Ti Felismina

Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 70

''agarrar bacalhaus à unha''

Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 66

''alapardados pelo pejo''

Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 64

 

andar aos baldões
andar com azar, sofrer contratempos

«Todo cheio de manganilhas bem estudadas,»

Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 62

«Um bacalhau depois de uma raposa»

Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 60

 «Todas as manhãs, à hora do café, a avó pregava-lhe uma ensaboadela de conselhos e reprimendas (...)»

 Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 58

«Não ir à caça e apanhar uma raposa...»

 Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 53

 «A Rasteira faz galas de cadela esmerada e briosa.»

Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 51

''viu um campo de milho a verdejar''

 Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 47

 «Nem me quero lembrar, que o coração se me corta todo, (...)»

 Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 47


Vale Abraão - Manoel de Oliveira (1993)

 

 Há os que falam e os que entendem

         o que as pessoas dizem....

«- Falam com os olhos, que é modo de falar muito mais da raiz do coração - lembra-lhe a avó, que apascentou ovelhas lá para os lados da Ajuda, quando se vai a caminho do Sobral.
Por isso mesmo os animais lhe entendem a voz e ela os percebe melhor do que às pessoas.»

 Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 46

«Um dia baldeias daí abaixo e nem a alma se te aproveita...»

Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 44

''cachos de mel esquecidos nas cepas''

 Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 44

 ''Embora viajemos pelo mundo inteiro em busca do belo, não o encontraremos se não o levarmos dentro de nós.''

Ralph Waldo, escritor e filósofo americano

 ''Curiosamente, os teóricos da música grega (que também só conhecemos em teoria...) chamavam ''catástrofe'' ao momento exato em que uma corda em vibração regressava à condição de repouso.''

António Victorino D'Almeida

 «O poeta, embora culto e senhor da sua técnica, parte da realidade ou - como disseram os clássicos e nós podemos voltar a dizer - imita a natureza. O literato parte quase sempre de um ou vários livros, é imitador de uma imitação. Daí provém a palidez das suas palavras, a pouca convicção e a arbitrariedade de tudo quanto diz. O poeta diz uma coisa onde nenhuma outra poderia dizer e di-lo com as únicas palavras possíveis, o literato fala por falar e nas palavras não se compraz.»

Obra Poética de Ruy Belo. Volume 3. Organização e Notas de Joaquim Manuel Magalhães e Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Editorial Presença. , p. 54

 « Ajouja-se a obra objectiva, desprotegida, inocente, de biografias, de prefácios que asseguram o triunfo que se teme venha a faltar, esquecendo que o tempo fará cair inexoravelmente como folhas tudo aquilo que não presta. E ficará uma palavra ou outra, aquela que se disse para além do sentimento, da crónica, da 
queixa, e merce figurar numa antologia.
     Compram-se, muitas vezes com a amizade, moeda mais forte do que o dólar, críticos que digam bem. Leva-se a este domínio íntimo o velho princípio dos contratos: do ut des. Louvamos os outros para que nos louvem a nós. Fazemos-lhes favores para que, no momento oportuno, no-los façam a nós. O leitor raramente repara. (...)»

 Obra Poética de Ruy Belo. Volume 3. Organização e Notas de Joaquim Manuel Magalhães e Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Editorial Presença., p. 47

sábado, 29 de agosto de 2020

 « O livro, atenta a natureza da necessidade que visa satisfazer, é um bem complexo. Por se destinar a ser consumido pelo pensamento, não pode considerar-se uma simples mercadoria.»

Obra Poética de Ruy Belo. Volume 3. Organização e Notas de Joaquim Manuel Magalhães e Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Editorial Presença. , p. 41.

 «Mas o que representa hoje a poesia? Só num mundo em que toda a gente soubesse ler e tivesse lido os livros que eu li e como os li na altura em que os li.»

 Obra Poética de Ruy Belo. Volume 3. Organização e Notas de Joaquim Manuel Magalhães e Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Editorial Presença., p. 33

 «Deixei de dormir sem tranquilizantes e barbitúricos. Já lá vão quase dez anos. Não sei se voltarei a aprender a dormir. É tão bom dormir. A paz dos mortos. Sabe? Assim, sou um sobrevivente. Morri aí pelos trinta e dois ou trinta e três. Como Cesário ou Nobre. Mas tendo falhado.»

