RITUAL DOS ESCRAVOS
Dá-me o que não tens, mas que é a tua essência,
acaso esse desejo tão íntimo e proibido,
o que mais te pertence: a tua entrega e a tua renúncia.
Tudo o que serás quando a tua plenitude
alcance o futuro que tenha amadurecido
como um dourado fruto pela luz do Outono.
Talvez a noite límpida nos reúna
para que conheçamos o mal do difícil,
o mail indivisível do amor,
onde por fim possamos existir
no ténue esplendor com que a vida
nos escolhe e fatalmente nos mistura.
Por isso peço-te que com firmeza cumpras
o rigoroso ritual dos escravos:
mudar a liberdade da esperança
pela ânsia que juntos nos aprisiona.
Justo Jorge Padrón. Extensão da Morte. Editorial Teorema, 2000., p. 28