VI
«Penso que sou: e, assim pensando, sou.
Mas, sendo por pensar, eu sou quem pensa,
e, porque penso, de pensar não sou.
Eu penso apenas no que aflui em mim
do que pensado foi por outros que
nem sangue deles me nas veias corre.
E quanto de pensar se fez ideia
nega-me e ao mundo, não como aparência,
mas como imagem da realidade.
Real não é o que penso ou que imagino,
nem quanto o que essa imagem representa.
Real é tudo, menos eu pensando,
ou quanto de pensar-se o real é feito.
Deste não-ser que pensa eu tenho a voz.»
Jorge de Sena por Eugénio Lisboa. Colecção Poetas. Editorial Presença, Lisboa., p. 170
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