 Obra Poética de Ruy Belo. Volume 3. Organização e Notas de Joaquim Manuel Magalhães e Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Editorial Presença., p. 32

«O património poético português constitui hoje uma tradição integrada por muitas tentativas de renovação empreendidas por escolas ou por outros poetas isolados. Tem de se escrever numa linguagem viva, caso contrário, se não se morre, é porque já se nasceu morto.»

 Obra Poética de Ruy Belo. Volume 3. Organização e Notas de Joaquim Manuel Magalhães e Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Editorial Presença. 

«Dizei-me se os meus olhos vêem isso
ou se o pensamento e a vista
já discordam
e então
a loucura deveras me domina.»

Fiama Hasse Pais Brandão. Quem move as árvores. Editora Arcádia, 1ª Edição, 1979., p. 142

 «Um cadáver que sabe o caminho, ele próprio guia a morte.»

Fiama Hasse Pais Brandão. Quem move as árvores. Editora Arcádia, 1ª Edição, 1979., p. 129

« O sangue evoca

a morte,

a nossa própria.»


Fiama Hasse Pais Brandão. Quem move as árvores. Editora Arcádia, 1ª Edição, 1979., p. 115

 

«                                         BISPO

Bem vejo que a vossa mão traz um punhal.

                             MULHER DO GOVERNADOR

É um punhal de amor. Mas talvez seja esta uma metáfora demasiado subtil para quem só tem sabido amar camponesas no chão. Tem sido em celeiros que as amais?

                                          BISPO

Celeiros vazios.»


Fiama Hasse Pais Brandão. Quem move as árvores. Editora Arcádia, 1ª Edição, 1979., p. 112

«Vejo mais do que vêem os olhos.»

Fiama Hasse Pais Brandão. Quem move as árvores. Editora Arcádia, 1ª Edição, 1979., p. 109

''Ambos somos invulgarmente sensíveis.''

Fiama Hasse Pais Brandão. Quem move as árvores. Editora Arcádia, 1ª Edição, 1979., p. 105

 «Este sangue com que sonho há várias noites quem o verte?»

Fiama Hasse Pais Brandão. Quem move as árvores. Editora Arcádia, 1ª Edição, 1979., p. 99

 «Para pedir, os cães ladram juntos, mas quando se lhes atira o naco mordem-se uns aos outros.»

Fiama Hasse Pais Brandão. Quem move as árvores. Editora Arcádia, 1ª Edição, 1979., p. 70

 «Um animal dócil, se após o chicote o afagam tudo esquece.»

Fiama Hasse Pais Brandão. Quem move as árvores. Editora Arcádia, 1ª Edição, 1979., p. 66

 «Também a raposa sabe esconder a intenção quando persegue a presa.»

Fiama Hasse Pais Brandão. Quem move as árvores. Editora Arcádia, 1ª Edição, 1979., p. 65


July 30, 1888. The eviction of Thomas Considine at Moyasta, County Clare. Image National Library of Ireland

 

''combustão inesgotável''

  Agostinho Santos

Jornalista/Pintor e Curador

''labaredas multicoloridas''

 Agostinho Santos

Jornalista/Pintor e Curador

Produção Toyotista

  “[...] o modelo japonês – o toyotismo – quando a produtividade é potenciada pela implantação de formas diversas de subcontratação e terceirização da força de trabalho, além da descentralização das unidades de produção”

MOTA, Ana Elisabete. Crise contemporânea e as transformações na produção capitalista. In: Serviço social: direitos sociais e competências profissionais, Brasília, DF: CFESS/ABEPSS, 2009


A teoria marxista e os estudos de género

 [...] O marxismo possibilita uma análise crítica acerca das relações sociais, dentro de uma perspectiva de totalidade que não permite fragmentar a realidade, buscando desvelá-la, indo além do aparente, das representações, sem esquecer a essência dos fenômenos sociais e suas determinações (CISNE 2012, p. 94).

CISNE, Mirla. Gênero, divisão sexual do trabalho e serviço social. 1. ed. São Paulo: Outras Expressões, 2012.

Formulações: a marxista e a pós-moderna/pós-estruturalista.

