segunda-feira, 28 de setembro de 2020

 17 – Como mulher hoje, o que lhe ocorre dizer de mais importante sobre os anos 50 em Lisboa ao nível da educação feminina? E da mulher intelectual e/ou artista? Gostaria que se referisse à sua experiência pessoal. 

17 – Levei décadas a aperceber-me de que grande parte do meu sofrimento existencial tinha origem na educação que recebera e que essa 15 educação não fora apenas um problema meu, mas o resultado de toda uma conjuntura histórica, de todo um quadro social e sociopolítico. O sofrimento da mulher na família e na sociedade está relacionado como papel (leia-se: valor) que nela lhe é atribuído. Por outras palavras, está relacionado com o grau de independência e afirmação que lhe é concedido. Eu não rejeitei a minha condição de mulher: casei, tive uma filha, quis ter família. Mas o que acima de tudo quis foi ser uma pessoa, ser eu própria. Tive que pagar um alto preço por esta minha singularidade.


 Entrevista a Ana Hatherly

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