Era um rapaz de olhos grandes, sangue
cumano, ferido de tristes quereres:
a manada guardava e corria
através do célebre Hortobágy húngaro.
Crepúsculos e miragens cem vezes
a alma lhe tomaram; se uma flor,
porém, no coração lhe crescia,
nele pastava manada de povos.
Mil vezes pensou em maravilhas,
pensou na morte, em vinho, mulheres;
em qualquer outro sítio do mundo
teriam feito dele cantor sacro.
Mas se olhava os companheiros, sujos,
tolos, calças largas, e a manada,
logo enterrava sua canção:
e praguejava ou assobiava.
Ady Endre in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 106
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