domingo, 28 de dezembro de 2014


(Arminda, como se nem desse pela saída de André, termina o relato olhando o público, como se não falasse para ninguém)

ARMINDA

Quando sonhei
Já Samuel partira
sem me dizer para onde ia,
e ali me deixou
alagada em abandono e solidão,
seminua entre caóticos lençóis,
o sol lá fora alto
depois dessa noite de álcool
em que o meu desespero acumulado
extravasara.
Durante dias, ainda
me perseguiu uma distante,
fosca,
tremente
e fugidia
imagem,
a face de Samuel fixando-me atenta
e calada na difusa luz do quarto.»




Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 99