segunda-feira, 28 de dezembro de 2020
domingo, 27 de dezembro de 2020
«E se os seus passos não eram todos de igual comprimento, quem diria que isso era devido a que outrora se esforçava por nunca pisar a sombra de sua mãe quando caminhavam juntos?»
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 21
''Amontoava as pontas de cigarro''
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 21
'' a calmaria ou os diversos ventos''
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 21
Porque, se estas coisas acontecem numa árvore verde, que seria numa árvore seca?
« - Tu não me falas agora, Mary, minha querida. És uma das filhas de Jerusalém? Não chores por mim. Guarda as lágrimas para ti e para os teus filhos...Porque, se estas coisas acontecem numa árvore verde, que seria numa árvore seca? »
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 20E o Sol Escureceu.
«E era por volta da sexta-hora...isto é, à volta do meio-dia... e as trevas estenderam-se sobre a Terra até à nona hora. E o Sol escureceu. Porque me lembro eu disto agora? Meu Deus, muito tempo demorou Ele a morrer - uma medonha eternidade.»
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 20
''Febre da Primavera.''
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 13
sábado, 26 de dezembro de 2020
Se tentas ser puro de coração, prendem-te por
Bob Dylan. Palavras & Rimas. In O Noivo Ainda Espera no Altar. 1ª Edição, Outubro 2016.
(...)
Marcho no desfile da liberdade
Mas enquanto te amar eu não sou livre
Quanto tempo tenho de sofrer uma tal tortura
Mas queres deixar-me ver-te sorrir uma tal tortura
Não queres deixar-me ver-te sorrir uma vez antes
de eu te libertar?
(...)
(...)
Ouvia as tuas canções de liberdade e do homem para
sempre despojado
Representando a sua loucura enquanto as suas
cartas estão a ser chicoteadas
Como um escravo a andar à roda, batem-lhe até
ficar manso
Tudo por um momento de glória e é uma vergonha
reles e suja
(...)
« Com a tua boca de mercúrio nos tempos missionários
E os teus olhos como fumo e as tuas preces como
poemas
E a tua cruz de prata, e a tua voz argentina
Oh, quem de entre eles pensam que poderia
sepultar-te?
(...)»
segunda-feira, 21 de dezembro de 2020
domingo, 13 de dezembro de 2020
sexta-feira, 11 de dezembro de 2020
sábado, 5 de dezembro de 2020
Fonte da publicação
Prémio Pessoa 2011 ou a ideia de que o literário nunca é apenas literário!
Ler Eduardo Lourenço não poderia deixar passar em claro este feliz acontecimento e por isso transcreve em seguida um excerto de uma entrevista realizada há largos anos pela jornalista Inês Pedrosa e publicada no Jornal de Letras, Artes e Ideias, Lisboa, 6/XII/1986, pp. 2-6. Para além do interesse das declarações do ensaísta sobre Fernando Pessoa, Ler Eduardo Lourenço recorda que Inês Pedrosa é, hoje, a directora da Casa Fernando Pessoa em Lisboa.
«Jornal de Letras – Eduardo Prado Coelho escreveu que Fernando, Rei da Nossa Baviera se pode, e deve, ler como um romance, afirmação que eu subscrevo inteiramente. Concorda?
Eduardo Lourenço – Bom, cada um faz os romances que pode... Naturalmente, o que eu queria fazer era um romance, um verdadeiro romance. De maneira que aquilo que há em mim de imaginativo, ou de imaginante, possivelmente se transfere para essa esfera de ordem crítica, em que os autores servem ao mesmo tempo de objecto de estudo no sentido tradicional e de objecto de projecção. Lembro-me de o meu amigo Carlos de Oliveira me dizer, a propósito do Pessoa Revisitado, que não sabia se aquilo correspondia realmente ao Fernando Pessoa, mas que aquilo tinha muito a ver comigo. Quer isto dizer que, já no Pessoa Revisitado, alguém que me conhecia tão bem como o Carlos de Oliveira pensava que era o meu romance.
