segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
INSÓNIA
E agora voltar-se um pouco do outro lado,
e nada.
A ver se vem o sono,
como a dizer: «A ver se tu vens, morte.»
E, acordado, como nunca, permanecedor
com a água
até ao pescoço.
Ou «que mas dêem aqui todas»...
(E se mas dão todas?)
Há pancadas que se aproximam pelo quarto contíguo, e se desvanecem,
[antes de entrar completamente e apresentar-se.
Mas o silêncio nunca se habitua
a ser sempre silêncio.
E os olhos fecham-se
para não ver como chega
na completa escuridão
os medonhos
arautos.
José García Nieto Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 389
«A POESIA É UMA ARMA CARREGADA DE FUTURO»
Gabriel Celaya. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 379
«Sancho que viste as coisas como são e te calaste,»
Gabriel Celaya. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 377
«Sancho-vulgo, Sancho-ninguém, Sancho-Santo»
Gabriel Celaya. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 376
''ruídos inumanos''
Gabriel Celaya. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 375
domingo, 25 de fevereiro de 2018
«Em O Pobre Tolo, esse autoretrato
de Pascoaes «em desenho de lágrimas e riso» ou «em
trágica ironia de si mesmo», temos o arauto do «Saudosismo»
desencantado da sua aposta na doutrina do renascimento da Pátria
pela via e pela força da «saudade revelada».
O Pensamento de Teixeira de Pascoaes Estudo hermenêutico e crítico .Dissertação de Doutoramento em Filosofia Apresentada à Faculdade de Filosofia de Braga, da Universidade Católica Portuguesa ,Braga– 1 9 9 4
O Pensamento de Teixeira de Pascoaes Estudo hermenêutico e crítico .Dissertação de Doutoramento em Filosofia Apresentada à Faculdade de Filosofia de Braga, da Universidade Católica Portuguesa ,Braga– 1 9 9 4
''Pensar em si e pensar fora de si''
O Pensamento de Teixeira de Pascoaes Estudo hermenêutico e crítico .Dissertação de Doutoramento em Filosofia Apresentada à Faculdade de Filosofia de Braga, da Universidade Católica Portuguesa ,Braga– 1 9 9 4
«A dificuldade de pensar reflecte-se em certos defeitos
típicos da sua escrita de pensador – alguns dos quais só o são
relativamente ao paradigma científico do discurso filosófico –,
tais como: a falta de rigor lógico, a descontinuidade, a
desarticulação e o desconcerto do discurso; a derivação repentina
e despistante; o pensar anárquico e confuso, tumultuoso e
emaranhado, sincopado e fragmentário; a imprecisão conceptual
e a instabilidade terminológica; o abuso da hipérbole e da
expressão absoluta; a indefinição, a oscilação, a contradição e a
suspensividade; a sobreposição ou a mistura indiscriminada dos
planos epistemológicos e dos registos da linguagem: poético e
filosófico, racional e irracional, físico e metafísico, o dito sublime e o vulgar, o genial e o infantil, o sério e o jocoso.»
O Pensamento de Teixeira de Pascoaes Estudo hermenêutico e crítico .Dissertação de Doutoramento em Filosofia Apresentada à Faculdade de Filosofia de Braga, da Universidade Católica Portuguesa ,Braga– 1 9 9 4
« Ler
com a preocupação de compreender significou essencialmente, para
nós, explorar hermeneuticamente o sentido dos textos, entendidos
como «terra» onde aquele se enraíza e oculta e de onde se abre para
um «céu» de esplendor e desocultação.»
