O século XX,
ó grande era do spútnik,
como é grande a tua tristeza e mortificação,
tu - século generoso,
e canalha também,
século que assassina as nossas ideias,
século de uma juventude furiosa.
Os jovens estão extremamente furiosos.
Os seus olhos brilham de desdém pelo seu tempo.
Desprezam os partidos,
o governo,
a igreja
e as previsões dos filósofos.
Desprezam as mulheres
com quem dormem,
o mundo dos bancos
e escritórios.
Desprezam
com dolorosa perspicácia
o seu próprio lamentável desprezo.
O século XX não é pai para eles - mas padrasto.
Detestam-no muito,
enormemente.
E um fermento negro
denso
nos jovens cáusticos junto do Hudson;
e junto do Tibre,
do Sena,
e do Tamisa
os mesmos jovens passeiam tristemente.
Duros,
taciturnos,
deformados,
Como se não pertencessem ao seu tempo...
Eu sei bem -
o que eles não querem.
Só o que eles querem -
não sei compreender.
Certamente a sua crença jovem
não será apenas
praguejar!
De onde estou agora,
em Moscovo,
falo-lhes francamente
de homem para homem:
se alguma coisa me põe furioso,
não é porque em mim
haja uma triste descrença,
mas porque grito alto o amor pelo meu país.
Se alguma coisa me põe furioso -
é porque me orgulho
de estar com os amigos,
de estar nas fileiras,
de estar no combate
pelo meus direitos!
Que se passa convosco?
Procuram a verdade?
'Psicose das massas, ' -
suspiram os psiquiatras.
Jovens vagueiam tristes pela Europa.
Pela América vagueiam jovens tristes.
Ó século XX,
ó grande era do spútnik,
arranca-os às sombras e à confusão!
Não lhes dês uma comodidade plácida -
dá-lhes fé
na justiça
e no bem.
Eles são teus filhos
e não teus inimigos.
Ouves,
século XX?
Socorro!
Yevgeny Yevtuschenko. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 160-162
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