quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Nova proxémica pós pandemia


Nova proxémica pós pandemia

''No ano de 1963, o antropólogo americano, Edward T. Hall, apresentou o estudo da Proxémica, que tem como proposta a organização dos limites de distâncias nas relações humanas. Tais noções de distanciamento sempre fizeram parte de nossa vida praticamente em todos os tempos da história humana, tanto no oriente quanto no ocidente. Mas, na década de 60, Edward T. Hall, por sua vez, divulgou seu estudo indicando 4 tipos de distâncias humanas: Íntima, Pessoal, Social e Pública.

Sua tese foi muito validada por outros estudos, tais como o da PNL (Programação Neurolinguística), e, ainda, em áreas comportamentais como a do Rapport, dentre outros temas. Mas, de um modo geral, a Proxémica foi facilmente reconhecida e praticada em todas as ações de nosso dia-a-dia.

No campo da neurolinguística, bem como nas relações afetivas (Rapport), a Proxémica fundamentou questões muito relevantes sobre a linguagem corporal, com base no conceito de que o nosso corpo diz mais sobre nossa personalidade aos nossos receptores do que as nossas palavras.

Vejamos abaixo as medições e as características sobre cada distância:

Distância Íntima: 15 a 45 centímetros, entre emissor e receptor. Muito comum entre casais e familiares.   Sobretudo, indica uma relação de confiança entre as pessoas que praticam tal aproximação.

Distância Pessoal: 45 a 120 centímetros (reuniões corporativas, negócios, festas, encontros entre amigos).

Distância Social: 120 a 360 centímetros. Esta é a distância que praticamos quando estamos caminhando, por exemplo, sobre uma calçada de rua entre outros pedestres, ou quando estamos parados, de pé, em uma fila de banco.

Distância Pública: acima de 360 centímetros. Geralmente, também é a distância praticada quando passeamos nas ruas, mas, também, é utilizada por palestrantes, professores, oradores, mestres de cerimônia. Acontece, ainda, em casos onde há um emissor ou mais, posicionado (s) para um grupo de receptores.

Em escala,  podemos qualificar a Proxémica da seguinte forma: distância íntima (casais e familiares), distância pessoal (amigos), distância social (conhecidos) e distância publica
(desconhecidos).

Com base nestes 4 tipos de distâncias, torna-se muito relevante termos consciência de tais espaços, para obtermos sucesso em nossos relacionamentos. Por exemplo, tanto nas relações familiares quanto nas profissionais, precisamos respeitar as distâncias entre nós e os nossos receptores. Esta consciência aplicada pode fazer muita diferença, em nossas relações.

No campo dos negócios, vendedores transitam entre todas as distâncias, podendo, ora se aproximar mais de seu cliente, outrora se distanciar. Mas, conforme vimos nos tópicos acima, a distância social é a mais adequada para as mais diversas situações de negócios.

Entretanto, existem serviços que são muito humanizados, e que necessitam um avanço na Proxémica. Desta forma, profissionais devem ficar atentos em suas abordagens e atendimentos. Especialistas do mercado de estética, por exemplo, que necessitam encostar em seus clientes durante suas atividades de atendimento, muitas vezes, os perdem, em processos que são, até mesmo, inconscientes. Por outro lado, os ganham quando aplicam com assertividade a Proxémica. Neste contexto, muitos salões de beleza, já orientaram suas equipes, através de diversos treinamentos, a sempre darem um curto intervalo de tempo, após um longo período de atividade que fora ininterrupta, tal como após um trabalho realizado nos cabelos ou na face de um cliente. A mesma estratégia já fora utilizada por profissionais de educação física, professores de aulas particulares, dentre outros segmentos.

Ainda no campo das negociações, - apenas o avanço no limite da distância mínima, pode gerar um mal-estar no cliente, e, assim, fazer com que o profissional perca o negócio, apenas por este detalhe neurolinguístico, relacionado à linguagem corporal.  Mas, novamente, em um caso contrário, um vendedor pode despertar bastante interesse em um cliente apenas por praticar um distanciamento estratégico.

