diante do mar
antevejo as planícies místicas de outubro,
quando o vento trás o travo das gaivotas
à boca semeada das papoilas da primavera
é verdade, há um caminho secreto que conduz,
através dos verdes campos de maio,
à casa que, regada do incêndio do verão
mostra em outubro que, depois da bucólica infância
das imagens, vem sempre o espaço do poema:
o olhar que distende o movimento da mão conduz
à casa a casa a casa a casa
a conciliação dos trabalhos da mão
com o perfume do silêncio
então, antevejo:
o poema é a mão que corrige o olho,
que antecipa a eternidade
sou o caminho dessa mão
que antevê o cálculo
do marinheiro que manobra
o astrolábio da canção
essa mão é todo o corpo do poema
a mão que distende o travo das manhãs pela paisagem
e mantém sempre todo o silêncio junto ao peito,
a mão que escreve as marés as marés as marés
e trás a lua a lua a lua para o olho,
e trás a lua condenada pela carne e pelo sal
à degustação das parábolas
entretanto,
o gosto progride, como um segredo
a mão promove uma lenta infância que se alarga,
um caminho através do poema, que
não teme a derrocada das casas, que
promove o anseio salubre que
as planícies infundem no rosto da criança
adormecida
sabe-se que
diante do mar, todos os caminhos levam ao silêncio
Luís Felício
Olá
ResponderEliminarexcelente este poema. como sempre de forma contínua a surpreender! apesar de não ter comentado muito aprecio muitíssimo este espaço onde descubro palavras e não meço o tempo.
nestes versos encontrei espelhos de definições "o poema...antecipa a eternidade""...distende o travo da manhã pela paisagem" "...o gosto progride, como um segredo" e a tão inconfessável certeza que sempre diante da opulência infinita "...do mar todos os caminhos levam ao silêncio".
a mão que escreve o poema "...promove uma lenta infância que se alarga"
Luís Felício, tanto quanto me informei, faz parte de um novo projecto de poesia emergente na revista "Cráse" e será um nome a reter.
Até breve,continuarei atento na boa permanência deste lugar.
Obrigada José, e claro, é sempre bem-vindo a este espaço;)
ResponderEliminarDiria que sou suspeita em tecer alguma espécie de comentário sobre a poesia de Luís Felício, contudo, é como diz, é um nome a reter. Um poeta de mão cheia, e sangue novo, sem dúvida.
(Claro, a minha opinião)*
By the way...(lembrei-me!), penso que deve conhecer a revista, pelo Nuno Brito, que se não estou em erro do momento, também colabora no seu blogue.
ResponderEliminar(é possível que esteja a fazer confusão)
Olá de novo
ResponderEliminarnão há qualquer confusão, conheço e recomendo a revista do amigo Nuno Brito a quem também admiro como poeta
( o livro " Delírio Húngaro" é
muito original e já tem lugar na minha biblioteca)