconhecida. Este homem banal representa a banalidade da Vida. Ele é tudo para mim, por fora, porque a Vida é tudo para mim por fora. E, se o escritório da Rua dos Douradores representa para mim a vida, este meu segundo andar, onde moro, na mesma Rua dos Douradores, representa para mim a Arte. Sim, a Arte, que mora na mesma rua que a Vida, porém num lugar diferente, a Arte que alivia da vida sem aliviar de viver, que é tão monótona como a mesma vida, mas só em lugar diferente. Sim, esta Rua dos Douradores compreende para mim todo o sentido das coisas, a solução de todos os enigmas, salvo o existirem enigmas, que é o que não pode ter solução .»

 (PESSOA, F., Livro do Desassossego p. 350)
Toda a obra de Pessoa é de base ontológica, desde logo porque se baseou na criação de personagens que não eram ele e que, como ele próprio disse, retiravam dele as suas qualidades para o deixar como o resto dessa mesma subtracção. Assim escreve Pessoa a Casais Monteiro no início de 1935:

 […] pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida. Pensar, meu querido Casais Monteiro, que todos estes têm que ser, na prática da publicação, preteridos pelo Fernando Pessoa, impuro e simples.»

 (PESSOA, F., 1935)
«O problema central da filosofia é a filosofia que a si própria se põe como problema.» Por que precisamos de filosofia?

A ideia fundamental do ser, ou da realidade, ou da verdade, eis o que procuramos na Filosofia. A Filosofia é a demanda do ser. O que é o Ser, o que é a realidade? Este é o problema da filosofia»

(PESSOA, F., 1908: 52).
«Eu era um poeta animado pela filosofia, não um filósofo com faculdades poéticas. Eu adorava admirar a beleza das coisas, delinear – imperceptivelmente através do assombrosamente pequeno - a alma poética do universo.

A poesia está em tudo – no mar e na terra, no lago e na margem do rio. Está na cidade também – não o neguem – isto é evidente para mim, aqui sentado: há poesia nesta mesa, neste papel, neste tinteiro; há poesia no ruído dos carros nas ruas, em cada minuto, cada momento comum, no movimento ridículo do trabalhador, que, no lado oposto da rua pinta a placa do talho.»

 (PESSOA; F., 1906: 22)8
«Tenho de ler mais poesia, de modo a neutralizar um pouco o efeito da filosofia pura»

 (PESSOA, F., 1906: 32)
«O Existencialismo não foi só de Sartre, mas foi Sartre que o desenvolveu tecnicamente e lhe deu relevância e credibilidade. Antes dele, Kierkegaard e Nietzsche tinham-lhe dado início e génio. Vejamos que o Existencialismo não é uma escola do PósGuerra, antes uma teoria que nasce na viragem do Século XIX para o Século XX. Kierkegaard morre em 1885 e Nietzsche em 1900. Enquanto escola de pensamento, o Existencialismo revolta-se contra o papel do individuo diluído e oprimido pela sociedade e pela religião e só depois se desenvolve para dar o papel principal ao próprio indivíduo – desta forma impondo o subjectivismo ao objectivismo da escola Positivista.» 

«O Existencialismo é um Humanismo»

 Jean-Paul Sartre, L'Existentialisme est un humanisme, Nagel, 1946

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

''A Morte de Deus na Arquitetura.

Aproximações entre o L'Esprit Nouveau e o Existencialismo.''


quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018


«Com tanto coração entre as mãos
e tanta
apavorada solidão!»



Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 369

«É somente
um homem sem trabalho.
Algo que nada conta e a que ninguém
 grita:  »


Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 369

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

«Teu sangue é a manhã que nunca mais termina.»

Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 361
«Os beijos florirão
sobre as almofadas.»


Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 361

«os mais obscuros mortos anseiam levantar-se»

Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 359
«Atirai para as margens do vosso coração,
o sentimento medido, os afectos parciais.»

Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 359

« os beijos não se acumulam em tua boca
angustiada de já tanto os conter »


Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 354

«Não há extensão maior que esta ferida »

Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 354

«Como o touro, nasci só para o luto »

Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 351

''areia amarga''


Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 350
«dá-me a tua mão, sim, dá-me a tua mão quer na vida quer na morte,
assim na terra como no céu.»

Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 341
''É O MEDO À DOR E NÃO A DOR QUE COSTUMA TORNAR-NOS
                                                                         ASSUSTADOS E CRUÉIS,''



Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 340

''a dor é lei da gravidade da alma''


Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 340

(...)

«quero dizer que a dor é uma longa viagem,
é uma longa viagem que nos aproxima sempre onde quer que vás,
é uma longa viagem, com estações de regresso,
com estações que não voltarás nunca a visitar,
onde nos encontramos com pessoas, imprevistas e casuais, que ainda não
                                                                                                                                    [sofreram.
As pessoas que não conhecem a dor são como igrejas por benzer,»


Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 341
(...)

«e quero dizer-vos que a dor é uma dádiva
porque ninguém regressa da dor e permanece sendo o mesmo homem.»



Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 339

''Se o coração perdesse o fundamento''


Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 338

«Há homens que se enterram somente
para que os pisem; (...)»


Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 337

''E EIS QUE ERA A SOLIDÃO MINHA ÚLTIMA TENTAÇÃO''


Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 337

''praia de solidões onde o céu e o mar fossem estátuas''

Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 334

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Antologia Palatina, VII. 286:

 “Infortunado Nicanor, consumido pelo mar espumoso, jazes, nu, numa praia estrangeira, ou nalgum rochedo; partindo, perdeste aquelas ricas moradas, bem como a esperança da pátria, Tiro. Nenhum dos teus bens te foi entregue. Ai, infeliz, estás morto, sofrendo com os peixes e com o mar.”
Antologia Palatina, IX. 95:

 “Coberta pelos flocos da neve invernal, uma galinha envolvia os filhos, no ninho, com as asas, até que o frio a matou. Na verdade, permanecia ao frio, fazendo frente às nuvens do céu. Procne e Medeia, vós que fostes mães, envergonhai-vos, no Hades, ao saberdes das acções das aves.”
Antologia Palatina, VII. 351:

“A ti, que tremeste diante do dever, a tua própria mãe, que te tinha dado a vida, Demétrio, deu-te a morte, enterrando um ferro no fundo dos teus flancos. E agarrando o ferro molhado, cheio do sangue do filho, dizia, rangendo ruidosamente os dentes espumosos, olhando com ar irritado como uma Lacedemónia: «Deixa o Eurotas e vai para o Tártaro! Já que conheceste a miserável fuga, não és meu filho, nem Lacedemónio!»”
Antologia de Planudes, 133:

 “Porque elevas para o Olimpo, mulher, uma mão impudente, deixando cair piedosamente de uma ímpia cabeça a cabeleira? Vendo com inquietação, ó mãe de inúmeros filhos, toda a cólera de Leto, chora agora a tua disputa amarga e insensata. Das tuas filhas, uma palpita perto de ti, outra jaz sem vida, a uma outra, ainda, ameaça a dura morte. E este ainda não é, para ti, o fim dos sofrimentos: jaz também o enxame viril dos teus filhos mortos. Ó tu, que choras a desgraçada descendência, que te possas tornar numa pedra sem vida, Níobe, atormentada pela dor.”
Epicuro, Carta a Heródoto (D.L. X. 125):

“A morte nada é para nós, pois quando nós existimos, ela não está presente; quando ela está presente, então já não existimos.”
Epicuro, Carta a Meneceu (D.L. X. 124):

“Todo o bem e todo o mal residem na sensação; ora a morte é a privação da sensação.”
Eurípides, Orestes, 1033-1034 (Electra):

“Não sou capaz de não chorar a desgraça. ''
“Não me elogies a morte, glorioso
 Ulisses! Preferia, sendo um
trabalhador da terra, servir a outro,
um homem sem posses, do que,
 não tendo mais vida, ser rei
de todos os mortos que pereceram.”

