domingo, 3 de dezembro de 2017

Benjamin pergunta ainda: “de onde vêm os personagens de Walser”? E, responde:

 ''Eles vêm da noite, quando ela está mais escura, uma noite veneziana, se se quiser, iluminada pelos precários lampiões da esperança, com um certo brilho festivo no olhar, mas confusos e tristes a ponto de chorar. Seu choro é prosa. O soluço é a melodia das tagarelices de Walser. O soluço nos mostra de onde vêm os seus amores. Eles vêm da loucura, e de nenhum outro lugar. São personagens que têm a loucura atrás de si, e por isso sobrevivem numa superficialidade tão despedaçadora, tão desumana, tão imperturbável. Podemos resumir numa palavra tudo o que neles se traduz em alegria e inquietação: todos eles estão curados. Mas não compreenderemos jamais como se processou essa cura, a menos que nos aventuremos no seu ‘Branca de Neve’, uma das mais profundas criações da literatura moderna, que bastaria para entendermos por que Walser, aparentemente o menos rigoroso dos escritores, foi o autor favorito do implacável Franz Kafka.''

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