domingo, 10 de maio de 2020

DEPOIS DA CHUVA

Do meu quarto posso ver uma pequena parte da cidade. Os prédios parecem palafitas. Depois da chuva posso ouvir a maré que empresta luz às paredes dos edifícios. O sol desmorona lentamente, corrediço e escarpado. Pessoas tentam cruzar a rua inundada de luz. Tudo parece concentrado numa pequena área. Os cotovelos cravados na janela. A estopa enegrecida das nuvens faz água. Fisionomias esmigalhadas. Um cone de luz bate como uma britadeira contra o solo. O sol calcifica onde uma rua corta a outra. Os delicados cílios de um domingo. Carretéis de luz.



Inimigo Rumor. Augusto Massi. Livros Cotovia., p. 91

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