O Pensamento de Teixeira de Pascoaes
Estudo hermenêutico e crítico .Dissertação de Doutoramento em Filosofia
Apresentada à Faculdade de Filosofia de Braga,
da Universidade Católica Portuguesa ,Braga– 1 9 9 4
“…o poeta deve ser mais um fabulador (fazedor de mitos) do que um versificador (fazedor
de versos); porque ele é poeta pela imitação e porque imita ações. E ainda que lhe aconteça
fazer uso de sucesso reais, nem por isso deixa de ser poeta, pois nada impede que algumas
das coisas, que realmente aconteceram, sejam, por natureza verosímeis e possíveis e, por
isso mesmo, venha o poeta a ser o autor delas”
Aristóteles, Poética, 1551 a 27, ed. portuguesa, pp. 115-116
Aristóteles, Poética, 1551 a 27, ed. portuguesa, pp. 115-116
“Afirmo por vezes que um poema – eu diria também uma pintura ou uma estátua, mas
não considero artes a escultura e a pintura, apenas trabalho aperfeiçoado de
artesanato – é uma pessoa, um ser humano vivo, pertencente pela presença corpórea e
autêntica existência carnal a outro mundo para o qual a nossa imaginação o projeta e
que o aspecto com que se nos apresenta, ao lermo-lo neste mundo, nada mais é do que a
sombra imperfeita da realidade da beleza que alhures é divina”
Fernando Pessoa, Páginas íntimas e de auto-interpretação. Texto estabelecido e prefaciado por G. R.
Lind e J. do Pardo Coelho. Lisboa, Ática, 1966, p. 139.
Provérbio do Malinké
«Um homem pode enganar-se em sua parte de alimento
Mas não pode
Enganar-me na sua parte de palavra»
sábado, 24 de fevereiro de 2018
«Todas as coisas no mundo exterior têm um paralelo interior. A realidade torna-se
sonho; a acção, inacção; a posse, cansaço; o amor, contemplação. E a forma como o mundo
interior é construído é pelo uso de uma linguagem própria.
O absurdo do mundo é tentarmos perceber o absurdo do mundo. Em vez disso, Pessoa deixa-nos a hipótese de refazermos o mundo, cada um de nós à nossa maneira. Sim, isso implica que nos afastemos do mundo exterior para o mundo interior, mas, no sentido em que nenhum mundo faz sentido, porque é que o mundo exterior é melhor do que o mundo interior?»
Nuno Hipólito.O SENSACIONISMO É UM NÃO-EXISTENCIALISMO (IEMO Grupo Interdisciplinar de Estudos Pessoanos e Modernistas)
O absurdo do mundo é tentarmos perceber o absurdo do mundo. Em vez disso, Pessoa deixa-nos a hipótese de refazermos o mundo, cada um de nós à nossa maneira. Sim, isso implica que nos afastemos do mundo exterior para o mundo interior, mas, no sentido em que nenhum mundo faz sentido, porque é que o mundo exterior é melhor do que o mundo interior?»
Nuno Hipólito.O SENSACIONISMO É UM NÃO-EXISTENCIALISMO (IEMO Grupo Interdisciplinar de Estudos Pessoanos e Modernistas)
Ah, compreendo! O patrão Vasques é a Vida. A Vida, monótona e
necessária, mandante e desconhecida. Este homem banal representa a
banalidade da Vida. Ele é tudo para mim, por fora, porque a Vida é tudo
para mim por fora. E, se o escritório da Rua dos Douradores representa para
mim a vida, este meu segundo andar, onde moro, na mesma Rua dos
Douradores, representa para mim a Arte. Sim, a Arte, que mora na mesma
rua que a Vida, porém num lugar diferente, a Arte que alivia da vida sem
aliviar de viver, que é tão monótona como a mesma vida, mas só em lugar
diferente. Sim, esta Rua dos Douradores compreende para mim todo o
sentido das coisas, a solução de todos os enigmas, salvo o existirem
enigmas, que é o que não pode ter solução .»
(PESSOA, F., Livro do Desassossego p. 350)
Toda a obra de Pessoa é de base ontológica, desde logo porque se baseou na
criação de personagens que não eram ele e que, como ele próprio disse, retiravam dele as
suas qualidades para o deixar como o resto dessa mesma subtracção. Assim escreve Pessoa
a Casais Monteiro no início de 1935:
[…] pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida. Pensar, meu querido Casais Monteiro, que todos estes têm que ser, na prática da publicação, preteridos pelo Fernando Pessoa, impuro e simples.»
