domingo, 9 de julho de 2017

Esta mulher, dormindo
Mais um dia que se ajoelhou de faca na boca.
Esta mulher em máximo equilíbrio, sorrindo como uma estátua.
Esta mulher feita de carne e sono, embrulhando os filhos por estrear
Falhou em tudo e ri-se, de carvão a cercar o estômago
As narinas muito abertas à procura do ar
As pernas tranquilas para o outro lado do corpo
Uma dor de furar cidades numa cara adolescente, estreita,
entre dois olhos
É mesmo ela, sem dúvida,
esta mulher de diversão para qualquer dia
um gesto desajeitado para qualquer ombro
o maior esquecimento da família, até aos domingos
E volta a cara para outro lado, de preferência à procura da luz
Não lhe resta nenhuma paciência, declarou a guerra perdida
a vida é pouco mais que a humidade desta sala e morte lenta por silêncio
Mas há-der vir uma desculpa que lhe baste para o nojo de estar
desperta
e o cheiro contínuo a orfandade

Cláudia R. Sampaio

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