segunda-feira, 13 de julho de 2020



«(...); um rosto de deserção, murcho e contrito: era o rosto , que ela amara, imaturo e pervertido, de um homem, se homem inteiramente se lhe podia chamar, incompleto e desgraçadamente deslumbrado consigo próprio, empolgado por uma intranquila vocação de experiência e de mudança, que lhe não permitia fixar-se em ninguém, em coisa alguma. Estrago com facilidades, desde a infância pródiga, e ainda justo, ainda generoso, mas vacilante, no fim daquela adolescência desbaratada em jogatinas, em bilhetes de cafés, em cinemas de matar o tempo, perdido em colecções de amorios até ao fastio, entre os seios de meninas radiofónicas, de coristas, de americanas estéreis em busca de macho, sem um ideal qualquer, bastante forte para o polarizar.»


Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 71/2

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