segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O Despertar do Funâmbulo


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AMÉRICO RODRIGUES
O Despertar do Funâmbulo

CD audEo fds002

  1. Ainda
  2. Estilhaços
  3. Voz Sal
  4. De Va Gar Ar
  5. O Incerto Insecto Tu
  6. O Fio das Vozes
  7. À Espera de Quê Não Sei
  8. Um Barco de Pedra
  9. Longe do Gato Que Acto Seguinte
  10. Não
  11. O Fim Último
  12. Afflicção

Américo Rodrigues - voz, poesia sonora, flauta eunuca
José Oliveira - percussão
Rodrigo Pinheiro - piano
Gregg Moore - trombone, tuba
Élia Fernandes - harmónio, piano
Nuno Rebelo - guitarra eléctrica, electrónica
José Galissa - kora
Jean-François Lézé - percussões aquáticas, percussão
Patrick Brennan - saxofone alto
Nirankar Khalsa - flauta, percussão, assobios

Direitos reservados por Américo Rodrigues (SPA)
Gravado ao vivo, excepto «Estilhaços» que foi gravado em estúdio
Produção: Miguel Rainha
Masterização: Helder Brazete
Desenhos originais: Maria Lino
Tratamento de desenhos e grafismo: Sérgio Gamelas
Produção executiva: Luís Freixo

Agradecimentos: Catherine Daste, Élia Fernandes, Miguel Rainha, António José Silva/RUC, José Alberto Ferreira, Albrecht Loops, Sérgio Gamelas, Maria Lino, Galeria ZDB, Teatro Viriato, Enzo Minarelli, Philadelpho Menezes
Reservados todos os direitos do produtor fonográfico e do proprietário da obra gravada, sendo proibida a duplicação e a utilização não autorizada desta obra, no todo ou em parte.

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℗ & © SPA / AUDEO

''A história da poesia sonora divide-se entre quem usou a palavra na sua integridade (vejam-se os Futuristas italianos e os Dadaístas) e quem a violou, aniquilando-a e reduzindo-a a pura papa fonética (vejam-se os Futuristas russos e os Letristas, até aos produtos típicos da poesia sonora da era do pós guerra).
    Ora, o caso de Américo Rodrigues é, sem dúvida, interessante por múltiplas razões.
    Diga-se desde já que o seu trabalho se enquadra, sem dúvida, dentro do segundo filão. Mas há que ter muita atenção ao avaliar a fundo o seu esforço sonoro, porque é de facto um verdadeiro esforço. Basta ouvir os seus CDs e ver a sua performance para compreender que o seu é um verdadeiro esforço corporal.
    Não estamos perante exemplos de linguagem triturada, ele não tem necessidade de partir da linguagem, não precisa. Neste sentido podemos dizer que amplifica algumas intuições já tidas por Hugo Ball ou Raoul Hausmann, no início do século: o potencial é bucal. E, de facto, Américo Rodrigues mostra a musculatura da boca, todos os ruídos que o aparelho bucal pode fazer. É o próprio corpo que fala a sua linguagem primitiva, numa situação pré-babélica, onde o tudo e o nada se tocam. No seu caso a parte física da voz é o próprio corpo.
    A sua procura é canalizada para os extremos de um Jaap Blonk ou de um Nobuo Kubota e para o já feito por um Paul Dutton ou Valeri Scherstianoj. E, deste ponto de vista, está perfeitamente legitimada. É de notar que o seu trabalho tem uma ponta de agressividade que, em nosso entender, é necessária para desenvolver um forte impacto no ouvinte-espectador.
    Estamos, por fim, felizes que da terra lusitana, através de um trabalho raro de poesia sonora, tenha finalmente nascido um poeta semelhante que desdobra a poesia sonora, de um modo tão puro e tão original, sem suportes electrónicos (como era o caso da vídeo-poesia de Melo e Castro) e sem suportes visuais (como nas performances de Fernando Aguiar). Na verdade Américo Rodrigues entrega-se ao poder da sua garganta, sem truques nem enganos, para encantar, estontear e seduzir o público.