(...) A mitologia de Fernando Pessoa comporta dois aspectos diferentes. Fernando Pessoa torna-se emblemático numa perspectiva nacionalista clássica, mesmo se isto corresponde a uma leitura não muito certa de Mensagem. Mas, em todo o caso, há um suporte para que Pessoa se tenha tornado um emblema de um novo sonho de Portugal, numa altura em que Portugal não tem perspectivas realistas de instituir uma imagem positiva de próprio que seja grata ao sonho português de ter sido um grande país. Portanto, a Mensagem vai ser lida como uma espécie de Lusíadas do século vinte, quando, em última análise, ela é anti-Lusíadas.
P. – Anti-Lusíadas em que sentido?
R. – Ela é anti-Lusíadas porque Os Lusíadas são um poema escrito sobre uma acção real, a exaltação de um facto real de importância nacional. E a Mensagem é um poema puramente onírico. Onírico, antes de mais em relação ao passado, porque todos os heróis ou figuras emblemáticas de Mensagem são símbolos de maneiras de estar no mundo e de representar o ser português ideal, mais do que personagens que agiram na História desta ou daquela maneira. Por outro lado, o livro termina com a constatação de que o presente de Portugal é um presente de Hora Zero, a partir do qual tem que haver uma espécie de renversement. Portanto, não tem muito a ver com Os Lusíadas. Só tem a ver na medida em que, na ordem do imaginário de Fernando Pessoa, Mensagem se destina a substituir Os Lusíadas, porque Os Lusíadas já não funcionam para o Portugal que existe. Portugal agora tem mais Sonho que Realidade: o poema da realidade está cumprido, já está no passado. No espírito de Fernando Pessoa, Os Lusíadas são definitivamente reenviados para o Passado com Mensagem – por isso mesmo ele se quer Super-Camões, o que quer dizer que ele integra a obra de Camões e a supera. A esse título, a pouco e pouco, foi sendo tomado à letra, e o Fernando Pessoa tornou-se o novo Camões.
P. – Mas, no fundo, não procura Fernando Pessoa uma Ilha dos Amores, como n’ Os Lusíadas?
R. – Dos Amores não direi, porque em matéria de amores o Fernando Pessoa não tinha exactamente o mesmo tipo de perspectiva de Camões. Aparentemente, pelo menos, porque o Jorge de Sena insinua que sim. Mas a habitual mitologia amorosa e erótica construída em volta de Camões é a do homem das diversas chamas, diversos amores, entendendo-se por esses amores, em princípio, amores femininos. Ora, Fernando Pessoa não parece ter ardido em nenhuma chama de amor, mas na chama do Não-Amor. O que há menos em Fernando Pessoa é a mulher. Portanto, é uma experiência extremamente dolorosa, mais dolorosa do que a da paixão de amor, correspondida ou não-correspondida.
P. – Terá Pessoa sido de facto, como diz Eduardo Lourenço, um abandonado de amor? E porque não um voluntário auto-excluído por demasiado consciente?
R. – Pouco me importam quais tenham sido as razões de ordem genealógica, psíquica ou psicanalítica. Essa ferida está inscrita nos poemas. As causas podem-se discutir indefinidamente. Não há dúvida de que a interpretação que ele, Fernando Pessoa, dá, sobretudo agora através das páginas mais precisas do Livro do Desassossego, é a dessa orfandade real, mítica. Mítica, porque a mãe existiu até 1925. A mãe não o parece ter desamado no sentido literal do termo. Mas ele é que viveu essa não-presença efectiva, importante, da sua adolescência. Pessoa está em Portugal e a mãe está fora; ou então foi o segundo casamento dela que o marcou, como João Gaspar Simões foca. De qualquer modo, essa ideia de se representar a si próprio, num dos seus semi-heterónimos, como alguém a quem a mãe morreu, quando a mãe dele está viva, significa que ele se autopsicanalisou antes da psicanálise existir. Portanto, a realidade erótica de Fernando Pessoa não me parece ser do mesmo estilo da que conhecemos para o Camões, embora nós não conheçamos muita coisa do Camões, afinal de contas não conhecemos nada. Não sabemos se essa espécie de don juanismo de Camões não será do mesmo estilo a que eu chamo o Não-Amor do Fernando Pessoa... Afinal, trata-se de uma espécie de impossibilidade permanente de Camões de aderir a um amor real. Inventaram-se musas diversas para justificar esses poemas. Mas pode ser simplesmente um trabalho onírico hiperpetrarquiano, sem suporte concreto.