 ''As abordagens desconstrutivistas/pós-estruturalistas/pós-modernas mesmo criticando o gênero e a sua identidade global, não relacionam essa categoria com as de classe, raça, etnia, geração a partir da contradição fundante das mais diversas expressões das desigualdades sociais: a contradição capital e trabalho. Não se configuram, portanto em críticas profundas e consistentes ao não conseguir por às claras as contradições desta sociedade e o foco das desigualdades. Assim, criticam a linearidade do gênero, mas a reproduzem ao não analisar os complexos sociais na dimensão da totalidade (CISNE 2012, p. 90).''

CISNE, Mirla. Gênero, divisão sexual do trabalho e serviço social. 1. ed. São Paulo: Outras Expressões, 2012.


 [...] O sexo descreve as características e as diferenças biológicas, que estão exclusivamente relacionadas a anatomia e a fisiologia. Gênero, por sua vez, engloba as diferenças sócio-culturais existentes entre o sexo feminino e o masculino, as quais foram historicamente construídas (CUNHA, 2014, p.150).

 “Vivemos numa loja mercantil transparente, onde nós próprios, enquanto clientes transparentes, somos supervisionados e governados.”


Byung-Chul Han (Seul, 1959), filósofo sul coreano, estudioso da sociedade hiperconsumista e neoliberal

depois da queda do Muro de Berlim. Escreveu outros títulos como: Sociedade da Transparência,

Psicopolítica e A Expulsão, Agonia de Eros, No enxame, Sobre o poder, Aroma do Tempo etc.


 Valley of the shadow of death 

Roger Fenton

A violência Neuronal

a individualidade livre que está em colapso por não poder fracassar


Byung-Chul Han
(Seul, 1959), filósofo sul coreano, estudioso da sociedade hiperconsumista e neoliberal

depois da queda do Muro de Berlim. Escreveu outros títulos como: Sociedade da Transparência,

Psicopolítica e A Expulsão, Agonia de Eros, No enxame, Sobre o poder, Aroma do Tempo etc.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

 

mistagogo

 /ô/
mis.ta.go.go
miʃtɐˈɡoɡu
nome masculino
1.
sacerdote que, entre os Gregos, iniciava nos mistérios da religião
2.
mentor, guia

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

«O labirinto perde a sua função e nós somos um minotauro disfarçado entre tantas formas. Aí tomo por modelo a noite e fotografo a preto e branco algumas vezes.»

Fotógrafo José M. Rodrigues


Fotografia José M. Rodrigues

 

''O caminho é feito com a reflexão refletida e um tempo de exposição. A evidência deixa então de existir. As margens andam de lado para lado. A água e o movimento congelam. O ar aquece. As plantas e nós temos medo. A alma aumenta de volume. O lugar encontra-se. O olhar fica por detrás dos olhos. O detalhe é o tira-teimas. Os pés são o sinal de equilíbrio, abençoado. As botas protegem todo o corpo. O enquadramento é como o de um pastor. A medição é uma unidade e o tempo volta a ser. É só isto. «Só quando não se faz nada há sempre tempo»”. Uma fotografia.

Fotógrafo José M. Rodrigues
Sete Cartas a Um Jovem Filósofo, Agostinho da Silva 

«A vida, para a vida, é sempre longa; mas para a Arte é sempre breve, só quando não se faz nada há sempre tempo.»
A palavra «fotografia» vem do grego [fós] («luz») e [grafis] («estilo», «pincel») e significa «desenhar com luz e contraste».

"The Discomfort of Evening" ("O Desconforto da Noite")  o romance de estreia de Marieke Lucas Rijneveld


Johannesburgo, África do Sul
Photo/Themba Hadebe
 

não devíamos perder demasiado tempo com meditações espiritualistas New Age

 «Por conseguinte, não devíamos perder demasiado tempo com meditações espiritualistas New Age sobre a forma como «a crise do vírus vai permitir que nos foquemos naquilo que realmente importa nas nossas vidas». A verdadeira luta será sobre que forma social vai substituir a Nova Ordem Mundial liberal-capitalista. É esse o nosso verdadeiro encontro em Samarra.»

Slavoj Žižek. A Pandemia que Abalou o Mundo. Tradução de João Moita. Relógio D'Água Editores. Lisboa, 2020, p. 113

 «Indivíduos reduzidos ao pânico da mera sobrevivência são os súbditos ideais para a introdução de um poder autoritário.»

