terça-feira, 18 de novembro de 2014

A seguir, Andrew afastou-se a coxear, deitou-se e morreu.

«Depois, de repente, Andrew ferrava os dentes numa das patas traseiras do inimigo e nunca mais o largava. Não lhe dava dentadas, compreende? Não; somente não o largava durante o tempo que fosse necessário e pelo menos até os espectadores declararem o combate acabado. Quanto a Andrew, seria capaz de se aguentar um ano, se fosse preciso.
    Smiley ganhou todas as apostas que fez com este cão, até ao dia em que se lhe deparou um cão que não tinha as patas traseiras, as quais lhe haviam sido cortadas por uma serra circular. Quando o combate já durava há algum tempo e as apostas já tinham subido muito, o buldogue lançou-se sobre a presa favorita, mas percebeu imediatamente que o haviam enganado e que estava à mercê do adversário. Pareceu surpreendido e , desencorajado, não fez qualquer outra tentativa para vencer, nem sequer se defendeu e foi severamente derrotado. Lançou a Smiley um olhar triste, como que para lhe dar a entender que tinha o coração despedaçado, e por culpa do dono, que o tinha feito combater com um cão que tinha as patas traseiras, o seu alvo principal num combate. A seguir, Andrew afastou-se a coxear, deitou-se e morreu. Era um bom cão, esse Andrew Jackson. Se tivesse vivido mais tempo, teria sido famoso, pois possuía estofo e génio.
 
 
Mark Twain. Contos Humorísticos Anglo-Saxónicos. Edições Amigos do Livro, Lisboa., p. 16/17