sábado, 19 de março de 2016

Dorothea Lange. Untitled 1951.



«E ao fundo do espelho, o tal,
Com seu tique de ironia
Na boca fria,
Seus hirtos lábios agudos,
Seus olhos mudos,
Ensina-me a hipocrisia
De continuar a viver.»



José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  28

«Porque tens esse olhar triste,
Desenganado,»

José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  27

morgue fria

lágrimas de chumbo

Qui-é, qui-é?

de.bal.de

em vão

«Sonhei que ela me espera, adormecida
                  Desde o começo da vida,»


José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  15

Edward Honaker (2015)


1

COLEGIAL

Em cima da minha mesa,
Da minha mesa de estudo,
Mesa da minha tristeza
Em que, de noite e de dia,
Rasgo as folhas, leito tudo
Destes livros que estudo,
E me estudo
(Eu já me estudo...)
E me estudo,
A mim,
Também,
Em cima da minha mesa,
Tenho o teu retrato, Mãe!»

(...)
José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  11

relações de alteridade e mesmidade

“If my film makes one more person
miserable, I’ll feel I’ve done my job”.

Woody Allen

narrativa fílmica

''O cinema é de todas as artes, a mais perceptiva,
por ser a que mais se aproxima da realidade,
assim como a conhecemos.''

Ed van der Elsken (Dutch, 1925-1990) Devant “Le Mabillon,” Geri, Vali, Roberto, the Three Main Characters of “Love on the Left Bank,” 1950


A definição do sujeito no cinema

''Os Dias Estranhos do Cinema ou a inconstância do eu e do outro nas
personagens e no encontro entre o mundo real e a ficção''

Cinefilia

''L’adieu à la littérature''

... a poesia inculca a ideia de que a palavra é livre e de que a língua é partilhada por todos, quando não há opressão maior e mais infame que a da língua.

Alberto Pimenta, IV de Ouros
''A elipse é um intervalo e o intervalo é aquilo que em regra descartamos, ou fingimos ignorar, como os intervalos brancos entre as palavras do poema ou  os intervalos negros que separam os fotogramas do filme.»

Rita Hayworth wearing Jean Louis costume in The Lady from Shanghai directed by Orson Welles, 1947. Photo by Robert Coburn


imagens fílmicas

''escolho o rosto de Humphrey Bogart''

quarta-feira, 16 de março de 2016

«E eis como a noite inteiramente nos esqueceu.
E esperamos, esperamos, na obscuridade.»



O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 211

«Sai depressa, depressa.
Já quase morrem esta noite os ecos.»



O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 210


«Bebi até ao fundo da minha dor,
e ela cresceu, cresceu, ainda mais forte que o
                 vinho.»



O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 198

«sou o pequeno pássaro que dorme numa ilha lon-
                     gínqua.»


O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 189

«Eu sei porque te quero em minhas mãos,
mas tu ignoras porque te queres em minha boca.»


O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 175

«Sou como uma peça de seda cor-de-rosa,»


O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 167

ARROZAL DE MADRUGADA


«Às quatro da manhã, arranco
ervas daninhas do arrozal.
Mas que é isto: orvalho do campo,
    ou lágrimas de dor?»


O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 155
«Afastei-a do meu peito, para que não adormecesse sobre uma almofada palpitante.»

Ben-Baqui


«Desfolharam-se as rosas sobre o rio e, passan-
do, espalharam-nas os ventos,

(...)»

(Ben Al-Zaqqaq)

''rio de pérolas''


''nadador de pernas rígidas''

(Abu-L-Hachchach Al Munsafi)

constelação das Plêiades (Sete-Estrelo)

a toda a brida a toda a pressa, à desfilada

cavalo cor de canela

O NADADOR NEGRO

   Nadava um negro num lago, através de cujas
 límpidas águas se viam as pedras do fundo.

   Tinha o lago a forma de uma pupila azul de
que o negro era a menina do olho.


                                         (Ben Jafacha)

''crepúsculo sobre a prata da água''

Ben Jafacha
«Dedal dourado como o sol: todo se ilumina, se lhe bate a luz de uma estrela.»


(Abu-L-Abbas Ahmad Ben Sid)

cão azul


esconderijos

«Porque arrasta o exílio de lugar em lugar?»

Djamil

''vestido de vidro''

DIVISA

Conhecem-me os cavalos e a noite e os desertos
traiçoeiros e a guerra e as feridas e o papel e a
                pena.

                                                            (Al-Mutanabbi)

''ensina ao sol onde morrer.''


O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 113

«Estás doente da garganta, e eu estou mal  da
                                 cabeça.»
                 
O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 101



«Nascemos para o sono,
nascemos para o sonho.»


O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 93

obsidiana


nome feminino

PETROLOGIA rocha vulcânica de composição riolítica, semelhante ao vidro, de cor negra ou verde-escura, utilizada antigamente no fabrico de espelhos e instrumentos cortantes

6


«Explorado, sê manso e obedece. Pode ser que entres no reino dos céus, de camelo ou às costas de um rico. Obedece. Pode ser que vás para a cama com a Pátria. Obedece. Pode ser que o teu cadáver ainda venha a ser o estandarte glorioso do Partido. Nunca percas a esperança, explorado, jamais.»




