«…Ela foi a primeira, neste país de musas sorumbáticas e de poetas tristes, a demonstrar que o riso e a alegria também são formas de inspiração, que uma gargalhada pode estalar no tecido de um poema, que o Sol ao meio-dia, olhado de frente, não é um motivo menos nobre do que a Lua à meia noite. Mas foi igualmente uma das primeiras a saber saltar, dentro da mesma estrofe e quase sem transição, do riso para as lágrimas e das lágrimas para o riso, de uma manhã de sol para uma tarde de chuva, de uma atmosfera de sombra para uma exclamação de euforia, de um traço de caricatura para um tom de aguarela, de um «allegro» para um «addagio». Ela foi ainda a primeira que soube ver Lisboa num pé de igualdade, de mulher para mulher, sem demasiados rigores nem exageradas complacências; e a primeira também que soube entender até ao âmago, até à raiz, a alma secreta do continente africano. Ela foi tudo isso e continua a ser tudo isso: aqui, justamente, é que está o milagre!»
David Mourão-Ferreira sobre Fernanda de Castro
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