Agora são doze girassóis numa jarra que o
homem vê no espelho onde se fixam as
omoplatas da mulher. Tudo se passa numa
ponte, dentro de um sonho, com um moinho
parado quase submerso onde se refugiam
as aves de Verão. Apetece-lhe reviver um
crime, ressuscitá-la para de novo a matar,
para que o choro regresse com mais força,
como a chuva de Inverno a bater nas janelas,
o granizo. E anseia por vê-la um segundo,
tocá-la, mexer-lhe na testa, cruzar os dedos
nos seus cabelos e escutar-lhe novamente
os derradeiros gemidos. Como se cheirasse
um aloendro ou se deitasse para sempre num
campo de hortênsias azuis.
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento.
Relógio D' Água, 2012., p. 47
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