"o cancro da técnica seria, não a rebelião romântica, mas o cepticismo dentro da técnica.''
«a Terra não deixa de ser selvagem, em qualquer lugar, como no nosso "coração"»

Edmundo Cordeiro
''pessoa singular (Einzelne) - em oposição ao indivíduo (das Individuum) ''
Diz Ernst Jünger em Der Waldgang que a nossa época é pobre em grandes homens, mas produz figuras.
         «Hoje nós já vemos, através das fendas e das rachaduras da torre de Babel, um mundo todo gelado, cuja visão faz estremecer mesmo o coração mais corajoso. Em breve, o tempo do progresso nos parecerá enigmático como os segredos de uma dinastia egípcia. Mas, naquela época, o mundo comemorou cada um dos seus triunfos, que emprestavam ao vencedor, por um instante, a centelha da eternidade. Com punhos demasiado violentos, mais ameaçadores que Hanibal, aqueles exércitos, cuja imagem se perde no tempo, haviam batido nos portões das grandes cidades e dos estreitos fortificados do mundo.»


Ernst Jünger. A mobilização total (Ensaio). Tradução e notas de Vicente Sampaio. Natureza Humana 4(1): 189-216, jan.-jun. 2002

 «Por trás de toda solução salvadora em que esteja desenhado o símbolo da felicidade, espreitam a dor e a morte. »



Ernst Jünger. A mobilização total (Ensaio). Tradução e notas de Vicente Sampaio. Natureza Humana 4(1): 189-216, jan.-jun. 2002
«Ao mesmo tempo cresce o valor das massas. A medida de assentimento, a medida de publicidade, torna-se o fator decisivo da política. Em particular o socialismo e o materialismo são as duas grandes moendas entre as quais o progresso tritura o resto do velho mundo e, por fim, a si mesmo. Por mais de um século, a “direita” e a “esquerda”, como que em um jogo de bola, lançaram de lá para cá as massas deslumbradas pela ilusão de óptica do direito ao voto. Sempre pareceu que uma das partes acreditava poder responder de maneira diferente às reivindicações da outra parte. Mas hoje, em todos os países, revela-se, de modo sempre mais evidente, o fato de que a identidade deles e mesmo o sonho de liberdade desvanecem como que espremidos entre as garras de aço de um alicate. É um espetáculo grandioso e terrível ver os movimentos das massas, que se configuram de maneira cada vez mais uniforme e sobre as quais o espírito do mundo lança a sua rede de arrasto. »

Ernst Jünger. A mobilização total (Ensaio). Tradução e notas de Vicente Sampaio. Natureza Humana 4(1): 189-216, jan.-jun. 2002
O Desenhador de Sóis IV. (Poema de Vida)


A vida irrompe, brota nos teus olhos. O poema é uma coisa que treme, uma coisa quente, fechada entre as mãos, em concha, uma coisa viva que é urgente soltar (Uma nascente de pássaros). As palavras vêm em ondas de fogo. A sua vibração quente e segura. O seu silêncio mágico. Há um canto muito antigo, um nadador que atravessa o sol a nado, os seus braços, de nervo e fogo; vistos a esta luz, (visto sempre de cima) tudo é um poema de vida, como a voz humana, o canto, a dança, os beijos, o sol. Tudo aqui é fogo. Poema de Vida. Batimento. Canto. Sopro. Somos intermináveis. Intermináveis e belos. Sabemos, como toda a nascente, o nosso caminho. Sabemos com o coração, que não param nunca de se misturarem as águas, que elas cruzam os seus fogos, que nos dão as coisas pequenas, o milagre das coisas pequenas, (os grãos de areia, os poemas de amor). Não esquecer essa força primeira: (O silêncio do abraço mais puro, o coração das árvores antigas). Viver é um movimento de liberdade nunca acabado. Viver é um canto do fogo. Os poemas vêm com as suas ondas. O seu sopro quente. O seu sopro primeiro. (Nascente) Só ver a vida como poema de vida. Impessoal. Quente. Honesta. Ela ganha sempre. Duas meninas arménias dão as mãos numa praia de luz. As ondas e a sua música. O coração e as células em dança. O fogo. O seu silêncio mineral. A nossa terra treme à passagem de tantos colossos, há um canto das montanhas, há um canto dos desertos, o mar noturno também canta, cantam e riem os olhos, as mãos, os braços, pernas entrelaçados. As fontes cantam. Os rios cantam. No fundo tudo isto pode ser um símbolo da nossa esperança. Tudo isto é um símbolo da nossa esperança, (Um só símbolo para a vida). Único, Primordial, Eterno. Nadamos juntos em direção à nascente de tudo, a corrente segura de um canto Antigo: os braços em bruços. Potentes, Perfeitos: Os Olhos. As Mãos. O Coração... O seu silêncio branco: (Nascente) … (Nascente) ... (Nascente).