 Slavoj Žižek. A Pandemia que Abalou o Mundo. Tradução de João Moita. Relógio D'Água Editores. Lisboa, 2020, p. 110

 

«Nos debates correntes, já se começaram a discernir sinais que apontam para um refreamento na solidariedade incondicional, como na seguinte nota sobre o papel dos «três sábios» [«three wise men], caso a epidemia ganhe uma dimensão mais catastrófica no Reino Unido:

   Os pacientes do Serviço Nacional de Saúde poderão ver-lhes negado o acesso a cuidados de sáude vitais durante um surto grave de coronavírus na Grã-Bretanha se as unidades de cuidados intensivos continuarem a ter dificuldade em dar resposta, avisaram os médicos. De acordo com um denominado protocolo dos «três sábios», três consultores seniores serão forçados em cada hospital a tomar decisões relativas ao racionamento de materiais como ventiladores e camas, no caso de os hospitais serem inundados de pacientes.


   Em que critérios se irão basear os «três sábios»? Sacrifício dos fracos e dos mais velhos? E não irá esta situação dar azo a uma enorme corrupção? Não indicarão estes procedimentos que nos estamos a preparar para adotar a lógica mais brutal da sobrevivência dos mais aptos?»

 Slavoj Žižek. A Pandemia que Abalou o Mundo. Tradução de João Moita. Relógio D'Água Editores. Lisboa, 2020, p. 63/4

 «O desenvolvimento tecnológico torna-nos menos dependentes da natureza e, ao mesmo tempo e a outro nível, mais dependente dos seus caprichos. E o mesmo é válido para o surto de coronavírus: se tivesse acontecido antes das reformas de Deng Xiaoping, provavelmente nem sequer tínhamos ouvido falar dele.»

Slavoj Žižek. A Pandemia que Abalou o Mundo. Tradução de João Moita. Relógio D'Água Editores. Lisboa, 2020, p. 53

''animalismo capitalista''

 Slavoj Žižek. A Pandemia que Abalou o Mundo. Tradução de João Moita. Relógio D'Água Editores. Lisboa, 2020, p. 43

''algaraviada burocrática''

 Slavoj Žižek. A Pandemia que Abalou o Mundo. Tradução de João Moita. Relógio D'Água Editores. Lisboa, 2020, p. 41

 «A atual propagação da epidemia do coronavírus acabou também por desencadear uma vasta epidemia de vírus ideológicos que estavam latentes nas nossas sociedades: notícias falsas, teorias da conspiração paranoicas, explosões de racismos.''

Slavoj Žižek. A Pandemia que Abalou o Mundo. Tradução de João Moita. Relógio D'Água Editores. Lisboa, 2020, p. 39

Nó górdio


''O nó górdio é uma lenda que envolve o rei da Frígia (Ásia Menor) e Alexandre, o Grande. É comumente usada como metáfora de um problema insolúvel (desatando um nó impossível) resolvido facilmente por ardil astuto ou por "pensar fora da caixa".

Conta-se que o rei da Frígia (Ásia Menor) morreu sem deixar herdeiro e que, ao ser consultado, o Oráculo anunciou que o sucessor chegaria à cidade num carro de bois. A profecia foi cumprida por um camponês, de nome Górdio, que foi coroado. Para não esquecer de seu passado humilde ele colocou a carroça, com a qual ganhou a coroa, no templo de Zeus. E a amarrou com um enorme nó a uma coluna. O nó era, na prática, impossível de desatar e por isso ficou famoso.

Górdio reinou por muito tempo e quando morreu, seu filho Midas assumiu o trono. Midas expandiu o império mas não deixou herdeiros. O Oráculo foi ouvido novamente e declarou que quem desatasse o nó de Górdio dominaria todo o mundo.

Quinhentos anos se passaram sem ninguém conseguir realizar esse feito, até que em 334 a.C. Alexandre, o Grande, ouviu essa lenda ao passar pela Frígia. Intrigado com a questão, foi até o templo de Zeus observar o feito de Górdio. Após muito analisar, desembainhou sua espada e cortou o nó. Lenda ou não o fato é que Alexandre se tornou senhor de toda a Ásia Menor poucos anos depois.