P. – E já estamos a entrar na irresolúvel questão das sinceridades versus autenticidade...
R – ... que é uma questão que não tem verdadeiramente sentido na ordem da escrita, do ficcional e do poético. É uma questão de nível psicológico ou psíquico. O que importa é o texto.
P. – O professor Eduardo Lourenço repete isso várias vezes ao longo deste livro, mas depois diz assim, taxativamente: «O autor da Tabacaria e dos fragmentos de Ode à Noite não foi especialmente vocacionado para o que chamamos felicidade.»
R. – Nós aprendemos isso lendo-o. Mas o facto de Pessoa não ser vocacionado para a felicidade também não é uma originalidade em absoluto. Praticamente toda a nossa lírica é uma glosa do desejo insatisfeito. Possivelmente, toda a lírica o é. Por conseguinte, essa insatisfação não corresponde àquilo que de uma maneira geral se chama um destino vocacionado para uma certa normalidade, uma certa felicidade. Agora se me pergunta o que é ser-se vocacionado para a felicidade... Bom... Certas pessoas vivem a sua relação com a existência, com os outros, com o mundo, de uma maneira mais harmoniosa do que outros. Pertencem a essa espécie de animais felizes que dizem «qu’ils sont bien dans leur peau». Há o caso de um político proeminente que diz «qu’il se sent bien dans sa peau»... E afinal é isso o normal, no fundo toda a gente nasce para estar bem dans sa peau. O que deveria ser considerado anormal é que as pessoas não se sintam bem naquilo que são. E aqueles que ressentem essa fractura interna, com mais profundidade são os poetas, os criadores. Sobretudo os poetas da Modernidade. Porque houve outras épocas em que os criadores não parecem ter tido necessidade de se sentirem particularmente infelizes para serem criativos. Não temos a ideia de que Bach tivesse tido uma existência particularmente infeliz, mas o Bach pertence à idade clássica ou neoclássica da Modernidade. Depois vem essa idade a que podemos chamar Idade de Depressão, em todo o sentido do termo – depressão histórica, depressão por uma contradição profunda entre o tipo de existência que o homem moderno se fabricou, aquilo a que chamámos Romantismo. Os românticos sentem a obrigação de ser infelizes, mesmo que sejam extremamente felizes.
P. – Nesse sentido, Fernando Pessoa é o puro romântico.
R. – Ele próprio o diz. Se ele não fosse romântico, o que é que nós seríamos? Pessoa é, possivelmente com o Pascoaes, o nosso maior romântico.
P. – E simbolista, e só aparentemente modernista.
R. – A minha relação com Fernando Pessoa tem já muitos anos e muita reflexão. E, embora isso esteja anunciado nos textos mais antigos como uma hipótese, o que cada vez me parece mais relevante é o facto de que nós nos enganámos todos; na leitura, fizemos da excepção a anormalidade do caso Fernando Pessoa. E a excepção é a sua estridência modernista, que foi um momento extremamente breve na sua produção, após o qual ele regressou imediatamente aos seus antigos demónios. E o seu demónio é o demónio simbolista. É uma visão da existência sobre o fundo do nevoeiro, da ausência, do vago. O que não é vago é a escrita dele, mesmo quando ele é simbolista. O Marinheiro, mesmo nas suas passagens mais ultra-simbolistas, é de uma luminosidade que não tem comparação nenhuma na literatura portuguesa, e poucas em qualquer literatura. E o que Pessoa está ali a glosar é a Ausência da Ausência da Ausência. E essa Ausência é presente no texto, de uma maneira muito forte.