Enzo Minarelli


A poesia sonora de Américo Rodrigues se inscreve na linha da poesia fonética, cujas origens, situadas nas vanguardas históricas, estão sendo hoje revisitadas. A poesia fonética atentava para as particularidades sonoras que os fonemas possuíam e procurava criar com eles combinações sonoras que prescindiam da existência das palavras. Uma variação dela se deu no "grito ultraletrista" dos anos 50, em que as possibilidades do aparelho fonador eram exasperadas e levadas a extremos. A poesia de Américo Rodrigues se insere positivamente dentro dessa tradição, mas sua contribuição não é mera continuidade mecânica.
    Américo Rodrigues está primeiramente inventando a poesia portuguesa que, assim como no Brasil, graças ao concretismo, inexistiu no percurso da experimentação poética. E a sua invenção da poesia sonora portuguesa trás ao menos três características ricas que se interpenetram: a apropriação de um ruidismo tipicamente contemporâneo, ligado ao som da voz gritada no universo dos espectáculos de música de massas; a sensibilidade rítmica de trabalhos construídos sob influência de uma fala ibérica em que se combinam as línguas neolatinas com a pulsação da fala e do canto árabe e mourisco; a prática de trabalhar a poesia versificada como fonte de produção de poemas sonoramente experimentais. A poesia sonora portuguesa, assim, sob invenção e intervenção de Américo Rodrigues já se projecta como evento particularmente enérgico e vivo no ambiente da poesia sonora internacional.

Philadelpho Menezes

Dados da Porbase [Biblioteca Nacional de Portugal] > O despertar do funâmbulo (Registo sonoro) | PUBLICAÇÃO: (D.L. 2001) : Audeo Porto

Ligação externa > http://www.audeo.pt/fds002.html
CiberKiosk
Há pouco mais de um ano, a propósito de um espectáculo de Américo Rodrigues, expressei o voto de que a efémera experiência desse trabalho nos chegasse fixada e reprodutível num contemporâneo cd. ... Eis que se lança, finalmente, um registo gravado do seu trabalho, também o primeiro editado em Portugal nesta área. ... Mas nada de ilusões ou alarmes: o trabalho de Américo Rodrigues, recusando esgotar-se em fórmulas simples, continua a afirmar-se como trabalho poético, alquimia de cadências onde palavra e voz sempre se cruzam. ... Creio ser este o momento ideal para sublinhar o ganho expressivo que decorre das específicas circunstâncias de produção a que a poética sonora de Américo Rodrigues se submete, isto é, as que resultam da contaminada relação com as linguagens do palco e as da música, contaminação nunca enjeitada pelo autor. ... Em Portugal, Américo Rodrigues ocupa assim um lugar que bem pode e bem merece ser apontado como único. Sem reproduzir fórmulas, antes procurando sempre reinventá-las... ... É hora de ouvir o despertar do funâmbulo.
José Alberto Ferreira

Jornal de Letras
Organizador do Festival Ó da Guarda, um dos três actualmente dedicados em Portugal às músicas experimentais, responsável do grupo de teatro Aquilo e um particularmente activo animador cultural na edilidade da Guarda, Américo Rodrigues tem-se destacado também pela forma invulgar como associa a poesia fonética com o canto improvisado. Nesta estreia discográfica, quase só constituída por temas interpretados ao vivo, encontrámo-lo em diversos contextos instrumentais, proporcionados por músicos como Gregg Moore, Nuno Rebelo, José Galissa, Jean François Lézé e José Oliveira... ... A abrangência da opção é um dos (muitos) pontos fortes do trabalho, sempre balizado entre a visceralidade de um Phil Minton e a glossolália de Jaap Blonk. ...
Rui Eduardo Paes

No Man's Land
Mit Unterstützung verschiedener Musiker entführt uns Americo Rodrigues in seine Welt der Sound Poetry, die in der Tradition der italienischen und russischen Futuristen und der Dadaisten steht. Rodrigues gebraucht keine Texte in irgendeiner Sprache, er nutzt eine primitive Sprache wie in einer Nach-Babel-Situation, wobei er jedoch desöfteren die Sprachmelodien einzelner Sprachgruppen (arabisch, maurisch, iberisch,...) einfließen läßt. Ähnlich Jaap Blonk, Nobuo Kubota, Paul Dutton, Valeri Scherstianoj und Phil Minton lotet er die extremen Möglichkeiten der menschlichen Stimme aus.

O Interior
Metamorfoses vocais, improvisações musicais, materializações na e pela voz, inquietações poéticas, estilhaços sonoros. De tudo isto e de algo mais é feito o corajoso primeiro disco de poesia sonora editado em Portugal - «O Despertar do Funâmbulo». ... Américo revela-se um notável «intérprete de voz». O registo «O Despertar do Funâmbulo» é pois um corolário de intrincados jogos semânticos, de erupções viscerais de intensidade (dramática, até) no «sentir» e no «dizer» a poesia, de libertação da linguagem (e a «linguagem é um vírus», dizia a performer/cantora Laurie Anderson). A improvisação musical é apoiada por um naipe de inventivos músicos com os quais Américo tem colaborado nos últimos anos e que possuem o instinto certo de complementaridade com o trabalho do poeta. ...
Victor Afonso''

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