É daí também que deriva a expressão "cortar o nó górdio", que significa resolver um problema complexo de maneira simples e eficaz.'' 
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


"Fazei-o discorrer sobre política e o nó górdio do caso ele deslinda,

tão facilmente como o faz com a jarreteira"

(Shakespeare, Henrique V, Ato 1 Cena 1. 45–47)[1]

 

''POPULISTAS RACISTAS''

 Slavoj Žižek. A Pandemia que Abalou o Mundo. Tradução de João Moita. Relógio D'Água Editores. Lisboa, 2020, p. 35

Escritora Kamila Shamsie

LIVROS

"Versos Quebrados" ("Broken Verses")

"Sombras queimadas" ("Burnt shadows"),

"Um deus em cada pedra" ("A God in every Stone")

"Home Fire" -"Conflito Interno"

 «Podemos ter chegado em navios diferentes, mas agora estamos todos no mesmo barco.»

Martin Luther King

O princípio do dano alheio sustenta que as ações dos indivíduos devem ser restritas somente quando elas causem danos a outros indivíduos. John Stuart Mill articulou esse princípio em On Liberty, onde argumentou que "o único propósito pelo qual o poder pode ser exercido com razão sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra sua vontade, é evitar danos a outros".

Li Wenliang

 Médico que descobriu a epidemia de coronavírus

«Hegel escreveu que a única coisa que podemos aprender com a história é que não aprendemos nada com a história, pelo que duvido que a epidemia nos vá tornar mais sábios.»

Slavoj Žižek. A Pandemia que Abalou o Mundo. Tradução de João Moita. Relógio D'Água Editores. Lisboa, 2020, p. 12

"A única coisa de que devemos ter medo é do próprio medo."

Franklin D. Roosevelt

 '' O anti-intelectualismo é uma corrente cada vez mais comum na vida política e cultural, alimentado pela falsa ideia de que em democracia a minha ignorância vale tanto como o teu conhecimento''

Isaac Asimov

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

cenestesia

“sentimento vago que, independentemente dos sentidos, existe no nosso ser.”

NOLI ME TANGERE

 «Não me toques», terá sido, segundo João 20:17, o que Jesus disse a Maria Madalena quando esta o reconheceu depois da sua ressurreição.

Slavoj Žižek. A Pandemia que Abalou o Mundo. Tradução de João Moita. Relógio D'Água Editores. Lisboa, 2020, p. 11

consuetudinário

con.su.e.tu.di.ná.ri.o

kõswɛtudiˈnarju
adjetivo
1.
fundado no costume
2.
costumadohabitual
Do latim consuetudinarĭu-, «idem»

Lobolo (bride-wealth ou bride-price em inglês)

'' Lobolo (lovolo na grafia oficial changana) é a palavra local para designar o preço da noiva (bride-wealth ou bride-price em inglês), uma prática comum em sociedades patrilineares. O lobolo consiste numa cerimónia em que a linhagem feminina é ritual e economicamente recompensada para garantir a passagem da mulher e dos seus filhos para a família do marido. Sobre as práticas contemporâneas do lobolo em meio urbano.''

 Granjo (2005)

hegemonia

Etimologicamente, hegemonia deriva do grego eghestai, que significa «conduzir», «ser guia», «ser chefe», e do verbo eghemoneuo, que quer dizer «conduzir» e, por derivação, «ser chefe», «comandar», «dominar». Eghemonia, no grego antigo, era a designação para o comando supremo das forças armadas. Para Gramsci, a hegemonia caracteriza sobretudo a liderança cultural-ideológica de uma classe sobre as outras, embora possa referir-se à coerção, à dominação de um grupo sobre outro. Interessante é notar que a constituição de uma hegemonia é um processo historicamente longo, que pode (e deve) ser preparado por uma classe que lidera a constituição de um bloco histórico (ampla e durável aliança de classes e fracções). Não é, portanto, um sistema formal fechado, absolutamente homogéneo e articulado, mas, pelo contrário, um processo vivido de maneira contraditória, incompleta e até muitas vezes difusa.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

 

Publicação: Fundação António Quadros - Cultura e Pensamento http://www.fundacaoantonioquadros.pt/

02 – AMÁLIA RODRIGUES, 100 ANOS DEPOIS (E ANTÓNIO FERRO, 125 ANOS DEPOIS),
por Mafalda Ferro.