(Homero, Odisseia, XI. 488-491)
 “[d]esde Sócrates e da sua filosofia do Homem que a Política e a Literatura se digladiam inconciliáveis, como potências rivais em permanente beligerância, ora de guerra declarada, guerra surda ou, para falar à moderna, de guerra fria” 

Carlos Selvagem, “Literatura e Política (meditação à margem)”

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Ramalho Eanes: “Não há inevitabilidades, quem escreve o futuro são os povos”

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

MUTISMO DE PABLO

Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 318

«Não se fez o povo para o ministro mas o ministro para o povo »

Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 318

«Não se fez o doente para o médico mas o médico para o doente »

Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 318

''Não se fez o homem para a cidade mas a cidade para o homem''

Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 317
«(...)

deixamo-nos morrer para que outros ocupem as mesmas privações nos mes-
                                                                                                                                 [mos lugares.
Somos sempre os mesmos e estamos enterrados todos juntos, quietos, não
                                                                                                                                [muito fundos,»



Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 317

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

«Pois cada um de nós - o seu viver difícil - não faz falta
se ficam as palavras.»


Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 315

QUE BEM SEI O QUE ANSEIO

Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 314

«Aquelas mãos frias que tudo guardavam »


Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 314

domingo, 11 de fevereiro de 2018

«Nunca pude esquecer seus lisos ombros »


Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 310

IMPROVISO N.º 3

(México)


Um dia ver-nos-emos entre os mortos,
mas para além dos mortos, luz escassa
para rememorar sobre este mundo
perdurável: os montes soalheiros,
os mares refulgentes e as nuvens
que andam vogando pelos céus perfeitos
de teu país. Falar é sempre terno
se houver com quem. Uma vida inteira
sem esperança ergue-se dos lábios
como um viveiro de rosas refugiado
sob zimbros antigos. Quanta invicta 
decadência. Pensemos no amanhã
nutrindo-nos de ontem. Teu corpo longe
com a madeixa escura sobre o alto
paredão da tua fronte, também rosa
à sombra pausada de ti mesmo.
E eu sem ti e sabendo-te no mundo
quase só com o tempo necessário
para ferir-me e fugir. Colher a rosa
ou deixá-la emurchecer na haste
do seu ensimesmamento? Quem soubera!
Viver é cometer aqueles erros
que nunca humanamente se reparam.


Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 309

«(...)  Só um cigarro
é então, nas mãos laboriosas
ao enrolar-se e acender-se, um passatempo
subtil, um abandono reflexivo,
um desertar que ninguém nos censura,
e com os olhos claros recolhemos
a música, o fragrante privilégio
da estação, a água, chove, chove,
suave e firmemente, e nós fumamos,
enquanto o pensamento se aprofunda,
se faz distante, ausente, perdidiço,
e fora vai chovendo lentamente
e ficamos mais isolados, mais absortos:
um ser dono de tudo, um não ser nada.»

Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 308/9

''porque a vida é isso, força cega''


Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 307

«(...)

                                    baixo os olhos
e pousa-se o coração como uma ave
nos laboriosos campos delicados
da cor do mel,
                         olho mais fundamente
e quase já não vejo outra carícia
que não seja a beleza.
                                  É o silêncio
o que me impregna inteiro esta distância,
de onde as coisas se incorporam
à sua divindade.»


Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 306/7

«              Olho as alturas
e só vejo o sol omnipresente
a estender-me as mãos luminosas
como qualquer enamorado.
                                                   A vida ou nada.»




Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 306

«(...)       o homem cala-se.
Já não são as palavras docemente
o que quer dizer os seus suspiros,
nem o rumor desta brisa matutina
que lhe recorda tanto o outro tempo
de sua felicidade e suas mágoas;
já não é ele quem dirige, já não quer
nem sabe possuir: são os enigmas
falando por si sós, »



Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 305