segunda-feira, 9 de novembro de 2015
"Imagem de juventude e aparente felicidade
ou, pelo menos, de irresponsável alegria,
que regressa tenaz à memória,
mesmo ao recordar que quase tudo foi mentira.
Nem velhos, nem jovens, mas sabíamos
que enganar-nos, que repetir a farsa, era o único,
o mais digno que restava de nós mesmos.
Vodka transparente, os teus olhos escuros,
entreabertos, enquanto te despia,
o ranger da cama e o corpo a quebrar-se.
Depois, meio adormecido, recordo-te a sair
nua, debaixo da trémula lâmpada,
luz verde, escassa, sobre as árvores e a piscina,
sombra na sombra e um baque na água.
Estrondo de palmeiras e pássaros estridentes
enquanto beijo nos teus lábios gotas cálidas,
o teu cabelo húmido, a carícia dos teus dedos.
Os nossos dois corpos juntos, os que chegam agora,
actores sem trabalho, estandartes inúteis,
derrotada ficção na guerra do tempo."
-"Poemas"
- Juan Luis Panero
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