Cem anos depois do seu nascimento, e mais de vinte depois da morte, é revoltante continuar a ouvir discussões e teses sobre se Amália Rodrigues era de esquerda ou de direita, se o regime se aproveitou do seu êxito para fazer propaganda ou se ela se serviu do regime para se promover, se foi bem ou mal tratada depois do 25 de Abril, se pertencia à Pide ou se tinha sido injustamente denunciada à PIDE, acusada de pertencer ao partido comunista.


Tudo isto poderia ser importante se Amália tivesse sido uma activista política empenhada mas, sendo ela, sobretudo, uma intérprete, letrista e compositora musical de primeira grandeza, conhecida, amada e estimada por portugueses e estrangeiros, tudo o resto é ruído.

Na realidade, a sua única política foi levar Portugal aos quatro cantos do Mundo.


A particularidade mais cativante do estilo de Amália consiste em introduzir na melodia pequenos melismas que, não obstante a característica fadistal, nos trazem à ideia uma lembrança recôndita do canto cigano andaluz ou do peregrino canto mourisco.

Frederico de Freitas em «O Fado Canção da Cidade de Lisboa» (1973),
referido por António Pinto Machado, Cônsul-geral de Portugal em S. Francisco, na Califórnia,
a 25 de Março de 1978, na sua palestra «O Fado».


Todavia, como vivemos numa era em que quase todos sabem e falam de tudo, em que se especula sobre as atitudes e as intenções de quem mal se conhece, é bom lembrar, para além do seu talento, presença, reportório e amor ao seu país, a generosidade e sensibilidade, o sentido de gratidão e autenticidade da nossa maior fadista, bem como a forma recta e digna como desempenhou a sua extraordinária carreira. 

 

Mas, quando fizerem a minha história e eu já não for viva para dizer como foi, então, é que se vão fartar de inventar. Mesmo falado por mim, muita gente dirá que não é verdade, que os boatos é que são verdade. Uma pessoa é dona de si própria. Mas sei que a minha história vai ser aquela que escolherem, aquela que é a mais interessante, aquela que não é a minha.

Amália Rodrigues, em “Amália. Uma biografia”, p.198,
por Vítor Pavão dos Santos. Contexto, 1987.

O talento inato e espontâneo de Amália foi crescendo sempre mais para orgulho de todo um povo e, na opinião de quem escreve esta modesta contribuição, o que realmente a motivava era trabalhar em liberdade, cantar, agradar ao público, viajar e saber que podia sempre voltar para o seu cantinho, para o requinte e conforto da sua casa de São Bento, para a sua querida Lisboa, para os carapaus fritos e para os manjericos, rodeada pelos amigos que tanto a amaram e de quem mais gostava.

 

– O que pensa, Amália, quando lá fora, diante duma plateia cosmopolita, é alvo de tão grandes e tão espontâneas ovações?

Ela calou-se um momento e respondeu com um ar de profunda sinceridade:

– Penso que nada daquilo é comigo, que eu estou ali, sim, mas que não sou eu, que estou longe, muito longe, e que estou a cantar, a agradecer e a sorrir como se fosse outra pessoa, como se de qualquer modo estivesse a receber aplausos que não me eram destinados.

A sinceridade da sua voz comoveu-me. Aliás, Amália surpreende-me sempre. Um dia, tendo cortado os cabelos, que usava então pelos ombros, não pude esconder a minha pena e exclamei:

– Oh, Amália, os seus cabelos! Que pena!

Ela sorriu e perguntou-me:

– Estou horrível, não estou?

E acrescentou:

– E agora primeiro que cresçam... Sabe como lhes chamo? «Crime e Castigo»!

Fernanda de Castro, em Ao Fim da Memória, 1987.

 

Muito se tem falado sobre a relação profissional de António Ferro com Amália, se o facto de Ferro ter sido o primeiro a convidá-la e a contratá-la para cantar em França e Inglaterra significa que a usou em prol do antigo regime; a verdade, a simples verdade, é que António Ferro a apreciava, admirava o seu talento e lhe deu oportunidades de trabalho dentro e fora de Portugal.

