domingo, 14 de agosto de 2016

Sempre mar



para a Antonieta


Mar vezes quando o sol nos enche os olhos
e nos promete mais vezes no olhar
fecham-se os olhos no rolar do tempo
de ver andar o antes e o depois
numa miragem que se chama mar
Mar prometendo mais vezes de vermelho
luz transformada num redondo
esquivo
um sol de devagar como descendo
da guerra sem estrondo
na lúcida mutação
de sempre mar.

E a tarde é todo um fim
um beijo tão molhado despenteado
como uma boca a tua boca à beira-
-mar depois das ondas e diferente
princípio de um começo como a noite
antes de o sol se adormecer aquático
formam-se linhas como os pensamentos
linhas carícias que nos fazem ver
que entre os passos da areia e os nossos movimentos
há sempre um pôr-do-sol
de um sol para nascer.

(1977)
Cinco vezes onze poemas em novembro, 1984



Manuel Rui in 50 Poetas Africanos. Plátano Editora, 1ª Edição, Lisboa., p. 112

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