Nuno Brito, 28 de Dezembro de 2016.

«Uma vida de lobo...Nenhuma alegria; enterro-me na lama, sem me poder agarrar; tudo o que apanho está podre...»


Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 138

NATACHA

  Mas...ir contigo para quê? Para te amar?...Francamente, não te amo assim muito, muito. Às vezes parece que me agradas...Outras, só de te olhar me revolto...Sem dúvida que não te amo...Quando se ama verdadeiramente, não se vêem os defeitos do amado...E eu vejo-os bem...



Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 137

«Só sinto uma coisa: é preciso viver doutra maneira...Melhor: é preciso viver...de maneira que um homem se possa estimar a si próprio...»



Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 136

NATACHA

Não pôde suportar a verdade, quando lhe tiraram a ilusão.



Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 134

«Tu dizes: a verdade...Mas isso nem sempre é remédio para todos os sofrimentos...A alma nem sempre se cura com a verdade...»


Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 131

«Todos têm as almas um pouco escuras...»


Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 126
Escritora Teolinda Gersão conquista prémio literário Vergílio Ferreira 2017
«Ruy Belo é o grande rio do Tempo, Herberto Helder é omnifágico, o grande devorador das experiências humanas. Cesariny é o grande destruidor dos lugares comuns. E hoje, nesta atmosfera opressiva em que vivemos, é preciso mais e mais irreverência. É preciso não esquecer que dentro do grande estômago deste mundo do consumo tudo cabe. Tudo está na iminência de ser digerido e desaparecer.»

João Barrento (em entrevista)

Ruy Belo, Mário Cesariny, Herberto Helder

'' três grandes rios da poesia portuguesa'', na opinião de João Barrento

apócrifo


adjetivo


1. não autêntico ou cuja autenticidade não foi provada
2. dizse dos escritos que a Igreja Católica não reconhece como pertencentesao cânone bíblico; não canónico
«A poesia, como a arte em geral, é sempre a consequência de um tempo e de uma circunstância.»


João Barrento

«Criou até uma série de siglas que usa para classificar essa nova “literatura realista” de que fala. Começou com RUST, para Margarida Rebelo Pinto. Que categorias são essas?

RUST significa Realismo Urbano Sentimental Total e criei esta sigla para a Margarida Rebelo Pinto, mas agora também lá colocaria o Valter Hugo Mãe dos últimos romances. Depois Tenho o Realismo Rural Não Total, RRNT, onde coloco o José Luís Peixoto e o Afonso Cruz, que é aquele rural exótico. Tenho ainda o Realismo Fantástico Total, o RFT dos romances do José Rodrigues dos Santos. Mas há outros, a lista seria infindável. Há agora também a moda da violência espetacular de um autor de quem já gostei mas que hoje não acho nada interessante que é o Paulo José Miranda. Na mesma linha li um livro do Valério Romão e achei que apesar de tudo ele tem mais recursos. De entre estes novos e mediáticos escritores o único cuja obra eu considero original é o Gonçalo M. Tavares. É um escritor douto, capaz de abarcar um largo espectro de temas, de formas de linguagem, é imensamente culto e consegue trazer essa cultura para dentro dos seus livros.»

João Barrento
«No seu livro escreve que voltámos a uma ficção conservadora, que “parece estar totalmente refém da linguagem televisiva, do videoclip, e totalmente incapaz de interrogar criticamente a consciência do leitor e o mundo em redor”. Porquê?