(PESSOA, F., 1935)
[…] pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida. Pensar, meu querido Casais Monteiro, que todos estes têm que ser, na prática da publicação, preteridos pelo Fernando Pessoa, impuro e simples.»
(PESSOA, F., 1935)
«O problema central da filosofia é a filosofia que a si própria se põe como
problema.» Por que precisamos de filosofia?
A ideia fundamental do ser, ou da realidade, ou da verdade, eis o que procuramos na Filosofia. A Filosofia é a demanda do ser. O que é o Ser, o que é a realidade? Este é o problema da filosofia»
(PESSOA, F., 1908: 52).
A ideia fundamental do ser, ou da realidade, ou da verdade, eis o que procuramos na Filosofia. A Filosofia é a demanda do ser. O que é o Ser, o que é a realidade? Este é o problema da filosofia»
(PESSOA, F., 1908: 52).
«Eu era um poeta animado pela filosofia, não um filósofo com faculdades
poéticas. Eu adorava admirar a beleza das coisas, delinear –
imperceptivelmente através do assombrosamente pequeno - a alma poética
do universo.
A poesia está em tudo – no mar e na terra, no lago e na margem do rio. Está na cidade também – não o neguem – isto é evidente para mim, aqui sentado: há poesia nesta mesa, neste papel, neste tinteiro; há poesia no ruído dos carros nas ruas, em cada minuto, cada momento comum, no movimento ridículo do trabalhador, que, no lado oposto da rua pinta a placa do talho.»
(PESSOA; F., 1906: 22)8
A poesia está em tudo – no mar e na terra, no lago e na margem do rio. Está na cidade também – não o neguem – isto é evidente para mim, aqui sentado: há poesia nesta mesa, neste papel, neste tinteiro; há poesia no ruído dos carros nas ruas, em cada minuto, cada momento comum, no movimento ridículo do trabalhador, que, no lado oposto da rua pinta a placa do talho.»
(PESSOA; F., 1906: 22)8
«O Existencialismo não foi só de Sartre, mas foi Sartre que o desenvolveu
tecnicamente e lhe deu relevância e credibilidade. Antes dele, Kierkegaard e Nietzsche
tinham-lhe dado início e génio. Vejamos que o Existencialismo não é uma escola do PósGuerra,
antes uma teoria que nasce na viragem do Século XIX para o Século XX. Kierkegaard
morre em 1885 e Nietzsche em 1900. Enquanto escola de pensamento, o Existencialismo
revolta-se contra o papel do individuo diluído e oprimido pela sociedade e pela religião e
só depois se desenvolve para dar o papel principal ao próprio indivíduo – desta forma
impondo o subjectivismo ao objectivismo da escola Positivista.»
«O Existencialismo é um Humanismo»
Jean-Paul Sartre, L'Existentialisme est un humanisme, Nagel, 1946
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
terça-feira, 20 de fevereiro de 2018
«Teu sangue é a manhã que nunca mais termina.»
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 361
«os mais obscuros mortos anseiam levantar-se»
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 359
«Não há extensão maior que esta ferida »
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 354
«Como o touro, nasci só para o luto »
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 351
''areia amarga''
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 350
''a dor é lei da gravidade da alma''
Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 340
(...)
«quero dizer que a dor é uma longa viagem,
é uma longa viagem que nos aproxima sempre onde quer que vás,
é uma longa viagem, com estações de regresso,
com estações que não voltarás nunca a visitar,
onde nos encontramos com pessoas, imprevistas e casuais, que ainda não
[sofreram.
As pessoas que não conhecem a dor são como igrejas por benzer,»
Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 341
''Se o coração perdesse o fundamento''
Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 338
''E EIS QUE ERA A SOLIDÃO MINHA ÚLTIMA TENTAÇÃO''
Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 337
''praia de solidões onde o céu e o mar fossem estátuas''
Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 334
domingo, 18 de fevereiro de 2018
Antologia Palatina, VII. 286:
“Infortunado Nicanor, consumido pelo mar espumoso, jazes, nu, numa praia estrangeira, ou nalgum rochedo; partindo, perdeste aquelas ricas moradas, bem como a esperança da pátria, Tiro. Nenhum dos teus bens te foi entregue. Ai, infeliz, estás morto, sofrendo com os peixes e com o mar.”
