segunda-feira, 8 de agosto de 2016

RETRATO DE NATÁLIA


 

 Hierática     cromática     socrática
 passas branca de neve pela sala
 nebulosa da pele     via láctea
 do único percurso que nos falta.

 No teu andar há ventres há tecidos
 de leve lã      circuitos do brocado
 duma seda tecida na manhã
 dos raios dos teus olhos deslumbrados.

 Nos teus quadris há cisnes há pescoços
 de virgens degoladas     há indícios
 do alabastro quente dos teus ossos
 iluminando claros precipícios.

 É isso. Uma vestal iluminada
 uma deusa rangendo uma secreta
 porta barroca aberta para o nada
 que é o docel da cama do poeta

 Ali deitas crianças      animais
 gemidos e maçãs      vagidos e atletas
 pois que amas as coisas naturais
 com a tua carne impúbere e erecta.

 Porém tu acalentas      tu alentas
 nossa senhora lenta      mãe do escândalo
 ave de carne      lírio de placenta
 com aroma de nardos e de sândalo.

 Desinfectante e amante eis que transformas
 em teus olhos de cânfora as orgias
 e o teu corpo ânfora é a forma
 em que a lira da noite vaza o dia.

               José Carlos Ary dos Santos, Fotos-Grafias, 1970.

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