« - Não encontro que dizer, pai, até o desconheço. O que é que ganhei com o facto de você me ter criado? Só trabalhos. Só me trouxe ao mundo e desenrasca-te como puderes. Nem sequer me ensinou o ofício de fogueteiro, pra que não lhe fizesse sombra. Vestiu-me uns calções e uma camisa e lançou-me nos caminhos pra que aprendesse a viver por minha conta e quase me punha na rua de sua casa com uma mão à frente e outra atrás. Olhe, o resultado é este: estamos a morrer de fome. A nora e os netos e este seu filho, como quem diz, toda a sua descendência, estamos quase a desistir e cair bem mortos. E a raiva que dá é que é de fome. Você acha que isto é legal e justo?»
Juan Rulfo. A planície em chamas. Tradução do original de Ana Santos. Cavalo de Ferro, 1ª edição, 2003., p. 104
Sem comentários:
Enviar um comentário