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domingo, 15 de dezembro de 2024

 as mãos vazias são selvagens na sua beleza
duras mesmo se vulneráveis
são o esconderijo ideal para guardares relâmpagos
e verdades ferozmente concisas


José Tolentino Mendonça. A Noite Abre Meus Olhos. 4ª Edição, Assírio&Alvim, Porto, 2021. p. 483

terça-feira, 19 de novembro de 2024

 « O amor, ditam os frios de coração, é ruinoso

qualquer momento em chamas

denunciará a imprecisa inquietação que nos toma


Os inocentes que se amam dizem

teu corpo está a nevar

tua alma é uma flor

um prado tranquilo sua noite »


 José Tolentino Mendonça. A Noite Abre Meus Olhos. 4ª Edição, Assírio&Alvim, Porto, 2021. p. 193

domingo, 10 de novembro de 2024

 Não uses palavras
qualquer palavra que me digas há-de doer
pelo menos mil anos

José Tolentino Mendonça. A Noite Abre Meus Olhos. 4ª Edição, Assírio&Alvim, Porto, 2021. p. 160
 é assim que rodo
à volta de lugares desconhecidos
nenhum corte me doeu
nunca estive sozinha

José Tolentino Mendonça. A Noite Abre Meus Olhos. 4ª Edição, Assírio&Alvim, Porto, 2021. p. 131

mas tu não, tu nunca choraste 
por amores que se perdem


José Tolentino Mendonça. A Noite Abre Meus Olhos. 4ª Edição, Assírio&Alvim, Porto, 2021. p. 84

A CASA ONDE ÀS VEZES REGRESSO

 Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração


José Tolentino Mendonça. A Noite Abre Meus Olhos. 4ª Edição, Assírio&Alvim, Porto, 2021. p. 83

sábado, 26 de outubro de 2024

 

Diz-me apenas 
a altura das searas
perto do rio
se o vento tornou
a encher de folhas
o pátio da casa
verde

 José Tolentino Mendonça. A Noite Abre Meus Olhos. 4ª Edição, Assírio&Alvim, Porto, 2021. p. 15
 Nesse tempo
ainda era possível
encontrar Deus 
pelos baldios


José Tolentino Mendonça. A Noite Abre Meus Olhos. 4ª Edição, Assírio&Alvim, Porto, 2021. p. 10

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

 
«Não é de espantar que sejas bela,
que voes só para outros e não para ti.
Não passas de uma lagarta de visom
incendiando paixões de terceira idade,
tudo ilusão, vaidade, pretensão,
escapando sob pós de perlimpimpim
dos dedos mágicos de criança.»


Daniel Jonas. Cães de Chuva. Assírio & Alvim, Porto Editora.2021 , p. 38

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

 ''Apetece-me lamber-te
nos lençóis iluminados
pela lua''

Tomás Sottomayor. Auberge Ravoux. Edições Língua Morta, 2021., p. 29


 ''Adormeci, com a memória
Do pequeno rio esquecido
Sob a ponte.''

Tomás Sottomayor. Auberge Ravoux. Edições Língua Morta, 2021., p. 26

 ''Nem sempre as leis dos homens
Estão de acordo com os preceitos
De Deus.''


Tomás Sottomayor. Auberge Ravoux. Edições Língua Morta, 2021., p. 21

sábado, 17 de agosto de 2024

 « se eu tivesse dois ou três dentes de ouro
mordia-te o corpo todo se eu tivesse
mel e fósforo para tocá-lo
tocava-te o sexo
se eu cantasse num murmúrio quente cheio de êrros
chamava-te junto ao ouvido
se tivesse o teu nome escrito pelas unhas fora»


 Herberto Helder. Letra Aberta. Poemas inéditos escolhidos por Olga Lima. Porto Editora, 2016., p. 45

 « a morte é mesmo estranha:

morre-se todos os dias

e enquanto se morre pede-se uma esmola para matar a fome

                                                                        de outra vida,»


 Herberto Helder. Letra Aberta. Poemas inéditos escolhidos por Olga Lima. Porto Editora, 2016., p. 25

'' Mal de nós / se não pensarmos longe e alto.''

Lídia Jorge. O Livro das Tréguas. Poesia. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 2019.,p. 41

MAIORIDADE

 «Sei de éguas e de rosas cuidar como ninguém.
No papel desenho-as, na mesa escrevo-as.»

Lídia Jorge. O Livro das Tréguas. Poesia. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 2019.,p. 33

A QUE ESPERA

 A tristeza sentou-se à minha porta
mas eu não a alimentei.

Cão de guarda por cão de guarda
prefiro a alegria.

A ela entrego os meus dias
e o abraço daquele que vem de longe
para me dizer que o amor que foi ontem
ainda é hoje.


Lídia Jorge. O Livro das Tréguas. Poesia. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 2019.,p. 38
''Quero a fanfarra dos simples, o augusto coreto das sombras!
Onde estou que não me encontro?
Eu tenho uma fome assassina, de descarnar os cabos
das costelas, de estraçalhar milagres biológicos,
a existência miserável de seres que antes eram vivos
e agora enfeitam o cemitério do meu prato.
Esta afluência ao restaurante põe-me doido!
Este querer comer como eu quero este querer cuspir como eu
quero”

Daniel Jonas, Canícula, pag.48
 « É triste sermos nós até para nós.
Bater-se sempre à mesma porta que era antes.
Nem sei por vezes o que sinto. É um pavor
que vem de dentro, inodoro gás
do centro que se insinua indistinto,
e dura a vigília que me dura
e já nem sei o que velo eu por vezes,
que velo já cansaço e só olvido.
Tudo é triste mesmo quando não é.
O fim do Verão é triste se no meio,
e no princípio então não dura nada.
A cada fim de tarde na volta da praia
há um princípio de dia e de tarde sem volta
levado como um barco no horizonte argiloso
para o adro onde se enterram os dias.
O que foi feliz foi-o sob alguma sombra
e cada onda ensombra outra onda
e o tombo que déramos era o último que daríamos
e o riso o último antes do choro.
Eu olho a chuva e ela é triste.
É tudo triste em vez de só ser.»


Daniel Jonas. Cães de Chuva. Assírio & Alvim, Porto Editora.2021 , p. 30
 « todas as noites quando me deito,
penso um pensamento cobarde:
que eu morra durante o sono »


 Herberto Helder. Letra Aberta. Poemas inéditos escolhidos por Olga Lima. Porto Editora, 2016., p. 17
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