quinta-feira, 4 de maio de 2023

SOLITUDE

Está muito escuro, hoje; através da chuva,

a montanha deixa de ser visível. O único som

é o da chuva, arrastando a vida para debaixo da terra.

E com a chuva vem o frio.

Esta noite não haverá Lua, não haverá estrelas.


O vento levantou-se durante a noite;

fustigou o trigo toda a manhã -

parou ao meio-dia. Mas a tempestade continuou,

encharcando os campos secos, inundando-os a seguir -


A terra desapareceu.

Não há nada para ver, só a chuva

a reluzir no escuro das vidraças.

Este é o lugar de repouso, onde nada mexe -


Agora voltamos ao que éramos -

animais a viver na escuridão,

desprovidos de linguagem ou de visão -


Nada prova que estou viva.

Há apenas a chuva, a chuva é infindável.


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 117

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