António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 100

«Explorado, escolhe a pedra para a tua cabeça.»


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 100

''crocoloditas de pança encortiçada''


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 97

«Quando em 1922 Dada foi atirado vivo e nu ao Sena, não era para que fosse pescado.»


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 95

«Francamente, falar de surrealismo num ambiente de capacidade crítica subdesenvolvida e de chuva miudinha, apetece pouco. Como apetece pouco, outrossim, repetir afirmações já muito bem atropeladas pelos profissionais da nossa esperteza literária. O ferro-de-engomar do talento continua de serviço e quente.»



António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 94

''camas voadoras''

AFORISMOS


                                                                          Iniciação à estética

O nariz de Cyrano de Bergerac, as pernas de Toulouse-Lautrec,
o olho de Camões, as costas de Lichtenberg, e o Aleijadinho.


                                                                           Os artistas mutilados

Van Gogh cortou uma orelha, Cervantes cortou um braço,
Rimbaud cortou uma perna, Ravachol cortou a cabeça, Chaplin
cortou o bigode.

                                                                           Ouvir vozes

Perturbação auditiva que pode levar à morte por queimaduras.
Caso Joana d'Arc.

Cortou a mão para não escrever a palavra morrer.



António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 84


«atravesso a terra de ninguém com um dia de chuva na cabeça
para oferecer aos revoltados»

António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 80
«vem do murmúrio do caos
e rebenta em sílabas de abelhas nos ouvidos»


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 79

''nome de animal de patas obscenas''

António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 79

''Mil Crimes de Amor''


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 72

«desse tempo
uma paisagem de nuvens inventadas
para as minhas aves      altíssimas
suspensas sobre a morte»


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 70

«À flor da terra a flor de fumo
dos meus cigarros adolescentes
fumados amorosamente entre fantasmas»


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 70

peixes voadores

«No ano primeiro do fim da melancolia»


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 68

''ondas caligráficas''

''letras de fogo na garganta''


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 66
«de lâmpadas sonâmbulas
e árvores de asas de fumo florido
entre clarões de neve»


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 65

''sílabas de soluços''


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 65

«quando as lágrimas da memória
atravessam de súbito o horizonte
para além do cadáver das fronteiras»


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 65

segunda-feira, 14 de março de 2016


«como a flor que se abre na boca dos suicidas
um homem
ferido de morte
vai falar»

António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 63

«no labirinto ardente das insónias»


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 56

«caligrafia de aves sobre o precipício»


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 56

''letras imundas''

«Então tu passas com a lua no peito»


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 50

hiante



1. que tem a boca aberta, escancarada
2. que tem grande apetite, faminto

Saúda-te

Portrait of Ava Gardner in Bhowani Junction directed by George Cukor, 1956. Photo by George Hoyningen-Huene



«Dente por dente:  a boca no coração do sangue: escolher a tempo a nossa morte e amá-la.»


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 35
«Se não temos saúde bastante sejamos pelo menos doentes exemplares.»

António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 35

''Entrar de costas no festival das letras''


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 35
«(...) o vómito nos pulsos por cada noite roubada; nem um minuto para a glória da pele.»


António José Forte. Corpo de Ninguém. Hiena Editora, Lisboa, 1989., p. 35

''sandálias de pedra''


O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 84
« - Uma velha com cabelos de feno branco e que vele à porta da casa?»

O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 83

Weegee, New Years, Stuyvesant Casino, ca. 1945


«Porque o amor é forte como a morte,
o amor único mais forte que a eternidade dos
                 mortos.»

O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 71

«O seu braço esquerdo está debaixo da minha
                     cabeça,
o seu braço direito aperta-me
fortemente.»

O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 70

«Afasta de mim teus olhos, que me fascinam.»


O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 66

«Que a minha cabeça está coberta de orvalho,
meus cabelos estão cheios das gotas da noite.»

O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 62

«O cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do
                     Líbano.»

O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 61






"I Know It's Over"
(originally by The Smiths)


Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
And as I climb into an empty bed - oh well, enough said
I know it's over still I cling, I don't know where else I can go
Over and over...
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
See the sea wants to take me, the knife wants to slit (cut) me
Do you think you can help me
Sad veiled bride please be happy - handsome groom give her room
Loud loutish lover treat her kindly though she needs you
More than she loves you - and I know it's over - still I cling
I don't know where else I can go - over and over...
I know it's over and it never really began but in my heart it was so real
And she even spoke to me and said
"If you're so funny, then why are you on your own tonight?"
"And if you're so clever then why are you on your own tonight?"
"And if you're so very entertaining then why are you on your own tonight?"
"And if you're so very good looking, then why do you sleep alone tonight?"
I know - 'cos tonight is just like any other night - that's why you're on your own tonight
With your triumphs and your charms - while they're in each other's arms
It's so easy to laugh it's so easy to hate it takes strength to be gentle and kind - over and over...
It's so easy to laugh it's so easy to hate it takes guts to be gentle and kind - over and over...
Love is natural and real - but not for you my love not tonight my love
Love is natural and real - but not for such as you and I my love
Oh mother... [etc.]