António Ferro era, como se sabe, um extraordinário vedor de talentos – de artesãos, pintores e artistas gráficos, de poetas e escritores, de músicos e cantores – ajudando-os sempre que podia e lhes reconhecia o valor. Com Amália, não foi diferente. Reconheceu-lhe a voz desde menina e, mais tarde, a extensão do seu carisma e o animal de palco que era, a forma  como abrilhantava um espectáculo, um serão, um almoço ou qualquer outra iniciativa particular ou institucional.

Demonstrando essa admiração e apreço, António Ferro entregou-lhe em 1948 o Prémio S.N.I. para a Melhor Actriz do Ano pelo seu desempenho no filme «Fado, História de uma Cantadeira», longa-metragem realizada em 1947 por Perdigão Queiroga. Pela mesma razão, convidou-a a actuar em Lisboa, tanto em sua casa como em festas organizadas em espaços públicos.

Foi também a convite de António Ferro que, em 1949, actuou em Paris pela primeira vez e, posteriormente, em Londres, em festas do Departamento de Turismo e em Lisboa.

 

Primeiro fiz-me Amália Rodrigues em Portugal, depois do público português me ter feito em Portugal, fui a França. Depois, o público de França mandou-me para toda a parte do mundo. Quer dizer, sou uma artista universal mais por causa de França. Hoje há lá muitos portugueses. Quando lá estive pela primeira vez, não tinha ninguém português […]. É que, quando eu fui para Paris, tive a vitória completa porque foi o público francês que eu conquistei.

Amália Rodrigues em entrevista a Adelino Vaz,
publicada na Revista «Macau», n.º 26, Agosto de 1990.

 

Os convites de António Ferro foram muitos; no dia 21 de Novembro de 1951, por exemplo, o casal Ferro organizou a título pessoal, na sua casa de Lisboa, uma recepção de homenagem à cantora e actriz argentina Berta Singerman, convidando Amália a actuar. Estiveram também presentes, entre outros: Margarida Bello Ramos; Cármen Silva Graça; João Salinas Dias Monteiro; António de Meneses; Maria da Graça e Joaquim Paço d’Arcos; João Couto; Natércia Freire; Maria Teresa Silva Passos; Marie e Pierre Hourcade; Viscondes de Carnaxide; Francis Graça; Viscondes da Fonte Boa; Maria Isabel e Orlando Vitorino; J. e Odete Grasset; Sofia de Mello Breyner Andresen; Júlia de Mello Breyner; Maria Amélia Brandão de Carvalho; António Eça de Queiroz.

 

Como é que eles sabiam que eu era contra eles, quando aconteceu o 25 de Abril? Eles não sabem nada! Houve pessoas que tomaram conta dos jornais e de mim não se falava. Tomaram conta da rádio e os meus discos não tocavam. Na televisão eu não podia aparecer. Só o público, é que não conseguiram por contra mim.

Amália Rodrigues, em “Amália. Uma biografia”, p.182,
por Vítor Pavão dos Santos. Contexto, 1987.

 

Em 1949, fui cantar pela primeira vez a Paris e a Londres, levada pelo António Ferro. Sempre gostei do António Ferro, ele sempre me tratou bem, sempre disse que eu era boa artista, achava até que eu era inteligente. Escreveu um artigo no jornal, por volta de 1941, a dizer que estava ali uma rapariga com qualidade artística internacional. Mas o António Ferro não teve nenhuma importância na minha carreira.

Amália Rodrigues, em “Amália. Uma biografia”, p.100,
por Vítor Pavão dos Santos. Contexto, 1987.


Em Fevereiro de 1952, Amália cantou na Legação de Portugal em Berna, também a convite de António Ferro.

Meu querido amigo
Deu-me muita alegria a sua carta!
Irei com muito gosto fazer-lhe uma visita.
A altura do seu amável convite não podia ser melhor pois eu ando um bocado abatida com uma gripe fortíssima que tive e esses ares com certeza me fazem bem.
Já sabe que estou sempre de acordo com o que quiser mas simplesmente para meu governo, peço-lhe que me diga um mínimo com que posso contar.
Cá fico ansiosa por partir ao seu encontro e para lhe agradecer este e outros favores que lhe devo.
Abraça-o com muita ternura sua pequenina amiga Amália.

