quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

BALADA DA NOSTALGIA INSEPARÁVEL




Sempre esta nostalgia, esta inseparável
nostalgia que tudo afasta e modifica.
Diz-mo tu, árvore.

Olho-te. Olhas-me. E já não és a mesma.
Nem é o mesmo vento que te está a açoitar.
Diz-me tu, água.

Bebo-te. Bebes-me. E já não és a mesma.
Nem é a mesma terra a da tua garganta.
Diz-me tu, terra.

Tenho-te. Tens-me. E já não és a mesma.
Nem é o mesmo o sonho de amor que te possui.
Diz-mo tu, sonho.

Tomo-te. Tomas-me. E já não és o mesmo.
Nem é a mesma estrela que está a adormecer-te
Diz-mo tu, estrela.

Chamo-te. Chamas-me. E já não és a mesma.
Nem és a mesma noite clara quem te queima.
Diz-mo tu, noite.



Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 279/80


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