quinta-feira, 23 de junho de 2016
23
Dispõe as aves, todas as aves no seu lugar,
à beira-mar, do lado sombrio das dunas. Os sentimentos
são decididos, duram, duram longas horas, o vento da tarde,
sob os olhos da água, sob a dureza de novembro.
Dispões o percurso das aves,
as estradas
que se repetem pela noite, as grandes migrações.
As gares, as cidades que significam para ti,
as aves sobre as ilhas, outras ilhas, a paisagem
que temos à nossa volta, que significa para ti,
repentinamente por que não cantamos a força de tudo isto?
Em novembro os segredos são mais vivos. As mãos
tombam sobre os joelhos,
debaixo da janela gostamos de falar, a imagem dos peixes,
o cheiro das algas de madrugada, a chuva quando cai devagar
alastrada a toda a praia.
Tudo isto acontece, as mãos perdem-se
ao longo do corpo, oh como gostamos de falar,
como gostamos tanto de falar.
João Miguel Fernandes Jorge. Poemas Escolhidos. Cadernos peninsulares/literatura 21., 1982., p. 19
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