“Infortunado Nicanor, consumido pelo mar espumoso, jazes, nu, numa praia estrangeira, ou nalgum rochedo; partindo, perdeste aquelas ricas moradas, bem como a esperança da pátria, Tiro. Nenhum dos teus bens te foi entregue. Ai, infeliz, estás morto, sofrendo com os peixes e com o mar.”
Antologia Palatina, IX. 95:
“Coberta pelos flocos da neve invernal, uma galinha envolvia os filhos, no ninho, com as asas, até que o frio a matou. Na verdade, permanecia ao frio, fazendo frente às nuvens do céu. Procne e Medeia, vós que fostes mães, envergonhai-vos, no Hades, ao saberdes das acções das aves.”
“Coberta pelos flocos da neve invernal, uma galinha envolvia os filhos, no ninho, com as asas, até que o frio a matou. Na verdade, permanecia ao frio, fazendo frente às nuvens do céu. Procne e Medeia, vós que fostes mães, envergonhai-vos, no Hades, ao saberdes das acções das aves.”
Antologia Palatina, VII. 351:
“A ti, que tremeste diante do dever, a tua própria mãe, que te tinha dado a vida, Demétrio, deu-te a morte, enterrando um ferro no fundo dos teus flancos. E agarrando o ferro molhado, cheio do sangue do filho, dizia, rangendo ruidosamente os dentes espumosos, olhando com ar irritado como uma Lacedemónia: «Deixa o Eurotas e vai para o Tártaro! Já que conheceste a miserável fuga, não és meu filho, nem Lacedemónio!»”
“A ti, que tremeste diante do dever, a tua própria mãe, que te tinha dado a vida, Demétrio, deu-te a morte, enterrando um ferro no fundo dos teus flancos. E agarrando o ferro molhado, cheio do sangue do filho, dizia, rangendo ruidosamente os dentes espumosos, olhando com ar irritado como uma Lacedemónia: «Deixa o Eurotas e vai para o Tártaro! Já que conheceste a miserável fuga, não és meu filho, nem Lacedemónio!»”
Antologia de Planudes, 133:
“Porque elevas para o Olimpo, mulher, uma mão impudente, deixando cair piedosamente de uma ímpia cabeça a cabeleira? Vendo com inquietação, ó mãe de inúmeros filhos, toda a cólera de Leto, chora agora a tua disputa amarga e insensata. Das tuas filhas, uma palpita perto de ti, outra jaz sem vida, a uma outra, ainda, ameaça a dura morte. E este ainda não é, para ti, o fim dos sofrimentos: jaz também o enxame viril dos teus filhos mortos. Ó tu, que choras a desgraçada descendência, que te possas tornar numa pedra sem vida, Níobe, atormentada pela dor.”
“Porque elevas para o Olimpo, mulher, uma mão impudente, deixando cair piedosamente de uma ímpia cabeça a cabeleira? Vendo com inquietação, ó mãe de inúmeros filhos, toda a cólera de Leto, chora agora a tua disputa amarga e insensata. Das tuas filhas, uma palpita perto de ti, outra jaz sem vida, a uma outra, ainda, ameaça a dura morte. E este ainda não é, para ti, o fim dos sofrimentos: jaz também o enxame viril dos teus filhos mortos. Ó tu, que choras a desgraçada descendência, que te possas tornar numa pedra sem vida, Níobe, atormentada pela dor.”
a “Literatura é, por excelência, uma riquíssima galeria de afirmações temperamentais”
Carlos Selvagem, “Literatura e
Política (meditação à margem)”
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
MUTISMO DE PABLO
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 318
«Não se fez o povo para o ministro mas o ministro para o povo »
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 318
«Não se fez o doente para o médico mas o médico para o doente »
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 318
''Não se fez o homem para a cidade mas a cidade para o homem''
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 317
«(...)
deixamo-nos morrer para que outros ocupem as mesmas privações nos mes-
[mos lugares.