Carta de Amália Rodrigues para António Ferro, [s.d.],
PT/FAQ/AFC/01/0368/00005.

 

Ainda em Berna, talvez inspirado pela estadia de Amália, António Ferro termina a peça de teatro em três actos «Je ne sais pas danser», que gostaria de ter levado à cena com João Villaret e Amália Rodrigues nos principais papéis:

A personagem principal masculina [João Villaret] chama-se Carlos Pinto e é um crítico dramático bastante severo, conhecido pela sua probidade e selvageria, tímido ou distante nas suas maneiras e no seu convívio […]. A personagem principal feminina [Amália Rodrigues] é uma actriz de comédia acarinhada pelo snobismo nacional que nutre uma paixão por Carlos Pinto.

Em «Escritos e Actividades de António Ferro»,
acervo da Fundação António Quadros, PT/FAQ/AFC/04/00400

 

António Ferro partiu para Roma, sua derradeira morada, sem levar à cena a peça que, escrita em francês, nunca foi traduzida e, lamentavelmente, por ter estado em contacto com água durante um incêndio ocorrido em sua casa anos depois, o manuscrito de 49 páginas, está parcialmente ilegível.

Nos últimos anos, Amália já não passeava por Lisboa nem subia o Chiado como tanto gostara de fazer e poucas pessoas visitava. No entanto, continuou a frequentar a casa de Fernanda de Castro, enquanto pôde, chegando mesmo a oferecer-lhe um gira-discos e discos seus autografados para que, já acamada e com pouca visão, pudesse distrair-se.

 

Estou com febre!
Com febre e com muita pena de não poder estar ao pé de si!
Gosto tanto de si!
O Ary sabe… Ele também é como eu, seu admirador.
Parabéns e muita alegria!
Vou beber uma ginjinha à sua saúde!
Beijinhos grandes da sua
Amália.

Carta de Amália Rodrigues para Fernanda de Castro,
enviada num dia dos seus anos, a 8 de Dezembro, sem referência ao ano,
PT/FAQ/AFC/01/0368/00004.

 

A amizade e admiração entre Amália Rodrigues e o casal Ferro manteve-se igual até ao último dia de vida de António Ferro em Novembro de 1956, e de Fernanda de Castro em Dezembro de 1994.

 


Imagens da esquerda para a direita:

1: Reconhece-se Amália Rodrigues, António Ferro, Guilherme Pereira de Carvalho, Paulina Ferro, António Quadros e Augusto Cunha, [s.d.; s.l.]. Colecção Particular de Mafalda Ferro.

2: Reconhece-se António Ferro Amália Rodrigues, Tomás de Mello e Guilherme Pereira de Carvalho, [s.d.;s.l.]. Acervo Fundação António Quadros, PT-FAQ-AFC-06-002-0012-02754.

3: Reconhece-se João d'Ávila, João Perry, Edith Arvelos, Fernanda de Castro e Amália Rodrigues, durante o 1.º Festival do Algarve (1964) organizado por Fernanda de Castro. Acervo Fundação António Quadros, PT-FAQ-AFC-06-002-0001-02599.

04: Amália, em Fevereiro de 1952, na Legação de Portugal em Berna, a convite de António Ferro. Acervo Fundação António Quadros, PT-FAQ-AFC-06-001-00013.

05: Dedicatória Minha Senhora e minha Amiga – se eu soubesse que corria o risco de estes quasi versos lhe chegarem às mãos, – não os teria escrito. Embora sabendo da sua benevolência, tenho muita vergonha!... Um grande beijinho da sua Amáliaem «Amália gostava de ser quem era», 1980, disco LP, oferecido por Amália a Fernanda de CastroColecção Particular de António Roquette Ferro. Fotografia por Paulo Ribeiro Baptista.

06: Dedicatória Para o António Ferro que é o terceiro António Ferro que conheço. Do primeiro gostei muito e hei-de gostar de todos Eles. Beijinhos da Amália, em «O melhor de Amália, estranha forma de vida», 1985, disco LP oferecido por Amália a António Roquette Ferro. Colecção Particular de António Roquette Ferro. Fotografia por Paulo Ribeiro Baptista.