ARKADINA (...) Onde é que está o Boris Alexeevich?
NINA Está lá em baixo, a pescar.
ARKADINA Nunca se cansa de pescar, não entendo.
(Prepara-se para prosseguir leitura)
NINA Que livro é esse?
ARKADINA Na Água, do Maupassant, minha querida.
(Lê umas linhas, para consigo) Bem, o que
vem a seguir não tem interesse, nem sequer é
verdadeiro. (Fecha o livro) Estou preocupa-
díssima, verdadeiramente aflita, no meu
íntimo. Sabe dizer-me o que é que se passa
com o meu filho? Porque é que ele anda tão
abatido, tão triste? Deixa-se ficar dias e dias
inteiros, à beira do lago, e mal o vejo.
MASHA Tem o coração doente. (Para NINA, com ti-
midez) Não faz o favor de nos ler uma pas-
sagem da peça dele?
NINA (Depois de encolher os ombros) Quer que eu
leia? Mas é tão pouco interessante, a peça.
MASHA Quando é ele próprio a ler, os seus olhos
brilham, e empalidece. Uma voz linda, me-
lancólica. Parece mesmo um poeta.
A. Tchekov. A Gaivota. Tradução de Fiama Hasse Pais Brandão. Relógio D'Água, Lisboa, 1992., p.40
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