A imposição do romance quase como sinónimo de literatura apagando a poesia e o conto, o realismo de cariz conservador e banal, a pobreza da linguagem, são sintomas de um mundo sem memória, onde a cultura, a arte e a literatura se regem por paradigmas economicistas. O único lugar onde ainda existem valores é na Bolsa. A vida das pessoas gira em torno do consumo e das vivências do corpo mas apenas na sua perspetiva hedonista. Logo, o simbólico, a letra, a palavra saem a perder. A tecnologia apaga a palavra. A literatura foi totalmente contaminada pela acumulação de atualidade, de informação, abdicando do espaço da História, da memória. Obriga-nos a um eterno presente onde imperam as imagens.

Sob esses escritores e poetas permanentemente sob os holofotes espreita a perda da capacidade de ler, o enfraquecimento da capacidade de enfrentar e decifrar enigmas, porque toda a sua capacidade simbólica está enfraquecida pelas mensagens dominantes, demasiado ruidosas e demasiado simplistas. Uma das grandes perdas do nosso tempo é essa capacidade imaginante só alcançável através da palavra, de uma imaginação que progride a partir da força da palavra.»

João Barrento (em entrevista)
«A literatura e a poesia são sobretudo um trabalho de estruturação de um olhar sobre o mundo e depois a colocação desse olhar sob a forma de linguagem. Uma linguagem que não se limite a contar factos (isso, lá está, é o que fazem os media) mas que dê a ver o invisível através do visível. Isto não é uma questão de rejeitar o realismo mas sim da forma como se pode dar a ver esse realismo. Não há certamente escritor mais realista que o Beckett e no entanto olhe-se para a linguagem dos livros dele…»


João Barrento

grupos do Cartucho

(Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge, Helder Moura Pereira, António Franco Alexandre)


«Tenho uma solidão parecida com a tua
Vejo-te ao longe, uma ilha
(dei-te o meu coração) cercada
Pelo mundo, crianças assassinas.
As ondas rebentam contra o paredão
Flutuo em Lisboa num amor sem fim
Na melancolia fria.»


João-Paulo Esteves da Silva
«Tâmaras», Douda Correria, 2016.

Quarto 105


«Foi à tarde. Deviam ser quatro horas. Escrevera o meu último verso. Dirigi-me para o meu quarto. Por acaso olhei para o espelho do guarda-vestidos e não me vi reflectido nele! (...) Via tudo em redor de mim, via tudo quanto me cercava projectado no espelho. Só não via a minha imagem. (...) A sensação misteriosa que me varou...quer saber? Não foi uma sensação de pavor, foi uma sensação de orgulho.»

Mário de Sá-Carneiro, «Confissão de Lúcio», Tip. do Comércio, 1914.
«Bem dizem eles que quem lê muito fica com o cérebro avariado!...»


Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 119

«nasce-se, vive-se uns tempos e depois morre-se.»



Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 112


«Ninguém pode fazer-se amar à força...E não está no meu feitio mendigar amor...»


Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 96/7


«A morte é o descanso, costuma dizer-se e é bem certo; na verdade, como se pode descansar neste mundo?»


Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 84

«Toda a gente tem paciência e sofre a sua vida. Cada um sofre à sua maneira.»



Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 74

«Senhor! Terei também de sofrer no outro mundo...no Céu também?»


Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 74

"Quando eu, amor, ao certo em mim souber
que força te consente a minha imagem
e qual das dores que, nela, há por paisagem
te alegra, ao ser maior, e me não fere,

e porque o que de ti pura mulher
me é tão amargo em ventres de passagem,
embora os risos, que ouço maus, me ultrajem,
precisamente o amor com que eu tiver,

isento de maldade, o teu carinho
e o desses tristes ventres renovados,
e lembrem que não só por estar sozinho
apenas choro os seres nunca gerados,

ao certo saberei que imagem tenho
e a qual Amor, de mim a ti, eu venho."


 Jorge de Sena. "Visão Perpétua"

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

"Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos
Há beleza bastante em estar aqui
e não noutra parte qualquer"
Alberto Caeiro
Cesariny “os gatos são os únicos burgueses/ com quem ainda é possível pactuar –/ vêem com tal desprezo esta sociedade capitalista!/ Servem-se dela, mas do alto, desdenhando-a…/ Não, a probabilidade do dinheiro ainda não estragou inteiramente o gato/ mas de gato para cima – nem pensar nisso é bom!”

BUBNOV

Que estás tu a resmungar?

SÁTINE

Palavras...ainda há mais: transcendental!.

BUBNOV

Que quer isso dizer?