P. – Assim como os heterónimos seriam a glosa de uma heteronomia mais funda. E a originalidade de Pessoa estaria…
R. – ...no facto de ele ser um carrefour, um cruzamento das várias possibilidades de se ser moderno, desde os fins do século dezanove aos princípios do século vinte. Fernando Pessoa é modernista no sentido mais profundo da consciência daquilo que é a ausência da Modernidade, ou seja, da morte de Deus, da perda de um Sentido para uma História que até então tinha Sentido. A própria criação do conceito de História em termos modernos visa recuperar um Sentido que tinha sido perdido em termos teleológicos. Ao mesmo tempo, Fernando Pessoa é profundamente antimodernista a todos os níveis. Não se tem notado muito, mas a aprendizagem de Fernando Pessoa foi extremamente clássica, como clássica era a poesia inglesa de que ele mais gostava – incluindo os românticos, que ao nível da escrita eram perfeitamente clássicos, fascinados pela Grécia. Portanto, no imaginário de Pessoa, a Idade de Ouro da Humanidade é a Grécia; não a Grécia de Nietzsche, mas a Grécia de Winckelmann, a Grécia de Goethe. O Modernismo é o facto de ele querer apanhar todos os comboios, de não ser ninguém e por isso estar disponível...
P. – Só marginalmente o seu interesse por Pessoa parece literário...
R. – O literário é que para mim nunca foi apenas literário. Foi isso o que me começou a separar, a nível teórico, da perspectiva crítica clássica da geração anterior à minha, que era a da Presença. Fundamentalmente, Régio por um lado. Simões do outro, porque sempre me considerei mais próximo do Casais Monteiro, naturalmente por ambos termos sido alunos de Filosofia. Para mim, a literatura é a expressão de alguma coisa mais, que no fundo não tem nome.
P. – Se bem entendo, o seu entusiasmo pelo que de indizível há na Literatura, partiu da constatação de que a Filosofia conduz a categorias, absolutos, enquanto que na ficção pura se recupera um sentido que discurso algum com pretensão à objectividade pode alcançar.
R. – Em última análise, eu também não faria uma distinção tão tranchante entre aquilo de que a Filosofia é a manifestação exterior e a Poesia. As duas têm a mesma fonte, a resposta é que é diferente.
Como diz Platão, o que determina o desejo de filosofar é o espanto diante da realidade. Esse espanto interroga-se a si próprio e pede uma resposta. Essa resposta articulada pela norma ocidental chama-se, em geral, Filosofia. Esse espanto liricamente expresso, sem a preocupação de uma resposta, aberto, é Poesia. Mas as primeiras formas de Filosofia exprimiam-se de forma poética. Parménides é um poema. No fundo, todo o poeta persegue sob a forma do onírico o mesmo desejo de entrar em contacto com qualquer coisa que engloba o Sentido geral da sua própria experiência.
P. – E disso terá tido consciência Pessoa, como ninguém em Portugal.
R. – Sim, Pessoa até é um caso curioso, porque demonstrou um interesse intenso pela Filosofia no sentido de disciplina... Possivelmente quis fazer um curso de Filosofia, vemos isso através dos numerosos extractos dos livros que ele lia. Nesse sentido, Fernando Pessoa pertence igualmente a uma maneira clássica de encarar a Filosofia. A Filosofia devia dar-lhe a resposta à interrogação última, devia dar-lhe, em termos racionais, o Absoluto. E porque ela não lha dá, ele fractura-se espiritualmente, psiquicamente, abdica da ideia de encontrar uma Filosofia que resuma o mistério do Universo e compreende que esse é um ideal inexequível e que há maneiras diversas de se aproximar desse Absoluto. Pessoa compreende que o Absoluto é um mito e que não há senão uma pluralidade de caminhos, todos com a mesma possibilidade de serem essa Verdade que não existe.
P. – Coisa engraçada neste seu livro é que quando Eduardo Lourenço já está muito embrenhado em Fernando Pessoa, às tantas pára e diz mais ou menos, isto: «Atenção, que o Fernando Pessoal é muito complicado». Neste livro e nos outros, aliás. Normalmente, a orientação dos ensaios pessoanos é a contrária: fazer-nos ver que, afinal, Fernando Pessoa se explica...
R. – Isso é porque eu penso que não se pode dar-lhe a volta.
P. – Nem quer dar-lhe a volta...
R. – Sim, eu também não quero dar-lhe a volta. Não é possível, porque Pessoa já dá a volta possível a si mesmo. O texto de Pessoa é um autotexto, um texto sobre o próprio texto. E essa é a novidade que não existia na poesia anterior. Nem mesmo naquela que disso se poderia aproximar, pelo seu desejo de interrogar a Esfinge até ao último limite, como a de Antero. Mas Antero não tem esse olhar triplo, em que não há possibilidade de parar em parte nenhuma.
