sábado, 27 de setembro de 2014

LUTA PELO FULGOR QUOTIDIANO

"Sem observar, possuí o plano do teu corpo...
e assim se extinguiu uma cidade
se estrangularam as pombas a distância.


Nunca mais direi a cor das veias
como era tecida a teia de membros que propus
- apenas esta rota sem final mas certa,
casualmente um ramo de flores sem sorriso
um fluir de cravos na penumbra
através da tua face triste, sortílega e cigana

a isto se chama saudade
a isto está morto o tacto
sem que a órbita da terra se transtorne
antes que seja tarde muito tarde

Ocorrem-me palavras: lua flutuar sereno.
Deixaram porém a sua direcção exacta
nas folhas que o Outono carboniza
como estar só é a força flexível
de tudo que se toque, e abandone.

As torres destinaram-se ruínas
-tudo se consumou sem assistência.

Onde a vida me vá eu a prossiga
com um indício irracional perfeito,
pois com o tempo os remos submergem
sempre ao mesmo nível fatigado
transeunte e rítmico
musical, nem triste, e concludente."


Manuel de Castro. Bonsoir, Madame