domingo, 4 de agosto de 2019

INCÊNDIO


Uma nuvem ténue...um encarquilhar sombrio...
gotas de lume correndo e fugindo...
num novo encarquilhar...treva caindo...
e no fim só um cheiro agreste e frio.

O resto que ficou?...Não sei. Perdi-o:
A minha vida a outros foi sorrindo,
noutros olhos os meus foram dormindo... -
não se pode viver sempre vazio...

Tudo se encontra procurando bem
e se a vida não é um vai-e-vem
a cor do dia é uma questão de céu...

Aquele incêndio? Ali? ... Não é comigo.
Vê!...Ele segue um caminho que eu não sigo,
que nunca foi! nem há-de ser o meu!

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 16

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