« - Dispenso as explicações. Quando elas são necessárias já não servem de nada - disse eu, de maneira modesta, para não o irritar. Digo mal. O Freirão nunca se irritaria comigo. Um caçador irrita-se com o meteorologista, não com uma mulher. Eu, de resto, não lhe dizia o que pensava. Como se me ouvisse, no silêncio das minhas cordas vocais, ele perguntou-me:
-O que estás a pensar?
-Eu? Em nada...Mas já que quer saber, penso que não há remédio para uma pessoa como você.
-Não há salvação, quer dizer.
-Ou isso.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e Amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 12