ISSO, A WALTER
E vivo que me queres - matarás-me
se vivo te disser que me vi morto?
O cano da pistola tenta um vivo.
Assim eu só voltei para contar-te
que entre o vivo e o morto arrefeceu
aquilo que tu chamas céu da boca,
chão da morte no vivo, terrapleno
disposto para a casa duma bala.
Tu vivo me querias? Porém morto
venho de merda, sangue, frio, pó,
que é a vida que fica dessa morte
na pistola arrependida, na pistola.
Cala já. Não perguntes. Tenho medo
que ao som da tua voz acabe a minha.
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 69
Sem comentários:
Enviar um comentário