É por isso que desconfio de toda a gente que me vem dizer que Fernando Pessoa foi isto ou aquilo... Eu não sou capaz de dizer o que é que Fernando Pessoa foi.
P. – Cada vez mais incapaz?
R. – Cada vez mais. E, no entanto, gostaria que, lendo-me, as pessoas tivessem o sentimento de que, nessa renúncia a uma imagem completa, eu estou mais próximo do Pessoa do que um outro tipo de discurso que quereria dissolvê-lo. Exactamente dissolvê-lo.»
Annie Salomon de Faria (1928-2013)*
Annie Salomon de Faria nos anos 60 (imagem publicada em Eduardo Lourenço et la Passion de l'Humain) |
Annie e Eduardo Lourenço em Bordéus no ano de 1949 (imagem publicada em Tempos de Eduardo Lourenço-Fotobiografia) |
Fotografia publicada em Jornal de Letras, Artes e Ideias |
*Annie Salomon nasceu Côte du Nord, na Bretanha, a 11 de Agosto de 1928. Licenciou-se em Línguas Hispânicas na Universidade de Bordéus, cidade onde conheceu Eduardo Lourenço, com quem se viria a casar em 1954. Dez anos volvidos foi convidada a leccionar na Universidade de Nice, tendo o casal passado mais tarde a viver em Vence. Hospitalizada há algumas semanas, Annie Salomon de Faria morreu ontem em Lisboa. O texto de sua autoria que acima se reproduz foi lido em 25 de Novembro de 2008 durante a cerimónia de inauguração da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço (e na qual Annie foi também homenageada) na Guarda, tendo sido publicado no Jornal de Letras na página 42 da edição de 17 de Dezembro desse mesmo ano.''
quinta-feira, 3 de dezembro de 2020
''Se o capital não tiver lucro, morre. Este é o grande muro! Todas as lutas, desde as mais pequenas, têm de ter como objetivo a destruição desse muro. Em vez do lucro, os interesses genuínos dos povos é que têm de mover as sociedades.''
Entrevista a Mário Tomé – destacado Militar do Movimento dos Capitães
quarta-feira, 2 de dezembro de 2020
segunda-feira, 30 de novembro de 2020
domingo, 29 de novembro de 2020
''entregue a lamentações''
Mao Tsetung. Sobre a prática. Sobre a contradição e outros textos. Textos Políticos. 1ª Edição, 1974. Editorial Minerva., p. 132
[Carta a Armando Teixeira Rebelo - 2 Ago. 1907] - T
[Carta a Armando Teixeira Rebelo -2 Ago. 1907]
Hotel Brito, Portalegre
22 de Agosto de 1907
.
Venerável porção de existência terrena!
Nuns poucos momentos de concatenada actividade mental, não desassistida dos fumos carnais da bebida alcoólica — nada mais nada menos do que vinho — não exclusivo a esta localidade, a minha alma sentiu, como um suspiro mental, a necessidade de dar expressão do seu presente estado e tendências a um cérebro amigável como o teu.
Solitário e silente no meu transitório lugar de existência no hotel mencionado no cabeçalho desta explosiva epístola de uma sobrecarregada alma, sentindo em redor de mim um mundo moralmente frio e materialmente quente — abaixo de zero quanto à minha alma e não longe dos 40 quanto ao meu corpo — nestas circunstâncias angustiosas e inspiradoras veio até mim a ideia de que talvez o processo desta composição epistolar possa ser subjectivamente conducente a um alívio do meu fardo terreno neste momento, possa ser o «bálsamo em Gilead» sonhado por Poe, para o meu espírito desgarrado.
Daí esta carta.
Portalegre é um lugar em que tudo quanto um forasteiro pode fazer é cansar-se de não fazer nada. As suas qualidades componentes parecem-me conter (depois de uma profunda análise), em quantidades relativas e incertas, calor, frio, semiesPãholismo e nada. O vinho é bom (embora não daqui, creio), mas é decididamente alcoólico, especialmente quando a jarra de água está na outra extremidade da mesa e tu te esqueces (quer dizer, eu me esqueço) de o pedir. O estilo desta carta é disso uma prova decisiva. Farei dela registo, para que uma tão brilhante produção do meu espírito não se perca no correio.
