sexta-feira, 16 de julho de 2010

II

Outro poço, uma gruta.
Era-nos fácil dele retirar, outrora, ídolos e adornos,
Assim dando prazer aos seus amigos que nos eram ainda fiéis.
Partidas as cordas. Sulcos apenas na borda
Lembram-nos a felicidade desaparecida.
''Os dedos apalpam a borda'', disse o poeta.
Os dedos apalpam o frescor da pedra um instante
E a febre do corpo se espalha na pedra
E a gruta joga sua alma e a perde
A todo instante, cheia de silêncio, sem uma gota.




Giorgos Seferis. Poemas. Trad. de Darcy Damasceno. Estudo introdutivo de C. TH. Dimaras. Editora Opera Mundi. Rio de Janeiro, 1973., p. 47


Nota: ''Os dedos da borda'', disse o poeta. Dionysos Solomos, A mulher de Zante:''E os Justos, quantos são eles segundo a Santa Escritura? E, pensando nisso, meus olhos tombaram sobre minhas mãos, postas na borda do poço.''

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