SÁTINE

Não sei...Já me esqueci...

BUBNOV

Então para que dizes essas coisas?

SÁTINE

Olha, meu caro amigo, pelo seguinte: estou farto dessas palavras que toda a gente diz, das nossas palavras...Sim, já estou enjoado...Tenho-as ouvido mais de mil vezes.


Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 20/1

KVAQUENIA

Ah! Não, menino, sei bem o que digo: dessa estou eu livre! Já passei por tudo isso, sei bem o que digo; e agora, nunca, nem mesmo por cem lagostas bem cozidas, eu me casava.


Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 10

''lê um livro esfarrapado''

Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 10
«Aceitar o desespero, a angústia, a frustração. E ver através disso.»


Amor insensato (1924; Companhia das Letras, 2004)

Voragem (1928; idem, 2001)


Há quem prefira urtigas (1930; idem, 2003)


A chave (1956; idem, 2000)


Diário de um velho louco
(Estação Liberdade, 2002)


Ensaio Elogio da Sombra.

"Rei Cisne" ou "Rei de Conto de Fadas"

«O rei Ludwig II, da Baviera era um romântico sonhador. Muitas vezes um incompreendido. Durante seu reinado mandou construir castelos e palácios extravagantes, gastava dinheiro feito um louco, daí para muitos era chamado de Rei Louco. Seu ministério, com medo de suas dívidas, o diagnosticou com uma doença mental. Um dia antes de sua morte foi deposto e preso. Aliás, sua morte foi um mistério que até hoje não foi solucionado.»

báscula


nome feminino
balança de braços desiguais para grandes pesos

''Tremem folhagens''


António Salvado. Afloramentos. p. 120

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016


«Um cão fiel     à infidelidade: »


António Salvado. Afloramentos. p. 96

«quando os lábios sofriam por mordidos
e o fascínio ofegava como as ondas.»



António Salvado. Afloramentos. p. 92

''sufocar em sede''

António Salvado. Afloramentos. p. 85
delido
adjetivo
1.desfeitoroto
2.arruinado
3.puídogasto

desar


nome masculino
1.desairerevés de fortunadesgosto
2.defeito físico ou moral
3.ato indecoroso
«Disseram quantas vezes que não há
palavras que definam o Teu rosto,»


António Salvado. Afloramentos. p. 30

domingo, 25 de dezembro de 2016

“Ninguém estaria disposto a sacrificar um amor, apesar das suas sequelas traumáticas e por vezes terríveis.” Esta é a frase de alguém que viveu e que conhece bem essas sequelas. 

Nesta frase há uma verdade profunda. O amor é uma experiência fundamental na vida de um ser humano. E não significa apenas felicidade, mas também dilaceração, frustração, trauma. Paga-se um preço, mas é um preço que todos estamos dispostos a pagar porque, no fim, fazendo as somas e as subtrações, os benefícios e a exaltação que o amor trazem não são substituíveis.


excerto de entrevista a Mario Vargas Llosa, no Jornal Expresso

Elza Soares

A Mulher do Fim do Mundo é a sua história e o seu testamento artístico – “Meu choro não é nada além de Carnaval / É lágrima de samba na ponta dos pés”

«para tão curto amor tão longa vida.»



Agostinho da SilvaUns poemas de Agostinho. Ulmeiro. 1ª edição, 1989., p. 73

(...)

«certo de que o pensamento
é nada sem coração.»


Agostinho da SilvaUns poemas de Agostinho. Ulmeiro. 1ª edição, 1989., p. 94

sábado, 24 de dezembro de 2016

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

« e sou de tudo o meu e só juiz»


Agostinho da SilvaUns poemas de Agostinho. Ulmeiro. 1ª edição, 1989., p. 73

«vivo a vida que aos outros pouco diz»


Agostinho da SilvaUns poemas de Agostinho. Ulmeiro. 1ª edição, 1989., p. 73

«amor de mim me solta de sofrer
e já nem a mim amo inteiro dou
o que não sendo sou aos outros todos»


Agostinho da SilvaUns poemas de Agostinho. Ulmeiro. 1ª edição, 1989., p. 72

(...)

«sem morte que nos destrua
sem vida que nos ofenda.»

Agostinho da SilvaUns poemas de Agostinho. Ulmeiro. 1ª edição, 1989., p. 62