A desmontagem e embalagem da tipografia está a levar um tempo danado — poeticamente falando, é claro. Apesar disso, os homens têm trabalhado bastante depressa e tenho os olhado e observado com a maior das energias.
Acredito sinceramente que, se tivesse que aqui ficar um mês, teria de ir para Lisboa e depois para o Hotel Bombarda. Mal podes imaginar o hiperaborrecimento, o ultra-estafanço-de-tudo, a absoluta sensação de o-que-há-de-fazer-um-tipo num sítio destes, que reinam no meu espírito!
Encontrei um livro para ler. Estou ansioso por voltar para Lisboa; penso contudo que ainda terei de ficar aqui mais três dias.
O Alentejo visto do comboio
Nada com nada em sua volta
E algumas árvores no meio,
Nenhuma das quais claramente verde,
Onde não há vista de rio ou de flor.
Se há um inferno, eu encontrei-o,
Pois se não está aqui, onde Diabo estará?
Passa bem, ó tu
F. Nogueira Pessoa
P. S. — Não me escrevas para Portalegre. Poderei já aqui não estar. Espera o meu regresso a Lisboa. Aí falaremos então.
Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Autobiográficas. Fernando Pessoa. (Introduções, organização e notas de António Quadros.) Mem Martins: Publ. Europa-América, 1986.
- 56.Tradução de António Quadros.
1ª publ. in Vida e Obra de Fernando Pessoa - História de uma Geração. João Gaspar Simões. Lisboa: Bertrand, 1951.
quarta-feira, 25 de novembro de 2020
DIEGO
“I think that writers are made, not born or created out of dreams of childhood trauma—that becoming a writer (or a painter, actor, director, dancer, and so on) is a direct result of conscious will. Of course there has to be some talent involved, but talent is a dreadfully cheap commodity, cheaper than table salt. What separates the talented individual from the successful one is a lot of hard work and study; a constant process of honing. Talent is a dull knife that will cut nothing unless it is wielded with great force—a force so great the knife is not really cutting at all but bludgeoning and breaking (and after two or three of these gargantuan swipes it may succeed in breaking itself…which may be what happened to such disparate writers as Ross Lockridge and Robert E. Howard). Discipline and constant work are the whetstones upon which the dull knife of talent is honed until it becomes sharp enough, hopefully, to cut through even the toughest meat and gristle. No writer, painter, or actor—no artist—is ever handed a sharp knife (although a few are handed almighty big ones; the name we give to the artist with the big knife is “genius”), and we hone with varying degrees of zeal and aptitude.”
― Stephen King, Danse Macabre
Things Have Changed
No one in front of me and nothing behind
There's a woman on my lap and she's drinking champagne
Got white skin, got assassin's eyes
I'm looking up into the sapphire tinted skies
I'm well dressed, waiting on the last train
Standing on the gallows with my head in a noose
Any minute now I'm expecting all hell to break loose
People are crazy and times are strange
I'm locked in tight, I'm out of range
I used to care, but things have changed
This place ain't doing me any good
I'm in the wrong town, I should be in Hollywood
Just for a second there I thought I saw something move
Gonna take dancing lessons do the jitterbug rag
Ain't no shortcuts, gonna dress in drag
Only a fool in here would think he's got anything to prove
Lotta water under the bridge, lotta other stuff too
Don't get up gentlemen, I'm only passing through
People are crazy and times are strange
I'm locked in tight, I'm out of range
I used to care, but things have changed
I've been walking forty miles of bad road
If the bible is right, the world will explode
I've been trying to get as far away from myself as I can
Some things are too hot to touch
The human mind can only stand so much
You can't win with a losing hand
Feel like falling in love with the first woman I meet
Putting her in a wheel barrow and wheeling her down the street
People are crazy and times are strange
I'm locked in tight, I'm out of range
I used to care, but things have changed
I hurt easy, I just don't show it
You can hurt someone and not even know it
The next sixty seconds could be like an eternity
Gonna get lowdown, gonna fly high
All the truth in the world adds up to one big lie
I'm love with a woman who don't even appeal to me
Mr. Jinx and Miss Lucy, they jumped in the lake
I'm not that eager to make a mistake
People are crazy and times are strange
I'm locked in tight, I'm out of range
I used to care, but things have changed
Self-Portrait (Asleep)
segunda-feira, 23 de novembro de 2020
POEMA 228
Enquanto, ao competir com teu cabelo,
ouro polido ao sol deslumbra em vão;
enquanto com desprezo ao rés-do-chão
olha tua alva frente o lírio belo;
enquanto atrás do lábio, por querê-lo,
mais olhos que do cravo agora vão;
e enquanto triunfa com afetação
do luzente cristal teu ser de gelo;
goza gelo, cabelo, lábio e frente,
antes que tua hora tão dourada,
- ouro, lírio, lilás, cristal luzente -
não só em prata ou flor estiolada
se torne, mas tu e isso juntamente
em terra, em fumo, em pó, em sombra, em nada.