A Proxémica está presente na vida humana, em muitos casos de maneira inconsciente.  Na atmosfera da distância pública, por exemplo, se caminhamos em uma rua, e alguém se aproxima demais, naturalmente, entramos em alerta (cérebro reptiliano). Isto acontece porque a pessoa ultrapassou o limite, do que era para ser uma distância pública, para uma distância social.

No campo da neurociência, podemos conjugar a Proxémica com o estudo do cérebro trino (emocional, racional e irracional). Nesta conjugação, é correto afirmar que as distâncias íntima e pessoal estão mais relacionadas ao nosso sistema límbico (emocional), através das nossas relações de confiança, com familiares, amigos e cônjuges.

Já, a distância social, que envolve lugares em que fazemos mais medições entre os espaço físicos que transitamos entre pessoas que conhecemos, está mais relacionada com o nosso neocórtex (racional).

Por fim, concluindo o cérebro o trino, o terceiro cérebro é o reptiliano, que, conforme no exemplo visto mais acima, se conjuga com os espaços existentes entre nós e pessoas desconhecidas em espaços públicos.

Historicamente, estes sempre foram os fundamentos do estudo da Proxémica, de forma cartesiana, com plena conjugação prática, na vida humana. Todavia, após a grande pandemia do Coronavírus, disseminada, quase em todo o planeta, no início do ano de 2020, é correto afirmar que diversos valores, crenças e hábitos serão ressignificados. Dentro dessas novas mudanças, inevitavelmente, a Proxémica também terá sua prática remodelada.

Com base nas orientações e prevenções de saúde emergentes da pandemia e de seu processo de quarentena, tais como o uso de máscaras e os processos de distanciamento e de isolamento social, naturalmente, estas novas demandas remexerão com a Proxémica humana, engendrando uma nova Proxémica pós pandemia..

Se analisarmos este embasamento pandêmico podemos prever que, no mínimo,  o espaço que antes era indicado, pelo estudo da Proxémica, como a distância publica, agora, começa a ser praticado como uma nova distancia social;  o que antes era indicado como a distância social agora torna-se a distância pessoal; e, por fim, o que antes era a distância pessoal agora tende a ser a distância íntima. Essa remodelagem ganha mais vigor nas relações entre jovens e idosos, ou entre pessoas que são consideradas grupos de risco, tais como, as que possuem doenças preexistentes, dentre outras.

No seio familiar, - onde mais praticamos as distâncias íntima e pessoal, tais modelos começam a ser reajustados. Espaços físicos maiores estão sendo mais praticados, entre nós, e os pequenos, evitados. Atualmente, quanto mais distantes fisicamente daqueles que amamos, mais consideração demonstramos psiquicamente.

Esta nova conceituação da Proxémica deve ser praticada, também, no campo social e profissional, bem como entre as distâncias social e pública, tanto quanto entre vendedores e clientes, e entre amigos e parentes, para que haja, entre todos, um reconhecimento sobre uma nova consciência a respeito do próximo, em um contexto geral.

É importante salientarmos que, certamente, pós-pandemia, nada será como antes, mas, embora estejamos mais distantes fisicamente, e a prática da Proxémica tenha alargado mais nossas distâncias típicas, estamos mais próximos psiquicamente, mediante tudo que estamos vivenciando com esta pandemia.

Sobretudo, mesmo com o estudo da Proxémica sendo uma referência muito útil em todas as atmosferas de nossas vidas (intima, pessoal, social e pública), o conceito de distância nunca foi tratado somente com um significado físico concreto, mas, sim, também, de forma psíquica e abstrata. Empiricamente, sabemos que podemos estar fisicamente ao lado de alguém, porém,   distantes psiquicamente, e vice-versa: distantes fisicamente e juntos psicologicamente.

Portanto, pratique uma nova Proxémica, de forma consciente e humanitária.''


2020

daniel@institutolascani.com.br
Jornalista. Publicitário (Estácio). Pós-graduado em Psicologia Analítica (PUC/Rio). Leader Coach, Life Coach e Business Coach do IBC - Instituto Brasileiro de Coaching. Coautor do Livro - O Impacto do Coaching no Dia a Dia. Apresentador dos canais BusTV e TV Max. Colunista e Consultor da Catho. Colaborador da Revista Psique (Brasil, editora Escala). Autor e Palestrante do projeto social - Comunidade Profissional; Diretor do Instituto Lascani.


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