Toda a obra de Pessoa é de base ontológica, desde logo porque se baseou na
criação de personagens que não eram ele e que, como ele próprio disse, retiravam dele as
suas qualidades para o deixar como o resto dessa mesma subtracção. Assim escreve Pessoa
a Casais Monteiro no início de 1935:
[…] pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus
em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe
é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a
mim nem à vida. Pensar, meu querido Casais Monteiro, que todos estes têm
que ser, na prática da publicação, preteridos pelo Fernando Pessoa, impuro
e simples.»
(PESSOA, F., 1935)
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