terça-feira, 13 de outubro de 2009

«Um tão inexplicável excesso de mágoa absurda, uma dor tão desolada, tão órfã, tão/metafisicamente/minha, (...)»

Fernando Pessoa

1 comentário:

  1. Estou Cansado

    Estou cansado, é claro,
    Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
    De que estou cansado, não sei:
    De nada me serviria sabê-lo,
    Pois o cansaço fica na mesma.
    A ferida dói como dói
    E não em função da causa que a produziu.
    Sim, estou cansado,
    E um pouco sorridente
    De o cansaço ser só isto —
    Uma vontade de sono no corpo,
    Um desejo de não pensar na alma,
    E por cima de tudo uma transparência lúcida
    Do entendimento retrospectivo...
    E a luxúria única de não ter já esperanças?
    Sou inteligente; eis tudo.
    Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
    E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
    Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

    Álvaro de Campos

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