quarta-feira, 13 de maio de 2015


RODOLFE

Tens razão. As mulheres amaldiçoam de manhã e abençoam à noite, quando torna a amanhecer, voltam a amaldiçoar, para abençoar, outra vez ao meio-dia. É como o vento variável, sempre a soprar em direcções diferentes. As árvores já o conhecem e deixam-se ficar direitas, deixam-no passar. A minha maldição não é assim: é como um punhado de sal que se deita no chá, tornando-o para sempre intragável.


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 101