sábado, 1 de setembro de 2018

para aqueles cujo coração é o coração da terra e 
do vento e do mar
e por isso são filhos da terra e do vento e do mar,

é este livro.

para os que regressam um dia e tudo se perdeu
enlouquecendo depois pelos caminhos do litoral e da 
noite,

é este livro.

para eliot e pound, whitman e pessoa, shelley e 
algumas gerações,
as belas malditas e perdidas gerações

é este o livro.

para cavalo louco e billy the kid,
vagabundos de sempre              bêbedos ternos    e
mestre desaparecidos,
cantores dos campos                  e tocadores antigos,

é este livro.

para ti                 filho do norte e do sul
de todos os silêncios    de todas as casas      de todas
as tardes,
irmão do fogo e da flor ardente,
companheiro de setembro        e maio           e dezembro,

é este livro.

para aqueles que vão sobre as ondas e no deserto e
no azul
perseguindo a nuvem        e o sol         e a ave,
derradeiros  viajantes de muitas migrações,

é este livro,

daqui lisboa        onde arde e morre           o coração.


José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., pp. 7-8

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