sábado, 24 de outubro de 2015

O Espelho Imaginário Pintura, Anti-Pintura, Não-Pintura, 1981 Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda

“Penso que muitos de nós entendem ter uma dívida para com Eduardo Lourenço. Eu tenho. Uma dívida das que não se pagam, que assenta mais numa consciência ética que num dever mensurável em diferença ou quantidade. O mínimo que se pode dizer é que ele nos tem dado tudo o que um ser humano pode dar aos seus contemporâneos: reflexão contante e partilhada, empenho afectivo e sensibilidade às emoções, cometimento do cidadão desperto que nunca enjeita solicitações, mesmo se incómodas, para se manifestar; e, sobretudo – e de que forma! – um ensino que é exemplo e é prática de agir pensando, ou de pensar agindo. 

Devemos-lhe, fundamentalmente, ao longo de meio século, ter-nos vindo ajudando a pensar, a ver melhor as coisas – e essa lição colhi-a num dos seus livros menos conhecidos e mais fascinantes, O Espelho Imaginário, no qual faz do discurso sobre o visual um suporte para a consideração de que a arte é parte integrante e inalienável do social. Com um pensamento que se apoia em mestres, e nos faz pressupor que sem o conhecimento os clássicos a vida é pouca, ele cria o seu próprio modelo, que é o de uma filosofia colhida na generalidade das Ciências Humanas, em que arte e comportamento não se dissociam.” 


Maria Alzira Seixo “Lourenço, espelho de contemporâneos (poesia, riso e sociedade)” in Relâmpago, revista de poesia, n.º 22, 4/2008, pp.145-46.

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