quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

'' (…) A moda é o Pessoa, coitado: dá para tudo; 

e a culpa é dele, com aquela comovente 

incapacidade para ser ele próprio. 

De nada lhe serviu ter dito e redito

 que a fama era para as actrizes. 

Que vocação de carneiro têm as maiorias: 

não há fúfia universitária ou machão 

fardado que não diga que a pátria 

é a língua ou a puta que os pariu.

 (…) 

Coitado, pensava ter tempo para pôr ordem 

na arca, mas a morte veio antes da hora. ''


Eugénio de Andrade, “A Vitorino Nemésio, alguns anos depois”, 1983 (Ostinato Rigore/ Epitáfios, 1984)

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