Somos sempre os mesmos e estamos enterrados todos juntos, quietos, não
[muito fundos,»
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 317
deixamo-nos morrer para que outros ocupem as mesmas privações nos mes-
[mos lugares.
Somos sempre os mesmos e estamos enterrados todos juntos, quietos, não
[muito fundos,»
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 317
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018
QUE BEM SEI O QUE ANSEIO
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 314
«Aquelas mãos frias que tudo guardavam »
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 314
domingo, 11 de fevereiro de 2018
«Nunca pude esquecer seus lisos ombros »
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 310
IMPROVISO N.º 3
(México)
Um dia ver-nos-emos entre os mortos,
mas para além dos mortos, luz escassa
para rememorar sobre este mundo
perdurável: os montes soalheiros,
os mares refulgentes e as nuvens
que andam vogando pelos céus perfeitos
de teu país. Falar é sempre terno
se houver com quem. Uma vida inteira
sem esperança ergue-se dos lábios
como um viveiro de rosas refugiado
sob zimbros antigos. Quanta invicta
decadência. Pensemos no amanhã
nutrindo-nos de ontem. Teu corpo longe
com a madeixa escura sobre o alto
paredão da tua fronte, também rosa
à sombra pausada de ti mesmo.
E eu sem ti e sabendo-te no mundo
quase só com o tempo necessário
para ferir-me e fugir. Colher a rosa
ou deixá-la emurchecer na haste
do seu ensimesmamento? Quem soubera!
Viver é cometer aqueles erros
que nunca humanamente se reparam.
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 309
Um dia ver-nos-emos entre os mortos,
mas para além dos mortos, luz escassa
para rememorar sobre este mundo
perdurável: os montes soalheiros,
os mares refulgentes e as nuvens
que andam vogando pelos céus perfeitos
de teu país. Falar é sempre terno
se houver com quem. Uma vida inteira
sem esperança ergue-se dos lábios
como um viveiro de rosas refugiado
sob zimbros antigos. Quanta invicta
decadência. Pensemos no amanhã
nutrindo-nos de ontem. Teu corpo longe
com a madeixa escura sobre o alto
paredão da tua fronte, também rosa
à sombra pausada de ti mesmo.
E eu sem ti e sabendo-te no mundo
quase só com o tempo necessário
para ferir-me e fugir. Colher a rosa
ou deixá-la emurchecer na haste
do seu ensimesmamento? Quem soubera!
Viver é cometer aqueles erros
que nunca humanamente se reparam.
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 309
«(...) Só um cigarro
é então, nas mãos laboriosas
ao enrolar-se e acender-se, um passatempo
subtil, um abandono reflexivo,
um desertar que ninguém nos censura,
e com os olhos claros recolhemos
a música, o fragrante privilégio
da estação, a água, chove, chove,
suave e firmemente, e nós fumamos,
enquanto o pensamento se aprofunda,
se faz distante, ausente, perdidiço,
e fora vai chovendo lentamente
e ficamos mais isolados, mais absortos:
um ser dono de tudo, um não ser nada.»
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 308/9
''porque a vida é isso, força cega''
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 307
«(...)
baixo os olhos
e pousa-se o coração como uma ave
nos laboriosos campos delicados
da cor do mel,
olho mais fundamente
e quase já não vejo outra carícia
que não seja a beleza.
É o silêncio
o que me impregna inteiro esta distância,
de onde as coisas se incorporam
à sua divindade.»
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 306/7
«(...) o homem cala-se.
Já não são as palavras docemente
o que quer dizer os seus suspiros,
nem o rumor desta brisa matutina
que lhe recorda tanto o outro tempo
de sua felicidade e suas mágoas;
já não é ele quem dirige, já não quer
nem sabe possuir: são os enigmas
falando por si sós, »
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 305