«buscarei aquele a quem ama o meu coração.
Em vão o procurei.»

O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 57

Os irmãos de Sulamite

«Apanha-nos as raposas, as raposinhas
que destroem as videiras,
porque as nossas videiras estão em flor.»

O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 57

«(...)
não acordeis, não acordeis o meu amor, antes
               que ele,
o deseje.»



O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 56

«Porque eu estou doente de amor.»

O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 54

«Eu sou a rosa de Saron, o lírio dos vales.»


O Bebedor Nocturno. Antologias Universais. Versões de Herberto Helder. Portugália., p. 54

«Nunca houve uma amizade que não me traísse. Damos aos outros a confiança de penetrar no mais fundo de nós. Temos a ilusão de que a relação está bem assente e depois vem qualquer coisa, tantas vezes uma coisa ridícula, um raio de luz que aponta para qualquer coisa que estava obscurecida e vem o desencanto, o desapontamento. E depois é o final. Sou incapaz de retroceder. Quando alguém me desaponta é o fim. Nos amores e nas amizades, quem me trai acabou.»

''folclore existencialista''

''Não me sinto velho. Sinto-me sem idade.''


domingo, 13 de março de 2016

O Meças, psicopata, prisioneiro dos traumas da infância e de uma violência milenar para a qual não há palavras, cobarde com os fortes, prepotente com os fracos, é menos uma personagem do que um retrato de todos nós. Nós os portugueses, “tão original mistura de trafulhice e ingenuidade”, uma raça de gente que obceca o escritor José Rentes de Carvalho. Porque, apesar de ter saído de cá há mais de seis décadas, nunca deixou de se sentir profundamente português. Quase a fazer 86 anos, sobreviveu a um cancro que lhe dava apenas 10% de hipótese de continuar vivo, descobriu Deus, encontrou a paz de espírito que é aquilo a que chama felicidade e afirma: “Não me sinto velho. Sinto-me sem idade.” Além do novo romance, daqui a duas semanas vamos poder lê-lo semanalmente num jornal diário português.
Fui aluno do António José Saraiva no liceu de Viana do Castelo. Era o único a quem ele dava “ótimo” nos textos. Reencontrei-o em Paris uns vinte anos depois, já nos anos 60. Eu já vivia na Holanda e ele tinha-se exilado em Paris e vivia numa situação muito precária. Então eu, que já estava a lecionar na Universidade de Amesterdão, achei que o Saraiva era um bom candidato à cátedra de Língua Portuguesa que entretanto tinha ficado vaga. O catedrático espanhol insistia que o Saraiva era um pulha mas eu e o meu colega holandês não lhe demos ouvidos. Ele chegou e logo na aula inaugural, em vez de fazer um trabalho original, limitou-se a ler uma coisa de uma conferência que já tinha feito em França. A partir daí foi rodeado de uma corte de maoistas fanáticos como ele e como a Teresa Rita Lopes [com quem António José Saraiva vivia] e começámos a entrar em choque. Tudo começou no dia em que íamos pela rua de Amesterdão e a Teresa Rita Lopes parou na montra de uma loja de casacos de peles e perguntou ao Saraiva se não lhe comprava um. Aí eu não me contive e gritei-lhe: “Casaco de peles uma grandessíssima merda. Então você não é comunista?” A partir daí ele começou a tentar que eu fosse expulso da Universidade. No dia depois do 25 de Abril um jornal holandês escreveu que eu tinha sido preso em Lisboa porque era da PIDE. Quando voltei para Amesterdão percebi que tinha sido o Saraiva que tinha inventado aquela história. Movi-lhe um processo em tribunal e ele foi condenado por difamação. A Universidade decidiu demiti-lo, mas uns dias antes ele já tinha vindo para Lisboa onde tinha arranjado um lugar de professor na Universidade Nova. Mas este foi apenas uma das vezes em que quis ajudar, em que fui sincero e leal e levei um pontapé. [A história, em pormenor, pode ser lida no blogue de José Rentes de Carvalho O Tempo Contado.]
O meu primeiro casamento foi um erro crasso do qual rapidamente me apercebi, mas entretanto já tinham nascido três filhas. A Loekie também era casada com um brasileiro e vivia no Brasil. Quando ela se separou do marido e regressou a Amesterdão fomos jantar e percebemos que tínhamos sido feitos um para o outro. Desde essa noite nunca mais nos separámos. O difícil foi comunicar isto à família. Mas no final todos acabaram por aceitar. Só aquela senhoras velhinhas lá em Estevais é que às vezes ainda me perguntam: “Então e como é que vai a outra?” Sem a Loekie, a minha mulher, eu não funcionava na sociedade. Ela tem a capacidade de evitar que eu ceda ao meu temperamento. Ela guia-me. É a única pessoa no mundo de quem eu aceito a opinião. Mas temos quase 60 anos de vida em comum.


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