Luís de Góngora
AMOR CONSTANTE MÁS ALLÁ DE LA MUERTE
Cerrar podrá mis ojos la postrera
sombra que me llevare el blanco día,
y podrá desatar esta alma mía
hora a su afán ansioso lisonjera;
mas no, de esotra parte, en la ribera,
dejará la memoria, en donde ardía:
nadar sabe mi llama la agua fría,
y perder el respeto a ley severa.
Alma a quien todo un dios prisión ha sido,
venas que humor a tanto fuego han dado,
medulas que han gloriosamente ardido:
su cuerpo dejará no su cuidado;
serán ceniza, mas tendrá sentido;
polvo serán, mas polvo enamorado.
AMOR CONSTANTE ALÉM DA MORTE
Cerrar irá meus olhos a derradeira
sombra que me levará o branco dia,
e desatará minh’alma na umbria
agora a seu afã ansioso lisonjeira;
mas não, dessoutra parte, na ribeira,
deixará a memória, aonde ardia:
nadar sabe minha chama a água fria,
e perder o respeito a lei severa.
Alma a quem todo um deus prisão há sido,
veias que humor a tanto fogo hão dado,
medulas que hão gloriosamente ardido:
seu corpo deixará, não seu cuidado;
serão só cinza, mas terá sentido;
pó se tornarão, mas pó enamorado.
«As palavras dos poetas são um perigo para os ouvidos de homens que querem ser livres. Só o que fazem é criar fantasmas, que afastam os homens da contemplação da verdade.»
Obra Poética de Ruy Belo. Volume 3. Organização e Notas de Joaquim Manuel Magalhães e Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Editorial Presença. , p. 81
«E, no entanto, o próprio Hölderlin reconhece que, apesar da sua inocência, a palavra é o mais perigoso dos bens. O homem tem de a utilizar para testemunhar o que é. Ao lançar mão dela, expõe o seu ser, isto é, põe-no a descoberto e arrisca-o, nos dois sentidos que esse verbo tem.»
Obra Poética de Ruy Belo. Volume 3. Organização e Notas de Joaquim Manuel Magalhães e Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Editorial Presença. , p. 81
«desfraldar as palavras»
Obra Poética de Ruy Belo. Volume 3. Organização e Notas de Joaquim Manuel Magalhães e Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Editorial Presença. , p. 80
terça-feira, 10 de novembro de 2020
domingo, 1 de novembro de 2020
«teoria de uma só resolução»
Mao Tsetung. Sobre a prática. Sobre a contradição e outros textos. Textos Políticos. 1ª Edição, 1974. Editorial Minerva., p. 160
Disse-te adeus e morri
Disse-te adeus e morri
Aceitou novas marés.
Gritos de búzios perdidos
Roubaram dos meus sentidos
A gaivota que tu és.
Que não sente as madrugadas
E acorda à noite a chorar.
Gaivota que faz o ninho
Porque perdeu o caminho
Onde aprendeu a sonhar.
O meu triste respirar
Sofre a invenção das horas,
Pois na ausência que deixaste,
Meu amor, como ficaste,
Meu amor, como demoras.