domingo, 3 de dezembro de 2017

“Coisas inteligentes, belas e sutis me ocorrem aos montes, mas toda vez que preciso pô- las em prática elas não dão certo ou me abandonam, e lá fico eu, com cara de jovem aprendiz incapaz de aprender”, diz um dos personagens, Helbling, um deslocado funcionário de banco às voltas, o tempo todo, com seus desajustes no mundo:

Estou de facto doente? Tem tanta coisa errada comigo, falta-me tudo na verdade. Seria eu um homem infeliz? Possuiria predisposições incomuns? Seria uma espécie de doença ocupar-se continuamente, como faço, de questões como essas? Seja como for, não é coisa muito normal. Hoje, mais uma vez cheguei ao banco com dez minutos de atraso. Não consigo mais chegar no horário correto, como os outros. Na verdade eu deveria estar sozinho no mundo, eu Helbling, e nenhum outro ser vivo. Nenhum sol, nenhuma cultura, eu, nu, no alto de um rocha, nenhuma tempestade, nem uma única onda sequer, nenhuma água, nenhum vento, nenhuma rua, nenhum banco, nenhum dinheiro, nenhum tempo, nenhuma respiração.''

WALSER, Robert: A história de Helbling. In: Absolutamente nada e outras histórias. (tradução de Sérgio Tellaroli) São Paulo, Ed 34, 2014.

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